Sobrevivemos: Ao parto, à gestação

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Depois de esperar até onde achamos que era seguro e por causa da diabetes gestacional, resolvemos internar para a indução na segunda, 21/11, com 40s4d. Saímos de casa meu marido e eu, por volta de 14h, tranquilos, sabendo que a hora havia chegado mesmo que de uma maneira um pouco diferente da qual havíamos imaginado… Sem o banho de 65 min, sem a dúvida da bolsa estourando em casa ou a adrenalina pra decidir a hora de ir ou não para o hospital depois de tentar colocar em prática tudo que conseguimos aprender na preparação durante a gestação.

Sobre esse relato

Parto da Leoa aluna PNP: Carol Reis

Bebê nasceu com:   40semanas e 4 dias,  3,445kg e  50cm

Nascimento foi: Hospitalar

Cidade/País: São Paulo – SP, Brasil

Como tudo começou

O parto seria com a equipe de plantão, mas meu convênio manda também a obstetra e uma obstetriz para acompanhar (isso fez toda a diferença mais tarde, já que eu não tinha equipe particular). Triagem, exame clínico, primeiro desafio “Posso fazer o toque?” perguntou a médica do PS. “Pode sim”, gaguejei eu, não por medo mas pq meu cérebro mandava falar algo sobre não romper as membranas mas eu meio que congelei. 

Impressionante como essa relação autoritária com médico está no nosso subconsciente, né? Veio um constrangimento de falar a minha vontade ali que me fez hesitar onde eu já devia estar no controle. O marido tava ali atento, na retaguarda… Deitei na maca e ao olhar pra ele vi a sobrancelha levantada mesmo de máscara enquanto a médica se preparava… Um aceno, um olhar a mais e entendi o apoio dele, ele já estava quase falando por mim, pq conversamos muito sobre. Saiu (já quando ela sentou no banquinho): “Dra, só não quero que rompa membrana nem nada, ok? Só o toque mesmo”. Ela consentiu, disse que claro. Marcou com a caneta na ficha pré formatada dps “Rompimento de membranas – X não”. Primeiro medo vencido com sucesso. 

Partimos para cardiotoco e ultra, tudo certo, papelada, chave do quarto, malas…Colocamos nosso enfeite de porta maternidade e batemos uma foto, plenos, arrumados e felizes.

Às 18h30 eu estava já na cama, com o primeiro comprimido pra indução colocado e o pedido de ficar por ali 1h deitada. Colo ainda duro, entre 1 e 2 cm de dilatação. Chegava o jantar do hospital para nós e a obstetriz nos dava as últimas orientações antes da troca de seu plantão. Basicamente para que tentassemos descansar ao máximo nesse primeiro “miso”(apelido do misoprostol), nos alimentar bem, porque possivelmente do 2º pra frente (que seria colocado por volta de meia noite e meia) eu poderia ter mais efeitos e ficasse mais incômodo, a madrugada poderia ser longa. Ela havia “conseguido” com a médica a liberação da dieta completa para mim, porque o hospital mandou um gatorade, uma agua de côco e um picolé de uva alegando que até o parto a dieta era líquida. Não fazia o menor sentido e naquele momento fiquei grata por ter na bolsa os quadradinhos de doce de leite e umas torradinhas conforme vimos no curso e também por ela estar ali pra ir brigar por nós e não termos que já comprar essa briga ali no começo do processo…

 

Nos despedimos às 19h e enquanto eu aguardava a próxima obstetriz chegar, comecei a sentir o que eu chamava até então de cólicas. Tipo de menstruação, foi o que eu disse quando a enfermeira veio checar se estava td bem. Eram 19h15. As benditas começaram a parecer ainda mais fortes e vinham e sumiam. Avisei meu marido e começamos a cronometrar… Uma a cada 10 min, mas conforme as 20h se aproximavam, os intervalos foram reduzindo pra cerca de 4 a 5 minutos, com uns 50s de duração. E a dor aumentando, uma cólica na altura da virilha, com algum repuxo na parte de trás do quadril, que quando vinha eu precisava agarrar em algo, parava de falar e respirava pra passar.

Achei que senti vontade de ir ao banheiro pro nº2, pensei que era melhor ir naquela hora (vai que eu evitava o cocô no parto hahah). Entre a cama e o banheiro parei duas vzs com os picos de dor e qd estava perto do vaso começou a escorrer um líquido transparente pelas pernas, sem parar e não era xixi… Bolsa estourada. Chamamos a enfermeira pelo botão pra sinalizar. Quis ir pra cama, mais picos de dor no caminho. Chega a enfermeira nº1, olha e diz que “deve ter rompido só um pouquinho, ainda tá longe, relaxa que indução demora”. “Mas a gente tá cronometrando as dores e tão assim e assado”, retrucamos em dúvida. “Ah… mas nem tentem cronometrar que cada corpo é um corpo”. 

Eu já estava frustrada. Se cada corpo é um corpo porque ela não estava me ouvindo? Olhando os sinais do MEU corpo? Porque eu estava ouvindo que indução demora, como um padrão? 

Eis que entra no quarto a enfermeira nº 2. Escuta o relato, passa o dedo na minha coxa e cheira o líquido. Pede para me examinar. Eram 21h mais ou menos. Deito na maca, incômodo. O veredicto e a correria pelo que ninguém estava esperando: “Ela está com 6 cm de dilatação. Fulana, chame beltrana e peça uma sala de parto. Papais, preparem-se que vamos descer, vcs já passaram da metade do caminho”.

Me senti meio atônita e assustada, porque estava ainda esperando o tal processo longo da indução. Mas ao mesmo tempo um pouco aliviada, porque finalmente alguém checou nossa desconfiança e confirmou o que estávamos achando… Que o trabalho de parto já estava rolando.

Fui levada de cadeira de rodas para essa outra sala de parto, onde poderia contar com recursos extras (chuveiro, bola, banheira). As dores pioravam, sempre ali no baixo ventre e atrás, até o cóccix. Levaram meu marido para se trocar enquanto me alojavam. “Podemos colocar o acesso venoso?”. Perguntei pra que e ouvi que era pra quando eu pedisse analgesia. Não gostei do determinismo da situação… Eles já esperam que isso aconteça e aí oferecem algo que ia restringir meus movimentos e que iam pedir para que eu não molhasse na banheira e etc… Recusei. Enfermagem pega veia em 10 segundos qd precisa. A segunda obstetriz do plano chega e lembro que a partir daí começamos pra valer a trazer meu Davi pro mundo. Já eram cerca de 21h30. Eu tentei me movimentar até onde deu, com a dor que vinha agora em intervalos as vzs menores que 3 minutos. Engraçado que eu esperava sentir dores na barriga toda, nas costas, mas o tempo todo foi cólica no baixo ventre, a “barriga” em si nunca doeu, as fisgadas e repuxos eram da linha da calcinha pra baixo. Quando elas apertavam eu, em pé apoiada na cama balançava o quadril pra esquerda e direita, pensava que podia ajudar na descida do bebê, que parto é movimento e orava pra Deus e pra Nossa Senhora da Gravidade pra esse menino ir pra baixo rs.

Aceitei ir pra banheira, que aliviou por um tempo… Até que o intervalo entre as dores quase inexistia e eu não conseguia mais nem falar com meu marido e a obstetriz. A obstetra chegou e se juntou a dupla.  Comecei a sentir muito calor ali e eu não lido bem com isso, minha pressão sempre cai… Por medo de isso acontecer comecei a ficar incomodada com a água e quis sair. Nessa hora eu sentia uma vontade incontrolável de morder, de apertar os dentes quando a dor pegava. Lembro de estar saindo amparada da banheira e ter me segurado pra não morder o ombro do meu marido haha. Pedi uma toalhinha e ganhei… Como aquilo me ajudava a lidar com o pico da dor eu não sei, mas funcionava demais. Pediram pra me examinar e eu consenti. 9 cm de dilatação. Eram 23h40.  Eu não sabia, mas em menos de 2h tudo acabaria. Não saí mais da maca, e se juntaram às dores uma pressão absurda misturada com dolorido em toda a região do bumbum. Colocaram uma barra de ferro pra eu segurar, pq notaram que eu procurava me apoiar quando vinha a dor… Tentamos a posição de lado e também de joelhos, apoiada no encosto, e eu não fiquei confortável. Acabei ficando meio em posição quase ginecológica mesmo, mas mais sentada e obviamente sem as pernas pra cima, livre pra me mexer. Chorei. Falei “socorro” algumas vezes (socorro pra quem né? haha), mordi mais pano e lembro das duas, obstetra e obstetriz num dado momento, com a maior calma e paciência, me falando que eu parecia estar direcionando a força para os braços e garganta na contração, e pedindo pra eu respirar fundo e ver se quando sentisse a vontade, me concentrasse no ventre… Os cabelinhos já eram visíveis mas não estavamos avançando. Lembro de tentar muito equilibrar todos os pensamentos pra entender o que elas explicaram e o que eu estava fazendo e de alguma forma começou a rolar. Eu estava em pleno expulsivo e a dor estava no seu máximo. Sentia o círculo de fogo e a pressão no canal anal de uma maneira que parecia insuportável. Até que lembro de ver meu marido feliz e chorando vindo me falar bem de perto “Saiu! Saiu! Acabou! Você conseguiu! Acabou!”.

1h19 de 22/11/2022… Davi estava nos meus braços, quentinho e roxinho, dando seu primeiro chorinho enquanto era examinado pela pediatra. Uma forcinha leve a pedido da médica e senti a placenta sair. Levei a injeção de ocitocina na coxa e precisei de uma segunda de outro remédio porque acho que o sangramento ainda não estava parando. A médica me falou que eu tive uma laceração 2 por um pouquinho, que quase era só 1 e que ia dar 2 pontinhos. O bebê no colo faz a gente passar por essa parte toda com tranquilidade e sem de fato perceber as intervenções finais. Veio o choro de emoção junto com o meu marido. 

Eu não falei antes mas ele foi perfeito. Esteve ao meu lado, segurou minha mão, trouxe água, ofereceu comida, tentou me acalmar, respeitou e virou porta voz das minhas vontades o tempo todo… Até quando foi chamado de canto pela equipe do hospital, que perguntou se não era melhor oferecer analgesia porque eu estava com muita dor e não estava aguentando. Ele

 respondeu que eu havia falado que ia tentar sem, e que eu falaria pra ele se tivesse mudado de ideia, então ele não ia tocar no assunto e ia seguir nosso combinado. Não ofereceram mais nada. Fiquei orgulhosa dele que não demonstrou desespero e ficou atento a tudo que acontecia comigo e aos movimentos da equipe. Se permitiu chorar depois, e admitir que foi a coisa mais difícil de ver a dor que eu demonstrei estar sentindo.

Sobrevivemos. Ao parto, à gestação, ao processo de espera e preparação pra chegada do nosso filho amado e tão tão desejado. Não me arrependo de nada e acho que tudo foi como tinha que ser. Acho que ainda vou revisitar essas memórias e processa-las mais vezes, mas fico feliz pela forma como tudo aconteceu, e pelos laços fortalecidos enquanto casal que tivemos, pra encarar essa nova fase de nos tornarmos pais desse meninão.

Obrigada ao grupo, às trocas de mensagens de apoio e de dúvidas, às risadas e sonhos compartilhados! Agradeço à Sam pela entrega, por esse curso maravilhoso, por criar esse espaço de troca e acolhimento!

E agora partiu, que temos um leãozinho faminto já botando o gogó pra jogo por aqui hahaha

Se prepare também para seu parto

Você sente seu corpo mudar todos os dias para viver esse dia. Agora terá a oportunidade de também preparar sua mente para se sentir mais confiante, segura e consciente da força que tem para viver esse momento tão especial.

Ao longo dos meus 8 anos de trabalho encontrei muitas mulheres pelo caminho, algumas cheias de dúvidas e arrisco até em dizer que mesmo rodeadas de pessoas que as amavam muitas vezes se sentiam desamparadas no final da gestação. Eu não sei se você vai se identificar ou não com elas. Essas mulheres são pessoas maravilhosas que no inicio da gravidez queriam muito um parto normal lindo porém conforme a barriga crescia esse desejo ia se tornando algo distante e assustador. Quase uma segunda ou terceira opção “se tudo desse certo”.

E se eu não perceber que estou em trabalho de parto? E se eu não aguentar?

E se minha família não aceitar ou apoiar? Vou encarar isso sozinha?

Eu sei que é difícil pensar tudo isso e continuar na busca pelo seu parto dos sonhos. Também já me senti assim, essa é a primeira grande dor na maternagem.

Minha dor transmutou, me fez ser a profissional que sou hoje, com olhar treinado em mais de 100 nascimentos e capaz de facilitar sonhos de mulheres de todo o mundo. Pensando nesse turbilhão que ninguém mais vê, mas que eu SEI que existe dentro de muitas gestantes que eu desenvolvi o curso Parto na Pratica. Assim, em cada aula gravada, e-book e encontro on-line você pode se SENTIR PARTE de um grupo de mulheres empoderadas genuinamente comprometidas em conhecer o próprio corpo, seus limites e possibilidades de forma respeitosa. Suporte essencial desde a gestação até os primeiros meses pós parto.

Um método de preparo ao parto desenvolvido com <3 e evidências científicas

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