Caminhos que me trouxeram ao meu lugar!

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Minha história com o mundo que envolve a maternidade começou ainda na minha adolescência, aos 17 anos, quando engravidei da minha primeira filha. Passado mais de uma década muitas transformações aconteceram no meu olhar para o processo de gestar, parir e maternar e para que eu ocupasse esse lugar; nenhuma delas obra do acaso. Costumo dizer que estou onde eu devia estar, que os caminhos que trilhei me trouxeram até aqui.

Já na primeira gestação, sem nenhum embasamento teórico, eu sabia que queria parir (e em 2007 internet era mato, sim, ainda mais pra quem era adolescente  buscando informações sobre parto). Tive meu parto roubado com uma dessas frases que hoje deve figurar no topo da lista da Melania e que a gente ri/chora junto. Terminei o ensino médio, ingressei na faculdade de geografia e pari minha segunda filha. Eu vivi uma grande vitória ali, mas sabia que outras formas de nascer deveriam ser possíveis, já que adquiri o pacote Super Premium de intervenções violentas. Meu terceiro filho (ufa! Cabô.. acho..), já aos 27, veio após outras qualidades de informações e experiências e pude planejar um parto domiciliar.

(Re) conhecendo meu lugar

Mesmo na primeira, sem conhecer bem as teorias e com pouca informação e apoio, sempre pratiquei criação com apego, disciplina positiva, cama compartilhada e amamentação em livre demanda (estamos há nove anos nessa brincadeira, somando os três). Em nenhum momento, entretanto, deixava de considerar, mesmo adolescente, que a forma de maternar era e deveria ser a possível, dentro de cada realidade. E que era a partir da informação de qualidade que as escolhas, incluindo as que envolvem direitos reprodutivos, deveriam ser feitas – e respeitadas!

Na geografia, tive as teorias que me permitiram entender o papel que a mulher mãe ocupa na sociedade, excluída dos espaços políticos e sociais por ser base para a reprodução do sistema capitalista. Me reconheci no trabalho explorado, invisibilizado e não remunerado; vivi intensamente todos os meus puerpérios tentando entender minhas novas identidades e as formas de sair reconstruída e reinventada de cada um deles.

Participei ativamente de coletivos e encontros feministas, principalmente voltado às mães, como forma de me fortalecer e me organizar ao lado de mulheres. Mesmo antes de me tornar doula havia estado ao lado de outras mães durante a gestação e maternagem; mas já era hora de embasar tudissaê em evidências, né?

Trilhando novos (?) caminhos

Me formei doula, então, pra estar ao lado de mulheres nesse processo tão único, transformador e insano que pode ser uma gestação e parto, mas também no “e depois?”, englobando amamentação e puerpério.

Nesses anos em que atuo como doula, só tive cada vez mais certeza que era ali que eu sempre precisei estar; em cada atendimento de preparação, em cada contração, em cada choro pós parto (da mãe e bebê), ao lado daquelas mulheres, pra qualquer que fosse a demanda. Essa certeza me levou à graduação de obstetrícia também, mas essa é uma ooutra história que só vai ser desenhada daqui muitos e muitos anos e trens.
Não acredito em uma resposta certo pro “e agora?/e depois?”, mas acredito que juntas e com informação de qualidade, descobrimos melhor!

Agora, atuo com atendimentos durante a gestação, no preparo para o parto e puerpério, de acordo com a realidade e necessidade de cada mulher; realizo acompanhamento do trabalho de parto e sou facilitadora de amamentação. Como resultado, coleciono as fotos mais iti malia do mundo na minha galeria, cresço como profissional e pessoa a cada encontro e, no caminho que trilhei, tenho grandes mulheres andando ao meu lado.

Sugestões de leitura

A relação de dominação/exploração no capitalismo patriarcal: apropriação da vida das mulheres. Marília Nascimento, Leonardo Nogueira e Thais de Queirós.

Beauvoir, Simone. O Segundo Sexo. Editora Difusão Europeia do Livro, 1967.

Balaskas, Janet. Parto ativo: Guia prático para o parto natural. São Paulo. Ground. 2015.

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