Essa é uma das perguntas mais temidas pelos pais de 1ª, 2ª, 3ª viagem… Só que você ainda está grávida e achou que só precisaria se preocupar com isso daqui a uns cinco ou dez anos, não é mesmo?
Mas você sabe como nascem os bebês? ?
No post de hoje vou explicar como acontece o parto normal.
Esse texto é pra você, que já leu bastante sobre os benefícios do parto normal e decidiu que quer um parto pra chamar de seu. Mas também já pode deixar salvo nos favoritos, pra quando as crianças começarem a perguntar #fikdik
Nesse post você vai encontrar
Pródromos
É nessa fase que o útero começa a mostrar os primeiros sinais de que o trabalho de parto se aproxima. Nessa fase já começam a acontecer as contrações. Para algumas mulheres elas podem ser mais doloridas; para outras, menos. Essa etapa pode durar horas, dias, semanas… Pode até mesmo não acontecer!
Como saber que você está em pródromos, e que o trabalho de parto ainda não iniciou de fato? As contrações ainda são curtas e ocorrem em intervalos irregulares.
Nessa etapa o ideal é tentar não mudar a rotina e evitar se cansar em excesso. Se quiser, você pode aproveitar para dormir um pouco, afinal não temos como saber quanto tempo os pródromos ainda vão durar.
1º estágio:
A dilatação
Os principais hormônios envolvidos nesse estágio são a prostaglandina, a ocitocina, a endorfina e a adrenalina (vou falar da ação desses hormônios mais pra frente).
De forma geral, o primeiro estágio do trabalho de parto corresponde às fases latente, ativa, de transição e, por vezes, de descanso da mulher.
Fase latente
Quando as contrações uterinas começam a ficar mais doloridas e regulares, dizemos que se iniciou a fase latente. Agora sim o trabalho de parto começou de verdade! Nesse estágio, a mulher ainda consegue comer e conversar no intervalo entre as contrações.
A prostaglandina tem um papel importante nessa fase, pois é a responsável por amaciar o colo do útero, preparando-o para a dilatação, e também por estimular as contrações¹. A ocitocina vai sendo liberada em pulsos ao longo de todo o trabalho de parto, e é a responsável pelo ritmo e intensidade das contrações².
Ao contrário das contrações de treinamento, as do início do trabalho de parto ocorrem na parte de cima do útero, em forma de ondas que aos poucos vão empurrando o bebê para baixo. A pressão da cabeça do bebê, junto com a ação da prostaglandina, ajudam a amolecer e a dilatar o colo do útero.
No vídeo a seguir, a maravilhosa Liz Chalmers mostra de forma bem didática:
- as contrações de treinamento (no vídeo ela chama de Braxton-Hicks), que ocorrem no meio do balão e não são efetivas para empurrar a bolinha de ping pong;
- as contrações do trabalho de parto (ela fala real contractions) que ocorrem na parte de cima do balão (útero), e aos poucos vão empurrando a bolinha (bebê) para baixo;
- o afinamento e abertura da boca do balão, representando a dilatação do colo do útero.
O vídeo está em inglês, mas você pode clicar ⬆ e ativar as legendas automáticas. Em seguida, clique em configurações (⚙) e em traduzir automaticamente para português (via youtube)
Quanto tempo dura a fase latente? Isso varia de mulher para mulher… Em geral essa é a parte mais demorada em um trabalho de parto, podendo levar várias horas. Mas tente não ficar tão focada na duração do seu trabalho de parto, nem nos centímetros de dilatação. Lembre-se que um parto não é receita de bolo, cada um é único! Inclusive uma mesma mulher pode ter experiências bem diferentes em cada um dos seus partos.
Conforme recomendações atualizadas da Organização Mundial de Saúde – OMS, comparar o avanço da dilatação por hora apresenta referências irreais para algumas mulheres, uma vez que cada nascimento é único. Ou seja, tendo como base somente o avanço da dilatação, não se justifica utilizar substâncias sintéticas para acelerar o trabalho de parto³.
Fase ativa
Na fase ativa, o colo do útero continua dilatando, conforme as ondas das contrações vão empurrando o bebê cada vez um pouquinho para baixo. As contrações ficam mais intensas e mais frequentes. Normalmente a própria mulher não quer mais conversas ou brincadeiras no intervalo entre as contrações, já começa a ficar cansada com a duração trabalho de parto.
Aos poucos ela vai passando a ouvir mais seu corpo, seus instintos e adentrando na partolândia. Isso acontece porque, junto com os pulsos de ocitocina, a mulher começa a receber também descargas de endorfinas, que são os hormônios responsáveis pelo alívio da dor, pelo prazer e pela sensação de recompensa. Contudo, o aumento dos níveis de endorfina favorece a entrada da mulher nesse estado de transe².
Se ela tiver liberdade para se movimentar no ambiente, o próprio corpo vai indicar as posições que necessita, que podem inclusive auxiliar na descida do bebê e com os desconfortos da mãe. Excesso de falatório no ambiente, luz excessiva, fazer muitas perguntas à mulher, tudo isso são ações que vão ativar o neocórtex, a parte racional do cérebro. No trabalho de parto, a mulher precisa de uma maior atividade do hipotálamo, ou cérebro emocional, pois é nele que são produzidos alguns dos hormônios que ela vai precisar² (a ocitocina, por exemplo).
Algumas mulheres fazem cocô durante o trabalho de parto, o que é perfeitamente normal e comum! Durante a gravidez, o bebê estava lá dentro crescendo e pressionando seus órgãos, que ao longo de semanas foram se adaptando conforme o novo espaço disponível. Imagina o que acontece na hora que o bebê desce, com a cabeça pressionando o colo do útero e também empurrando tudo que estiver pelo caminho…
Ou seja, mesmo as fezes não estando propriamente no caminho do bebê, mas sim no intestino, elas acabam ocupando um certo espaço na região, que precisará ser preenchido com o corpinho do bebê, conforme ele for passando por ali. Então, em vez de ficar com vergonha, se alegre: cocô saindo = bebê perto de chegar!
Conforme as diretrizes atuais da OMS, a fase ativa costuma durar até 12h para o primeiro parto e até 10h para os partos seguintes³ (porém também pode durar menos que isso).
Fase de transição
Esse é o momento em que a mulher pensa em desistir, diz que não vai aguentar mais, fica mais agitada e suada, algumas vomitam. Saiba que isso tudo é normal!
Isso acontece porque é preciso que mãe e bebê despertem do transe em que estavam por conta dos níveis de endorfina, e se preparem para o expulsivo. Para isso, a mulher recebe também descargas de adrenalina, o que pode provocar as reações descritas acima².
A adrenalina é o hormônio do medo, e é responsável por desencadear nossos mecanismos de luta ou de fuga quando estamos em uma situação de perigo. Pensando por esse lado, fica mais fácil entendermos o porquê de tanta agitação nessa fase. O obtetra francês Michel Odent costuma dizer que quando a mulher começa a falar em medo da morte, ele sabe que o bebê está bem próximo², pois finalmente chegou a fase da transição.
A fase da transição também é conhecida como a hora da covardia, mas deveria se chamar hora da coragem.
Algumas mulheres dormem entre as contrações, o que se deve ao relaxamento provocado pelos níveis de endorfina no sangue.
As fases ativas e de transição são os momentos em que provavelmente a mulher mais irá apreciar o acompanhamento de uma doula. A doula é a pessoa que estará lá para te acolher, te dar apoio e te incentivar. Além disso, a doula é a profissional treinada para oferecer alternativas à analgesia convencional e que possam aliviar os desconfortos da parturiente.
Quem estiver acompanhando a mulher também poderá se beneficiar com a presença de uma doula, pois ela pode transmitir informações de qualidade sobre o andamento do trabalho de parto, o que proporciona maior tranquilidade.
Se quiser ler mais sobre o papel da doula, aqui mesmo na Casa da Doula você encontrará outros posts sobre o assunto.
2º estágio:
O nascimento
Quando a mulher começar a sentir vontade de empurrar, finalmente chegou a hora de o bebê nascer! Nesse momento, também chamado de expulsivo, a dilatação já está completa e se aproxima o momento do nascimento. Algumas mulheres sentem o círculo de fogo, uma queimação conforme a cabeça do bebê vai coroando pela vagina. A cada contração o bebê desce mais um pouquinho, mas ele ainda vai indo e voltando, até finalmente nascer. Normalmente após a saída dos ombros o corpinho já sai todo de uma vez.
A duração desse estágio também varia para cada mulher. De forma geral, o expulsivo pode durar até 3h para o primeiro parto e até 2h para os partos seguintes³ (mas também há casos em que ele não chega a durar nem 10 minutos²).
Para mulheres que não tenham recebido analgesia peridural, não é recomendado conduzir os puxos da mulher, querer ”ensinar” a ela de que forma ela deve fazer força. Também não é recomendado cortar a mulher (episiotomia), nem empurrar a barriga (manobra de Kristeller, ou pressão fúndica), como forma de tentar acelerar o nascimento³.
Clique aqui se quiser ler mais sobre a hora certa para fazer força.
3º estágio:
A saída da placenta
Tudo muito lindo, o bebê já nasceu, mas o parto ainda nãooooo acabou!!!! Surpresa?
A fase seguinte é a saída, ou dequitação da placenta. Nessa fase o útero ainda contrai, porém essas contrações são muito menos dolorosas e mais espaçadas, e servem para empurrar a placenta para fora do útero e também para ajudar a reduzir o sangramento. Esse estágio também conta com a ação da ocitocina.
Sabe o que atrapalha a produção de ocitocina? Falatório, luz excessiva, confusão… Todas aquelas coisas que já falamos que ativam o cérebro racional da mulher, o neocórtex. Se possível, deixe para receber os parabéns da família somente após a saída da placenta.
Quer saber o que ajuda a ocitocina a continuar a ser produzida?
Quando se permite que a mãe e o bebê fiquem em contato pele a pele logo após o nascimento, o bebê instintivamente alterna seus reflexos entre mamar e massagear o seio da mãe⁴. Esses movimentos combinados do bebê elevam os níveis de ocitocina da mãe, contribuindo para a produção do leite, vinculação com o bebê e também para a continuação das contrações uterinas⁵ (ou seja, também ajuda na saída da placenta e na redução do sangramento pós-parto).
Contudo, a OMS recomenda o uso de ocitocina sintética nesse estágio, como medida de prevenção à hemorragia pós-parto³.
Por vezes é chamado de 4º estágio do trabalho de parto o período de cerca de uma hora após a saída da placenta, quando a mãe e o bebê poderão conhecer melhor um ao outro e descansar, enquanto ficam sob observação da equipe técnica.
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Referências
- Hussein P. (1984). The importance of oxytocin and prostaglandins to the mechanism of labor in humans. Resumo disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6099005
- Janet Balaskas (1989, atualizado em 2015). Parto Ativo: guia prático para o parto natural (a história e a filosofia de uma revolução).
- World Health Organization (2018). WHO recommendations: Intrapartum care for a positive childbirth experience. Disponível em http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/260178/1/9789241550215-eng.pdf?ua=1 (tradução do sumário de recomendações por Lucia Forghieri, disponível em https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=10155275991118015&id=549443014)
- Karen Strange (2017). A experiência do recém nascido e o que podemos fazer para proteger a hora dourada. Palestra apresentada no IV Simpósio Internacional de Assistência ao Parto – Siaparto.
- Ann-Sofi Matthiesen, Anna-Berit Ransjö-Arvidson, Eva Nissen, Kerstin Uvnäs-Moberg (2001). Postpartum maternal oxytocin release by newborns: effects of infant hand massage and sucking. Resumo disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11264623
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