Plano de Parto, por que preciso de um?

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Embora o plano de parto seja um documento recomendado pela Organização Mundial de Saúde há anos, nós tenhamos leis regulamentando seu uso, ainda é pouco utilizado pelas gestantes no Brasil, a maioria dos médicos e hospitais não adotam sua conduta, vamos conhecer um pouco mais sobre ele.

 

O que é um Plano de Parto?

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Para mim, plano de parto é acima de tudo uma ferramenta de autoconhecimento. 

 

Quando você começa a pensar em suas preferências, percebe que precisa em primeiro lugar, de informações sobre como é a rotina de assistência ao parto e nascimento no Brasil, em seguida é bom conhecer quais são as recomendações de cuidados intraparto da Organização Mundial de Saúde (OMS) para uma experiência de parto positiva, e então se perguntar quais são os seus desejos e expectativas. 

 

O plano de parto vai deixar claro quais procedimentos você quer evitar e como você espera que seja feita a assistência hospitalar ou domiciliar, durante o trabalho de parto, parto e cuidados com o recém nascido.

 

A rotina de atendimento ao parto

canva.com
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Ao chegar na maternidade, logo após o preenchimento de sua ficha, a parturiente é orientada a se desfazer de todos os seus objetos pessoais, recebe a camisola do hospital, em seguida lhe é colocado um soro, para hidratar e alimentar, já que ela será proibida de comer e beber qualquer coisa. 

Logo na triagem, seus pêlos são raspados, é feito um exame de toque para avaliar a dilatação (geralmente o toque é repetido a cada hora por diferentes profissionais), e lhe aplicam uma lavagem intestinal. 

Muitas de nós já ouvimos falar muito a respeito do “sorinho” que é pra aumentar as contrações, é a ocitocina sintética que é utilizada de forma rotineira. 

Cada instituição tem seu protocolo, mas é muito comum que por volta de 5 ou 6 cm de dilatação rompam a bolsa d’água e que durante o exame de toque sejam feitas manipulações no períneo e colo do útero com a intenção de aumentar a dilatação e acelerar o trabalho de parto.

Quando ela está com a dilatação quase completa, perto de 8 cm, ela é colocada deitada, de costas, na posição de exame ginecológico e orientada a fazer força (manobra de Valsalva), antes mesmo de chegar no período expulsivo.

A episiotomia (o famoso pique) é feita de rotina, lhe aplicam uma manobra chamada Kristeller, que consiste em uma pessoa empurrar a barriga da mãe para “ajudar” o bebê a sair.

Assim que a cabeça do bebê sai ele é puxado, o cordão umbilical é cortado, ele é mostrado para a mãe e entregue para o pediatra, para ser aspirado, receber um colírio e tomar banho. 

Muitas vezes ele vai para o berçário e só é levado para a mãe depois de algumas horas.

Esta forma de assistência está muito longe da prática baseada em evidências científicas e das diretrizes da OMS para assistência ao parto, vamos conhecê-las:

 

Recomendações da OMS para uma experiência de parto positiva

 

  • Condutas não recomendadas 

 

– Prática de lavagem intestinal e raspagem dos pêlos púbicos.

– Uso de soro e ocitocina rotineiros em trabalho de parto.

– Posição de litotomia (posição ginecológica, deitada com as pernas elevadas por apoios) durante o trabalho de parto e parto.

– Esforços de puxo prolongados e dirigidos (manobra de Valsalva) antes que a mulher sinta o puxo involuntário

– Massagens ou distensão do períneo durante o parto.

– Romper a bolsa d’água durante o início do trabalho de parto.

– Pressão no fundo uterino durante o trabalho de parto e parto. (manobra de Kristeller)

– Manipulação ativa do bebê no momento de nascimento.

– Corte precoce do cordão umbilical

– Restrição de alimentos leves e líquidos durante o trabalho de parto.

– Exames de toque freqüentes e repetidos especialmente por mais de um prestador de serviços.

– Transferência rotineira da parturiente para outra sala no início do segundo estágio do trabalho de parto.

– Adesão rígida a uma duração estipulada do segundo estágio do trabalho de parto, como por exemplo uma hora, se as condições maternas e do bebê forem boas e se houver progresso do trabalho de parto.

– Uso liberal ou rotineiro de episiotomia (corte na região vaginal, famoso pique).

– Aspiração nasal ou oral de rotina do bebê

– Banhar o bebê imediatamente após o parto

 

  • Condutas recomendadas

 

– Plano individual determinando onde e por quem o parto será realizado (plano de parto)

– Monitorar o bem-estar físico e emocional da mulher ao longo do trabalho de parto e parto, assim como ao término do processo do nascimento.

– Oferecer líquidos por via oral durante o trabalho de parto e parto.

– Respeitar a escolha da mãe sobre o local do parto

– Apoio empático pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e parto.

– Respeitar a escolha da mulher quanto ao acompanhante durante o trabalho de parto e parto.

– Oferecer às mulheres todas as informações e explicações que desejarem.

– Utilizar métodos não farmacológicos para alívio da dor durante o trabalho de parto e parto como massagem, técnicas de relaxamento e banhos.

– Liberdade de posição e movimento durante o trabalho do parto.

– Estímulo ao trabalho de parto ativo e posições não deitadas durante o trabalho de parto e parto.

– Realizar precocemente contato pele a pele, entre mãe e filho, dando apoio ao início da amamentação na primeira hora do pós-parto

– Aguardar 24h para dar o primeiro banho no recém nascido (em situações especiais em que o banho se faz necessário por conta de condições clínicas da mãe, aguardar no mínimo 6h)

Febrasgo.org.br
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O que a lei diz a respeito do plano de parto?

 

Em São Paulo, há leis estadual (15.759/2015) e municipal (15.894/2013) que determinam que os hospitais aceitem o plano de parto, é um direito da gestante e se a maternidade se recusar, cabe mandado de segurança para proteção do direito da mulher.

 

O ideal é que após elaborar o plano de parto, ele seja assinado pelo médico e então protocolado na maternidade dias antes do parto.

 

É preciso constar no prontuário da paciente a justificativa do médico para cada intervenção que seja feita e que não esteja de acordo com o plano de parto apresentado. 

 

Como ainda não há uma lei federal nem todas as maternidades aceitam o plano de parto.

 

O que não pode faltar no seu plano de parto?

ans.gov.br
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Como você pode perceber o plano de parto é uma ferramenta que vai te auxiliar na conquista de um parto respeitoso. Não se sinta constrangida ao elaborar o seu plano de parto, busque informações e seja muito sincera em relação aos seus desejos.

 

Este é um dia muito importante, você vai se lembrar dele pelo resto da sua vida. Converse com sua equipe a respeito das suas preferências, e se sentir que não há abertura para isso, talvez seja interessante conhecer outros profissionais que estejam mais alinhados com as suas necessidades.

 

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Referências

 

Diretrizes da Organização Mundial de Saúde para uma experiência de parto positiva

https://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/

 

LEI Nº 15.759, DE 25 DE MARÇO DE 2015

https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2015/lei-15759-25.03.2015.htm

 

LEI Nº 15.894, DE 09 DE NOVEMBRO DE 2013

https://www.imprensaoficial.com.br/DO/BuscaDO2001Documento_11_4.aspx?link=/2013/diario%2520oficial%2520cidade%2520de%2520sao%2520paulo/novembro/09/pag_0001_BC5JDRLMRHOCEe1Q4G2H7IVM257.pdf&pagina=1&data=09/11/2013&caderno=Di%C3%A1rio%20Oficial%20Cidade%20de%20S%C3%A3o%20Paulo&paginaordenacao=100001

 

Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf

Uso e influência dos Planos de Parto e Nascimento
no processo de parto humanizado

http://www.scielo.br/pdf/rlae/2015nahead/pt_0104-1169-rlae-0067-2583.pdf

BALZANO, Cristina. O parto é da mulher!:Guia de preparação para um parto feliz/Cristina Balzano; ilustrações de Anne Pires. 1 ed. Belo Horizonte: Editora Gutenberg, 2019.

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