Conheça a haptonomia, a ciência da afetifidade

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Respira, respira, respiraaaa!

É comum ver “causos” de um pai que desmaiou no momento do parto ou que ficou todo o tempo com a mulher e, no instante do nascimento, escolheu sair de cena. Que sentimentos se calam ali?

Em nossa cultura os homens não são incentivados a expressar seus sentimentos e, por vezes, medo, frustração e ansiedade andam de mãos dadas com esse pai.

Nas situações de um casal de mulheres, por mais desafios que encontre pela frente, a mãe que não está gestando se posiciona e se finca como uma estaca na areia, tendo as ondas do mar a seus pés a todo instante, querendo sutilmente a afundar e ela se mantém ali, firme. Crises de apagamento podem se fazer presentes nessa mãe perante os expectadores da vida e não se sentir pertencente nessa díade mãe grávida-bebê pode ser comum, e esse lugar também é compartilhado com o pai, nas situações de um casal homem e mulher.

Nesse palco do nascimento da vida, ambos, pai e mãe que não está gestando, são pouco convidados a participarem do período gestacional em detrimento de um sistema que não permite liberá-los de seu ambiente de trabalho de maneira formal.

Aos poucos eles vão se silenciando e se afastando, sentindo-se fora da gestação em si que afeta a relação familiar. A falta de incentivos dos profissionais e da própria sociedade, que primariamente voltam sua atenção para a saúde da mãe grávida e do bebê, atribui ao acompanhante a única função de provedor, deixando-o num lugar de expectador.

Leveza para empoderar afeto

Convidá-los a ser pertencente na tríade mãe-bebê-pai ou mãe-bebê-mãe pode ser o estímulo à construção das suas parentalidades, trazendo leveza para que sintam suas emoções, sejam ouvidos, esclareçam suas dúvidas e, assim como a mulher que está grávida, se empoderem de vida e encontrem seu lugar na díade mãe que gesta-bebê.

É nesse convite que crio a possibilidade de transformar a experiência da gravidez do lado de fora e fazê-los se sentirem parte dessa díade como um ser indispensável.

Ciência da afetividade, haptonomia

Foto: 42 North no Pexels

Através da “ciência da afetividade” (haptonomia) é possível estimular o vínculo da tríade durante as consultas na gravidez e aflorar o sentimento desse pai e dessa mãe que não está gestando, tornando-os verdadeiramente conectados ao bebê assim como é para você que está grávida.

A técnica da haptonomia é utilizada para elaborar a comunicação intrauterina, principalmente por meio do toque no abdome, que auxilia na criação de um estado de segurança para o bebê, estimula seu desenvolvimento durante a gestação e após seu nascimento e, se configura como uma forma de preparar o casal para recebê-lo.

Essa técnica permite o desenvolvimento das diversas nuances da parentalidade ainda na gestação, pois desperta o sentimento de responsabilidade em vocês com relação ao bebê, pensando-o como um novo ser, ultrapassando os limites do imaginário que muitas vezes persiste até o nascimento.

A haptonomia consente fluidez na interação entre o casal, favorecendo o desenvolvimento de sentimentos como segurança e proteção. O pai e a mãe que não está gestando passam a vivenciar, junto com você, experiências e sensações únicas até então particularizadas à gravidez. Com isso, a parentalidade se constitui sem diferenças culturais que classifiquem-nos apenas como expectadores. Eles passam a serem vistos como um ser humano atencioso e participativo no desenvolvimento do bebê, colaborando, assim, para o estabelecimento do novo conceito de parentalidade.

O período que antecede o parto é o momento de nutri-los de informação e prepará-los para a parentalidade. Reconhecê-los é direito adquirido e eles não são apenas uma visita nos serviços de saúde. A importância da presença deles nas consultas do pré-natal, são excelentes oportunidades para esclarecerem suas dúvidas, participarem ativamente da gestação, aclarar o parto e como eles podem ser contribuição em fazer a diferença durante o trabalho de parto e nascimento do bebê.

Nesse sentido, é possível levar essas informações a vocês, empoderando ambos, cada qual como uma parte indissociável da preparação do momento que antecede o parto, o parto em si e o início da vida. Esse pai e essa mãe que não está grávida aprendem que sua presença trará segurança e conforto a você através do toque terapêutico, das técnicas de respiração, das palavras de afirmação e outros métodos não farmacológicos para alívio da dor.

Se sentir pertencente à parentalidade

Foto: Artem Beliaikin no Pexels

A presença do pai e da mãe que não está gestando no parto representa a oportunidade de acompanhar de perto e de forma ativa o nascimento do bebê. O apoio amoroso deles integra a humanização da assistência preconizada pela OMS baseada nas evidências científicas, de que a presença de um acompanhante propicia segurança emocional à mulher trazendo benefícios tanto para você como para o bebê.

Nessa participação, o homem rompe conceitos antigos de pai autoritário e cria a possibilidade de ser um pai participativo, gentil e amável ocupando uma posição ativa durante toda a jornada, compartilhando as preocupações com a gravidez e com o futuro desse novo ser. A mãe que não está gestando pode encontrar seu lugar, se sentindo pertencente e completa nesse cenário, com a possibilidade de amamentar seu bebê, nutrindo-o literalmente de amor líquido e se conectando com cada pedacinho desse novo ser que já encontrou lugar em seu coração.

A capacidade de cuidar e a qualidade do vínculo com os filhos são determinantes da boa parentalidade e não da orientação sexual dos pais.

Os estudos apontam que a experiência da parentalidade vem modificando-se cada vez mais, onde há um maior envolvimento afetivo e cuidado com a interação e companheirismo entre a díade pai-filho que se forma, diminuindo as diferenças entre a maneira de agir do homem e da mulher.

As famílias vêm se constituindo de forma mais ampla e as funções de gênero se modificando. Os lugares masculinos e femininos na família não coincidem com os ocupados pelos homens e pelas mulheres; eles circulam com mais intensidade caracterizando um acelerado processo de modernização, que interfere e produz alterações na subjetividade e, consequentemente, na sociedade e em suas instituições. Em termos de função parental, a função “materna” ou “paterna” pode ser desempenhada por qualquer dos parceiros, mesmo quando exercida de forma mais marcante por um ou outro membro do casal.

Presença na vida dos filhos

Cavalo marinho macho em trabalho de parto

O pai é capaz de enriquecer a vida dos filhos, com formas diferentes de afetos expressados por você. A dedicação amorosa aos filhos favorece ainda os próprios homens, ampliando suas vivências masculinas para além do papel de expectadores, proporcionando a oportunidade de se descobrirem como aquele que acolhe, que brinca, que faz o jantar, que prepara a lancheira, que dá banho, que conta uma história antes de dormir e que fica na cama com os filhos até o medo do escuro se dissipar e adormecerem, com seu abraço quentinho e reconfortante.

Para a mãe que não está grávida a experiência após o nascimento do bebê possibilita que ela se sinta verdadeiramente completa, com a possibilidade de compartilhar a amamentação e fazer parte desse processo de nutri-lo, se conectando com o bebê nesses momentos especiais e únicos e desempenhar a maternidade da mesma maneira que você.

Para que ambos participem de toda essa vivência, é preciso que eles estejam presentes desde a gravidez para maior e melhor afinidade e afeto com o bebê.

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Referências Bibliográficas:

A participação do pai como acompanhante da mulher no parto – Fernanda Rosa Indriunas Perdomini (autoria), Ana Lúcia de Lourenzi Bonilha (autora). Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS). Rio Grande do Sul. 2010. – http://www.scielo.br/pdf/tce/v20n3/04

A perspectiva do pai acompanhante junto à parturiente no momento do parto natural: uma revisão integrativa – Jessica Fernandes Cunha (autora) – Niterói: [s.n.], 2014. 60 f. – https://app.uff.br/riuff/bitstream/1/3310/1/TCC%20Jessica%20Fernades%20da%20Cunha.pdf

A visão das gestantes acerca da participação do homem no processo gestacional – Letícia Ábdon Caldeira (autora), Lílian Fernandes Arial Ayres (autora), Laís Vanessa Assunção Oliveira (autora), Bruno David Henriques (autor). 2017;7:e1417. https://doi.org/10.19175/recom.v7i0.1417

Novas formas de parentalidade: do modelo tradicional à homoparentalidade – Brunella Carla Rodriguez (autora), Isabel Cristina Gomes (autoria), Boletim de Psicologia, 2012. Vol I.XII, nº 136: 29-36 – http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bolpsi/v62n136/v62n136a04.pdf

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