“Apenas o movimento restaura o movimento” (Peter Walker)
Essa frase me marcou profundamente durante um curso que eu estava fazendo em São Paulo com o inglês Peter Walker. Era 2015 e o curso era o de “developmental baby massage” (massagem para bebês). Estávamos aprendendo a tocar os bebês da maneira particular que o Peter já fazia há anos. Ele estava compartilhando seu conhecimento sobre o tema, mas devo confessar que havia muito mais sendo abordado. Uma visão de mundo. Um olhar sobre o corpo. A mobilidade, o movimento, a consciência corporal.
A vida é movimento. O movimento é vida. E é impossível não extrapolar essa frase para o parto.
Que cena aparece na sua cabeça quando imagina um bebê nascendo?
A mulher deitada, imóvel, apenas sendo guiada pelo obstetra? Ou a mulher com total liberdade para se movimentar, podendo escolher até ter um parto vertical?
Continue lendo esse texto para entender porque é tão importante inserir movimento durante o trabalho de parto e transformar a experiência em um parto ativo!
Nesse post você vai encontrar
Parto é movimento!
Como não extrapolar essa frase para o parto?
O parto é movimento. Simples.
Olha o John Travolta aí pra te provar isso! LOL
Mais do que isso, te digo que mesmo na imobilidade do corpo materno o parto é movimento! Como assim Sú? Como pode existir movimento durante o trabalho de parto com a mãe deitada, imóvel na cama do hospital?
Já ouviu por aí alguém contar algo assim – No meu parto os médicos falavam assim para mim “Mãe, deita aqui na cama, tem que ficar quietinha durante o trabalho de parto”. Já?
Infelizmente frases como essa são comuns nos atendimentos às parturientes pelo Brasil afora. O movimento, de forma geral não é estimulado. Por que isso não é ideal?
Te explico abaixo.
Mesmo que a mulher em trabalho de parto permaneça deitada de barriga para cima, sem conseguir se mover e levantar, ainda assim existirá movimento pois o bebê também se movimenta ativamente para nascer!
Para descer pela bacia da mãe e encontrar a saída o bebê precisá girar (fazer um movimento de rotação, como se fosse um parafuso) dentro dessa pelve. Então, mesmo que a mãe esteja deitada imóvel, o bebê vai girar e se movimentar lá dentro.
Ficar deitada e parada não ajuda muito nessa rotação que o seu bebê precisa fazer lá dentro para nascer. Então, por que não oferecer ajuda ao seu bebê nesta jornada?
O parto é quase uma dança. A dança da vida.
Entenda o parto ativo
Olha essa frase do livro da Eliane (O corpo no trabalho de parto e parto) – “a evolução e duração do trabalho de parto são influenciadas por aspectos objetivos e subjetivos: a regularidade da atividade uterina, a apresentação da cabeça do bebê e sua rotação na descida pela pelve, a regularidade e intensidade crescente das contrações, a mobilidade da bacia, a postura materna, o encaixe e a fixação da cabeça do bebê, a resistência e tolerância às sensações”.
Lendo ela entendemos que a liberdade de movimentação favorece o trabalho de parto e vemos como o bebê e a mãe formam uma dupla nesta jornada rumo ao nascimento. Se entregar a essa liberdade de movimentação pode auxiliar na adaptação da pelve materna durante o encaixe da cabeça do bebê. A livre movimentação então é uma forma para encurtar o trabalho de parto e aumentar a eficiências das contrações, uma vez que existe a ajuda do encaixe da cabeça do bebê na pelve e a força da gravidade pode ser utilizada. Inclusive a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) estimula a movimentação livre durante o trabalho de parto, o que eles chamam de livre deambulação.
“Pra baixo, pra baixo, pra baixo”, use a gravidade. Ela é sua amiga.
A imobilidade durante o trabalho de parto, além de não favorecer a descida do bebê pela pelve materna, ainda pode trazer inúmeros prejuízos tanto para mãe quanto para o bebê (principalmente se a mulher for estimulada pela equipe a permanecer deitada de barriga para cima). Podemos observar uma diminuição do ritmo de contrações (o que pode gerar um parto mais longo), a sensação dolorosa tende a aumentar, a compressão pelo peso do útero de vasos abdominais importantes como a veia cava compromete a circulação que chega até o bebê, consequentemente aumenta a possibilidade de frequência cardíaca fetal não tranquilizadora, o famoso “sofrimento fetal” (Balaskas, J. 2015).
Ainda de acordo com Janet Balaskas em seu livro Parto Ativo -Fisiologicamente a posição mais favorável quando pensamos na gravidade é a posição de cócoras (parto vertical). Nesta posição a pelve atinge a maior abertura e a gravidade pode agir com mais eficiência. Em oposição a isso, a posição supina (de barriga para cima) limita a abertura pélvica pois pressiona o sacro que consequentemente tem sua movimentação comprometida. Na posição supina perde-se mais de 1/3 da capacidade de aumento do diâmetro pélvico.
Vamos lá. Liberdade. Aproveite. Dance. Movimente-se.
Passo a passo da dança do parto ativo e vertical
Agora você já sabe como é importante se manter ativa e se movimentar durante o trabalho de parto. É uma maneira de ajudarmos o bebê a descer na bacia com ajuda da gravidade, além de ser uma forma de você encontrar uma posição menos dolorida durante a contração.
Mas como eu acredito muito no seu protagonismo durante o parto, tenho que te dizer que, apesar de todas as explicações acima, você não é obrigada a nada.
Então, você deve permanecer de cócoras durante o seu trabalho de parto e parto?
Não, você não deve nada. Você não é obrigada a ficar de cócoras se não sentir vontade de fazer isso. Você deve ser a condutora principal do seu processo. O mais interessante é deixar o seu próprio corpo te guiar.
Você é a figura principal. Você e o seu bebê.
É através do seu corpo que este pequenino ser vai se encaixar e deslizar para a vida. Sejam parceiros na busca por essa passagem e pelo encontro dessa luz.
Jogue-se contra as pedras e aproveite a potência das ondas do nascimento.
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Referências Bibliográficas:
- Balaskas, Janet. Parto ativo: guia prático para o parto natural. São Paulo. Ground, 2015.
- Bio, Eliane. O corpo no trabalho de parto e parto: o resgate do processo natural do nascimento. São Paulo. Summus, 2015.
- Recomendações da OMS acesse aqui.