Recepção humanizada do recém nascido

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“Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer”! A célebre frase do obstetra francês Michel Odent, ecoa pelo mundo. É preciso não só humanizar o nascimento – o parto em si – como também a forma de receber o bebê que chega.

Por muitos anos foram realizadas intervenções de rotina nos recém nascidos que, além de desnecessárias, não ajudavam em nada na promoção do vínculo afetivo entre a mãe e o bebê. Evidências científicas já mostram que mínimas intervenções são necessárias, resultando em inúmeros benefícios para a díade mãe-bebê.

Vem comigo e descubra a forma que seu bebê merece ser recebido nesse mundão!

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O bebê é da mamãe! Contato pele a pele!

Parece óbvio, não é mesmo?! Mas, ainda acontece dos bebês serem separados da sua mãe logo após o nascimento. Independente da via de nascimento, o bebê deve ser colocado no colo da mãe e lá permanecer. Isso ajuda o bebê a se acalmar e a regular a temperatura do seu corpo. Além dele se sentir confortável e seguro.

Mas, Kênia, o bebê precisa receber os primeiros cuidados, ser pesado, medido… E aí?
E aí que trago verdades, rsrsrs. A maioria dos procedimentos podem (e devem!) ser feitos no colo da mãe. O tamanho e o peso do bebê não vai mudar em uma hora que ele ficar com a mãe. Sim! A primeira hora de vida é importantíssima para ambos. E é dela que vamos falar agora.

Recepção humanizada do recém nascido
por Daniela Djean

Golden Hour ou Hora de Ouro – Amamentação na primeira hora de vida.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a amamentação na primeira hora de vida protege os bebês de infecções e salva vidas. Auxilia na involução do útero e previne hemorragia, estimula a produção do leite e, além disso, fortalece a criação do vínculo entre mãe e seu bebê. É extremamente importante que esse momento seja respeitado. É nesse momento que o bebê recebe o colostro (aquele primeiro leite da mãe – considerado a primeira vacina do bebê. Cheio de anticorpos e nutrientes).

Corte tardio do cordão umbilical.

Após o nascimento é importante que o bebê permaneça com o cordão conectado a placenta de 3 a 5 minutos, ou enquanto o cordão não parar de pulsar.

A placenta manda o sangue pelo cordão umbilical para oxigenar o bebê e após o sangue volta para a placenta. Esse é um processo contínuo dentro do útero. E quando o bebê nasce, a placenta continua fazendo o seu trabalho por algum tempo. Sendo assim, se o cordão for cortado imediatamente após o nesascimento, o sangue que a placenta estaria enviando para o bebê não chega até ele. E esse sangue pertence ao bebê. Cerca de 30% do sangue do bebê ainda estará na placenta no momento do nascimento. O ideal então, é aguardar o cordão parar de pulsar para que seja cortado. Esse procedimento diminui as chances de anemia no primeiro ano de vida do bebê. Em bebês prematuros os benefícios são ainda maiores.

Não aspiração do bebê.

Bebês são aspirados de rotina no intuito de retirar o “líquido do parto” das vias aéreas e gástricas. Bebês que nascem de parto normal, são massageados, por assim dizer, ao passar pelo canal vaginal. Isso por si só já auxilia na expulsão dos líquidos do parto. E mesmo os que nascem através da cesárea, são capazes de expelir o líquido ao tossir ou espirrar. Atualmente não é recomendado tal conduta em bebês que nascem bem, apenas em bebês com obstrução das vias aéreas.

O banho pode esperar!

O vérnix (substância  esbranquiçada e gordurosa que recobre o corpo do recém nascido) é altamente hidratante e auxilia na manutenção da temperatura do bebê, além de proteger contra infecções. Normalmente a pele o absorve em 24 horas. Sendo assim, deixem para dar banho após esse período para garantir essa proteção ao seu bebê.

Vitamina K.

Injeção de rotina para prevenir a doença hemorrágica do recém nascido. Dose única intramuscular ou pode ser feita de forma oral (não realizada nos hospitais). O que pode ser feito, é colocar no plano de parto que você deseja que esse procedimento seja feito após a golden hour e com o bebê no seu colo enquanto estiver mamando, bem aconchegado a você. Isso diminui o estresse do bebê.

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Geralmente acontece em hospitais que ainda tem berçários, no intuito de fazer o bebê parar de chorar. Isso pode interferir negativamente na amamentação, além de aumentar os riscos do bebê desenvolver alergias. Importante colocar todas as suas preferências no plano de parto. Obviamente que, não estamos questionando o fato dos bebês que realmente precisam de complemento por algum motivo.

Colírio de nitrato de prata (credé).

Utilizado para prevenir conjuntivite bacteriana no bebê quando a mãe tem gonorréia. Sendo assim, não deveria ocorrer a aplicação de rotina em todos os bebês. Além de ser um procedimento doloroso para o bebê – arde muito – ainda pode causar conjuntivite química. Mães que não desejam que o colírio seja aplicado em seu bebê deverão assinar um termo no hospital. Coloquem no plano de parto tal desejo e, se possível, peça ao seu médico de pré natal um exame que rastreie a bactéria (cultura de bactérias que rastreie clamídia e gonorréia) – anexe o resultado no plano de parto.

É muito importante que vocês estejam bem informadas sobre os procedimentos. Assim poderão questioná-los e requisitar a melhor assistência para o seu bebê.

Informação é poder! Use sem moderação!

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Referências:

Brasil. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília; 2001

SOUZA, Taisa G; GAÍVA, Maria Aparecida Munhoz; MODES, Priscilla Shirley. A humanização do nascimento: percepção dos profissionais de saúde que atuam na atenção ao parto. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2011 set;32(3):479-86. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/17497. Acesso em 26 Set. 2019.

CRUZ, Daniela Carvalho dos Santos; SUMAM, Natália de Simoni; SPINDOLA, Thelma. Os cuidados imediatos prestados ao recém-nascido e a promoção do vínculo mãe-bebê. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 41, n. 4, p. 690-697, Dec.2007 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342007000400021&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 26 Set. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342007000400021.

MOREIRA, Maria Elisabeth Lopes; GAMA, Silvana Granado Nogueira da; PEREIRA,Ana Paula Esteves; SILVA, Antonio Augusto Moura da; LANSKY, Sônia; PINHEIRO,Rossiclei de Souza; GONÇALVES, Annelise de Carvalho; LEAL, Maria do Carmol. Práticas de atenção hospitalar ao recém-nascido saudável no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 30 Sup:S128-S139,201.Ago 2014. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csp/2014.v30suppl1/S128-S139/pt/#. Acesso em 26 Set. 2019. https://doi.org/10.1590/0102-311X00145213.

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