É comum ver “causos” de um pai que desmaiou no momento do parto ou que ficou todo o tempo com a mulher e, no instante do nascimento, escolheu sair de cena. Que sentimentos se calam ali?
Em nossa cultura os homens não são incentivados a expressar seus sentimentos e, por vezes, medo, frustração e ansiedade andam de mãos dadas com esse pai.
Nas situações de um casal de mulheres, por mais desafios que encontre pela frente, a mãe que não está gestando se posiciona e se finca como uma estaca na areia, tendo as ondas do mar a seus pés a todo instante, querendo sutilmente a afundar e ela se mantém ali, firme. Crises de apagamento podem se fazer presentes nessa mãe perante os expectadores da vida e não se sentir pertencente nessa díade mãe grávida-bebê pode ser comum, e esse lugar também é compartilhado com o pai, nas situações de um casal homem e mulher.
Nesse palco do nascimento da vida, ambos, pai e mãe que não está gestando, são pouco convidados a participarem do período gestacional em detrimento de um sistema que não permite liberá-los de seu ambiente de trabalho de maneira formal.
Aos poucos eles vão se silenciando e se afastando, sentindo-se fora da gestação em si que afeta a relação familiar. A falta de incentivos dos profissionais e da própria sociedade, que primariamente voltam sua atenção para a saúde da mãe grávida e do bebê, atribui ao acompanhante a única função de provedor, deixando-o num lugar de expectador.
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Leveza para empoderar afeto
Convidá-los a ser pertencente na tríade mãe-bebê-pai ou mãe-bebê-mãe pode ser o estímulo à construção das suas parentalidades, trazendo leveza para que sintam suas emoções, sejam ouvidos, esclareçam suas dúvidas e, assim como a mulher que está grávida, se empoderem de vida e encontrem seu lugar na díade mãe que gesta-bebê.
É nesse convite que crio a possibilidade de transformar a experiência da gravidez do lado de fora e fazê-los se sentirem parte dessa díade como um ser indispensável.
Ciência da afetividade, haptonomia
Através da “ciência da afetividade” (haptonomia) é possível estimular o vínculo da tríade durante as consultas na gravidez e aflorar o sentimento desse pai e dessa mãe que não está gestando, tornando-os verdadeiramente conectados ao bebê assim como é para você que está grávida.
A técnica da haptonomia é utilizada para elaborar a comunicação intrauterina, principalmente por meio do toque no abdome, que auxilia na criação de um estado de segurança para o bebê, estimula seu desenvolvimento durante a gestação e após seu nascimento e, se configura como uma forma de preparar o casal para recebê-lo.
Essa técnica permite o desenvolvimento das diversas nuances da parentalidade ainda na gestação, pois desperta o sentimento de responsabilidade em vocês com relação ao bebê, pensando-o como um novo ser, ultrapassando os limites do imaginário que muitas vezes persiste até o nascimento.
A haptonomia consente fluidez na interação entre o casal, favorecendo o desenvolvimento de sentimentos como segurança e proteção. O pai e a mãe que não está gestando passam a vivenciar, junto com você, experiências e sensações únicas até então particularizadas à gravidez. Com isso, a parentalidade se constitui sem diferenças culturais que classifiquem-nos apenas como expectadores. Eles passam a serem vistos como um ser humano atencioso e participativo no desenvolvimento do bebê, colaborando, assim, para o estabelecimento do novo conceito de parentalidade.
O período que antecede o parto é o momento de nutri-los de informação e prepará-los para a parentalidade. Reconhecê-los é direito adquirido e eles não são apenas uma visita nos serviços de saúde. A importância da presença deles nas consultas do pré-natal, são excelentes oportunidades para esclarecerem suas dúvidas, participarem ativamente da gestação, aclarar o parto e como eles podem ser contribuição em fazer a diferença durante o trabalho de parto e nascimento do bebê.
Nesse sentido, é possível levar essas informações a vocês, empoderando ambos, cada qual como uma parte indissociável da preparação do momento que antecede o parto, o parto em si e o início da vida. Esse pai e essa mãe que não está grávida aprendem que sua presença trará segurança e conforto a você através do toque terapêutico, das técnicas de respiração, das palavras de afirmação e outros métodos não farmacológicos para alívio da dor.
Se sentir pertencente à parentalidade
A presença do pai e da mãe que não está gestando no parto representa a oportunidade de acompanhar de perto e de forma ativa o nascimento do bebê. O apoio amoroso deles integra a humanização da assistência preconizada pela OMS baseada nas evidências científicas, de que a presença de um acompanhante propicia segurança emocional à mulher trazendo benefícios tanto para você como para o bebê.
Nessa participação, o homem rompe conceitos antigos de pai autoritário e cria a possibilidade de ser um pai participativo, gentil e amável ocupando uma posição ativa durante toda a jornada, compartilhando as preocupações com a gravidez e com o futuro desse novo ser. A mãe que não está gestando pode encontrar seu lugar, se sentindo pertencente e completa nesse cenário, com a possibilidade de amamentar seu bebê, nutrindo-o literalmente de amor líquido e se conectando com cada pedacinho desse novo ser que já encontrou lugar em seu coração.
A capacidade de cuidar e a qualidade do vínculo com os filhos são determinantes da boa parentalidade e não da orientação sexual dos pais.
Os estudos apontam que a experiência da parentalidade vem modificando-se cada vez mais, onde há um maior envolvimento afetivo e cuidado com a interação e companheirismo entre a díade pai-filho que se forma, diminuindo as diferenças entre a maneira de agir do homem e da mulher.
As famílias vêm se constituindo de forma mais ampla e as funções de gênero se modificando. Os lugares masculinos e femininos na família não coincidem com os ocupados pelos homens e pelas mulheres; eles circulam com mais intensidade caracterizando um acelerado processo de modernização, que interfere e produz alterações na subjetividade e, consequentemente, na sociedade e em suas instituições. Em termos de função parental, a função “materna” ou “paterna” pode ser desempenhada por qualquer dos parceiros, mesmo quando exercida de forma mais marcante por um ou outro membro do casal.
Presença na vida dos filhos
O pai é capaz de enriquecer a vida dos filhos, com formas diferentes de afetos expressados por você. A dedicação amorosa aos filhos favorece ainda os próprios homens, ampliando suas vivências masculinas para além do papel de expectadores, proporcionando a oportunidade de se descobrirem como aquele que acolhe, que brinca, que faz o jantar, que prepara a lancheira, que dá banho, que conta uma história antes de dormir e que fica na cama com os filhos até o medo do escuro se dissipar e adormecerem, com seu abraço quentinho e reconfortante.
Para a mãe que não está grávida a experiência após o nascimento do bebê possibilita que ela se sinta verdadeiramente completa, com a possibilidade de compartilhar a amamentação e fazer parte desse processo de nutri-lo, se conectando com o bebê nesses momentos especiais e únicos e desempenhar a maternidade da mesma maneira que você.
Para que ambos participem de toda essa vivência, é preciso que eles estejam presentes desde a gravidez para maior e melhor afinidade e afeto com o bebê.
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Referências Bibliográficas:
A participação do pai como acompanhante da mulher no parto – Fernanda Rosa Indriunas Perdomini (autoria), Ana Lúcia de Lourenzi Bonilha (autora). Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Rio Grande do Sul. 2010. – http://www.scielo.br/pdf/tce/v20n3/04
A perspectiva do pai acompanhante junto à parturiente no momento do parto natural: uma revisão integrativa – Jessica Fernandes Cunha (autora) – Niterói: [s.n.], 2014. 60 f. – https://app.uff.br/riuff/bitstream/1/3310/1/TCC%20Jessica%20Fernades%20da%20Cunha.pdf
A visão das gestantes acerca da participação do homem no processo gestacional – Letícia Ábdon Caldeira (autora), Lílian Fernandes Arial Ayres (autora), Laís Vanessa Assunção Oliveira (autora), Bruno David Henriques (autor). 2017;7:e1417. https://doi.org/10.19175/recom.v7i0.1417
Novas formas de parentalidade: do modelo tradicional à homoparentalidade – Brunella Carla Rodriguez (autora), Isabel Cristina Gomes (autoria), Boletim de Psicologia, 2012. Vol I.XII, nº 136: 29-36 – http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bolpsi/v62n136/v62n136a04.pdf