O bebê nasceu, e agora? Conheça 10 benefícios da hora de ouro para o resto da vida

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Esse texto é pra você que está grávida e se preparando para um parto normal, pra você que vai passar por uma cesárea, seja ela eletiva ou não, pros pais de bebês que ainda vão nascer, pra madrinha, pra avó, pra todo mundo. Sabe por quê? Por que as primeiras horas da vida de um bebê são fundamentais e todo bebê que nasce bem pode e deve ter sua hora de ouro, hora dourada, golden hour [ou seja lá como você chame essa hora da estrela] respeitada.

Eu poderia começar com a frase “respeitem a hora de ouro, independentemente da via de parto. Apenas respeitem”, mas vou voltar algumas casas no tabuleiro de xadrez da gestação e do parto pra que não reste nenhuma dúvida. A golden hour, expressão em inglês traduzida no Brasil como hora de ouro ou hora dourada, não dura exatamente uma hora. Pode ser bem mais, ou até menos, mas repercute no resto da vida. É o momento imediatamente após o nascimento do bebê, quando ele e a mãe costumam estar acordados e ativos, alertas. É o instante perfeito para o contato pele a pele, o toque, a voz, o cheiro, o carinho, o estímulo à amamentação. Nenhuma mãe esquece, nenhum bebê também. Lembrem-se: é a primeira vez que aquela mãe dá à luz àquele bebê, é a primeira vez que aquele bebê nasce. Eles precisam desse tempo pra se [re]conhecer.

Como ter uma hora de ouro perfeita?

Foto: CC0 Public Domain

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, todos devem promover o contato do recém-nascido com a mãe imediatamente após o parto. A Sociedade Brasileira de Pediatria concorda.

Um estudo realizado pela OMS em parceria com a UNICEF mostra que todos os anos 78 milhões de bebês não são amamentados na primeira hora de vida. Isso representa 3 a cada 5 bebês nascidos vivos, ou 60%. Um estudo realizado em Gana e publicado na revista Pediatrics, indica que é possível evitar 16% das mortes neonatais apenas adotando a amamentação no primeiro dia de vida. Essa taxa pode aumentar para 22% com a ampliação prática da amamentação na primeira hora de vida.

No Brasil, 65,6% mortes de crianças em seu primeiro ano de vida ocorrem no período neonatal e 49,4% na primeira semana de vida. A amamentação previne diarreia e pneumonia, duas das maiores causas de morte em crianças, diz a OMS.

Não é preciso tecnologia importada nem ambiente específico para promover a hora de ouro. Se mãe e bebê estiverem bem, a hora de ouro pode e deve ser respeitada e incentivada, seja no parto domiciliar, vaginal hospitalar, ou na cirurgia cesariana. As duas únicas coisas necessárias são o bebê estar com a mãe e eles estarem minimamente em paz.

A assistência pós-parto à mãe pode ser feita enquanto ela segura e amamenta seu bebê, inclusive em casos de cesárea. Na maioria dos nascimentos, a mãe e o bebê não apresentam contraindicações e podem permanecer juntos enquanto o obstetra conclui a cirurgia, ou faz a revisão de colo, espera dequitação da placenta (nascimento) ou realiza qualquer procedimento que não pode esperar. Já procedimentos como medir, pesar, e vestir podem esperar e contar com a presença (e o contato pele a pele) do pai.

Benefícios da hora de ouro

Foto: CC0 Public Domain

Além de ser um momento gostoso, a hora de ouro traz vantagens a longo prazo, que vão refletir no resto da vida daquele bebê (e da mãe também). O contato com o corpo da mãe inunda ela e o filho de ocitocina, gerando benefícios como:

  • Aumenta o vínculo afetivo entre mãe e filho;
  • Estimula o início precoce da amamentação e melhora as chances de sucesso no aleitamento;
  • Ajuda a controlar a pressão arterial, que, se estiver alta, pode evoluir para complicações graves como a eclâmpsia, síndrome de Hellp e problemas cardiovasculares, por exemplo;
  • Auxilia na diminuição do peso materno;
  • Diminui os índices de depressão pós-parto;
  • Favorece a colonização do bebê por bactérias boas da mãe, que vão ajudar ele a ficar protegido;
  • Reduz as chances de hipoglicemia (glicose baixa) e de hipotermia (queda brusca de temperatura corporal, especialmente nos bebês);
  • Diminui os riscos de hemorragia pós-parto para a mãe;
  • Melhora a imunidade dos bebês, diminuindo o risco de alergias futuras;
  • Regula os batimentos cardíacos do bebê, ajudando a diminuir o choro e o estresse.

Você pode perguntar: “mas Luiza, isso não pode ser depois não?” E eu vou responder: “esperar pra quê?”. Quanto antes o exército de bactérias do bem estiver instalado, menos chances as bactérias do mal terão. E o contato com essa flora bacteriana saudável pode ajudar a combater infecções e alergias. Se a hora de ouro for acompanhada da amamentação, combo perfeito! Assim a gente garante que os bebês tomem as primeiras vacinas antes mesmo de completar 1 hora de nascidos.

Hora de ouro na cesárea

Foto: Luiza Falcão

Esse contato é especialmente valioso pra bebês que nasceram por cesárea, já que não tiveram a chance de passar pelo banho de bactérias da flora vaginal (e perianal) da mãe. Infelizmente os bebês nascidos de partos cirúrgicos são os mais comumente afastados da mãe [e do pai] na hora mais importante da vida. Assim que o bebês nascem, eles podem ser colocados no colo da mãe enquanto a cirurgia continua. Não existem riscos comprovados deste contato e os benefícios são extremamente valiosos.

Na foto, Bento e sua mamãe linda Bruna. Esse foi um parto cirúrgico com hora de ouro respeitada.Teve beijinho, cheirinho, colinho, peitinho com um colostro dourado lindo. Depois Bento foi pro colo do pai. Tudo isso na sala de cirurgia, com os médicos terminando a cesárea tranquilamente e a doula [babando] do lado.

Pele a pele com o pai

A presença do pai neste início de relacionamento entre mãe-bebê ainda não é tão comum de se ver, mas é incrivelmente benéfica. E não, esse contato não precisa ser feito apenas quando o bebê nasce na banheira. O primeiro contato pode ser feito com a mãe e o pai pode estar aí do lado, acariciando a ambos, se enchendo de ocitocina junto, seja sentado na cama, atrás da banqueta, do lado da maca. Na cirurgia, o pai pode ajudar a segurar o bebê junto ao corpo da mãe enquanto ele mama, por exemplo.

Caso a mãe apresente contraindicações/intercorrências e precise de atendimento intensivo que inviabilize o contato pele a pele com o bebê na hora de ouro, o pai pode [e deve] estar presente na golden hour. Os benefícios são muito grandes para a relação de ambos, incluindo a colonização por bactérias boas, estabilização da temperatura e redução do cortisol (hormônio ligado a situações de estresse).

Hora de ouro não é [só] amamentação

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Agora que você já sabe o que é a hora dourada, deixa eu te contar que ela não serve apenas pra ensinar o bebê a mamar. Isso porque alguns bebês não vão querer ou poder mamar nesta primeira hora. Ou casos em que a mãe não quer amamentar, mas ainda assim deseja manter o contato pele a pele com a criança.

Existe ainda os casos onde a amamentação é contraindicada. É o caso das mulheres infectadas pelo vírus HIV, HTLV ou que fazem uso de alguns medicamentos muito específicos, que, no Brasil, são orientadas a não amamentar seus filhos. Já mulheres com dependência química de drogas que fizeram uso de drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack, anfetamina, ecstasy e outras) pouco tempo antes do parto, podem ser orientadas a não amamentar por um determinado tempo ou até que consigam um determinado número de dias de abstenção.

Em todos estes casos, a mãe e o bebê podem ser beneficiados do contato físico, do calor, do afeto. Nascer é uma jornada e tanto. A hora de ouro é uma excelente forma de recepcionar essa família novinha em folha.

Se você conhece outras histórias de superação, quer conhecer meu trabalho ou saber mais sobre gestação, parto e pós-parto, me segue pelo @luizafalcaodoula no Instagram ou clique aqui para ter acesso a informações exclusivas.  

Referências

CARVALHO, Marcos Renato, GOMES, Cristiane F., Amamentação – Bases Científicas, 3ª Edição, Ed. Guanabara Koogan

Unicef

https://www.unicef.org/brazil/pt/media_9993.html

Quando amamentar é contraindicado

https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/quando-amamentar-e-contraindicado/

Na Semana Mundial da Amamentação, ginecologista reafirma importância da Golden Hour

https://www.terra.com.br/noticias/dino/na-semana-mundial-da-amamentacao-ginecologista-reafirma-importancia-da-golden-hour,e694a2bbc46a429b9c3d8bc8c0cacc9a846iu2n1.html

PORTARIA Nº 371, DE 7 DE MAIO DE 2014. Ministério da Saúde.

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/prt0371_07_05_2014.html

Contato precoce pele a pele entre mãe e filho: significado para mães e contribuições para a enfermagem

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672010000600020

Effect of immediate and continuous mother-infant skin-to-skin contact on breastfeeding self-efficacy of primiparous women: a randomised control trial. Women Birth. Aghdas et al. (2014).

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24216342

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