Assim me tornei doula: florescendo entre pedras!!

Compartilhe:
Arquivo pessoal

Olá, meu nome é Patrícia, tenho 37 anos, moro em Apucarana, interior do Paraná e sou mãe da Laura e do Bento. Laurinha e Bentico são os responsáveis por toda transição e caminho trilhado até aqui. Por eles e para eles enfrento tudo e busco a melhor versão de mim a cada dia.

Um pouquinho de mim antes de ser mãe.

Sou formada em Letras com habilitação em Espanhol, trabalhei em sala de aula por vários anos. Nessa época eu morava no Mato Grosso, havia ido para lá tentar a vida (como dizem por ai),  pois na minha cidade natal no Paraná as chances de um bom emprego e remuneração eram precárias.

Eu tinha apenas 21 anos e havia saído da minha casa para enfrentar o mundo lá fora sozinha!! Isso mesmo, fui com a cara e a coragem e quando eu contava minha história, recebia muitos incentivos e acolhimento e isso me ajudava a manter firme meu propósito de fazer carreira naquela cidade. Foram anos desafiadores e engrandecedores e que me deram a chance de conhecer e conviver com pessoas encantadoras em todas as escolas que passei. Quanto aprendizado nessa fase da minha vida!!

Meu par !!

 

No Mato Grosso conheci também o meu marido (cai de paraquedas na casa dele hehehe … história para outro capítulo) ele também é do Paraná.

Quase 1500 km longe de casa e a primeira coisa que encontro é um namorado, isso não estava nos meus planos, mas … Deus que faz tudo perfeito já havia escrito nossa história … não consegui fugir!! ok …não quis fugir dela também hahaha…

Namoramos por 5 anos e então decidimos que voltaríamos para o Paraná (para a cidade dele), nos casaríamos e teríamos nossos filhos.

De volta para a casa!!

Quando voltamos para o Paraná eu já havia tomado uma decisão bastante difícil, mas que eu sentia necessidade de fazer naquele momento,  deixar a sala de aula!

Eu amava dar aulas, me dedicava de corpo e alma, mas a demanda estava intensa, eu precisava desacelerar . Além do mais, eu queria ser mãe, era um sonho e eu queria estar presente e em condições de poder criá-los com certa tranquilidade. Por esses motivos busquei trabalhar em outras coisas e estudar para concurso.

A gestação.

Foto: Keith Imamura

Após 5 anos de casados decidimos que era chegada a hora de sermos pais…estávamos felizes, ansiosos e na expectativa que, parando a pílula eu engravidaria no ano seguinte …hahahaha … Deus e suas lindas histórias ….

Ele fez a sementinha germinar no primeiro mês de tentativa !!! Foi uma alegria sem fim e um medo sem fim também … mesmo querendo muito os sentimentos eram de: e agora Jose?!? Será que vou dar conta … rsrsrs

Bebê a bordo … fomos nos preparar para trazer essa vida ao mundo …

Alguns dias antes de saber que eu estava grávida minha fisioterapeuta me contou que estava esperando um bebê e que nasceria de parto humanizado e aquilo soou como música aos meus ouvidos, foi uma conversa rápida, mas o suficiente para me aguçar o desejo de estudar sobre o assunto e mergulhei fundo nos estudos hehehe!!

Descobri grupos de apoio ao parto ativo em duas cidades vizinhas, mandei e-mail para as doulas responsáveis e a partir daí começamos a conversar e participar das rodas que elas promoviam.

As rodas, as histórias compartilhadas, os livros lidos, os documentários assistidos e todas aquelas  informações difundidas iam fortalecendo dia após dia nosso desejo de parir com respeito, segurança e no tempo certo.

Confiantes, estudados,  com equipe definida e plano de parto traçado o que poderia dar errado, não é?!?!?!
Com 38 semanas minha bolsa rompeu e a Laurinha deu os sinais que estava pronta para vir ao mundo …

_ Yuuupi … vou parir!!!

_ Vou parir no aconchego do meu lar como tanto sonhei, estudei e planejei …

Foto: Keith Imamura

O parto…recalculando a rota.

 

Mudança de hospital. (Arquivo pessoal)

Pois é … absolutamente nada saiu como estava no papel!!!

Me deparei com um sistema opressor e cruel e também conheci o lado desumano do ser humano. Era difícil acreditar que tudo estava indo por água abaixo.
Experimentei a indiferença do médico que me acompanhava, tive atendimento negado na única maternidade da minha cidade e por conta disso fui para a cidade vizinha onde estava a equipe de parto domiciliar que me acompanhava.

Lá fui atendida por alguns anjos de plantão e também por um monstro que com sua atitude agressiva e descompensada me obrigou a mudar de hospital em pleno trabalho de parto.

Na mudança de hospital não pude ter a presença das doulas e enfermeiras obstetras que me acompanharam a gestação inteira, mas foi graças a tudo que aprendemos com elas que eu meu marido tivemos força para enfrentar todos os obstáculos que surgiram no meu do caminho.

Cada informação e contato que tivemos com elas fez toda diferença naquele momento, pois estávamos munidos de informação e pudemos lutar pelo direito de trazer nossa filha ao mundo de forma natural.

Pari!!!

Pari minha Laurinha com uma boa dose de tensão,  algumas intervenções como episiotomia e tentativa de manobra de Kristeller, mas amparada pelo meu marido que fez mulhara de um homem só para me proteger e proteger a nossa menina…

Parimos juntos e nos amamos ainda mais!!!

Não tivemos nossa hora dourada pois após seu nascimento ficamos separadas por mais de 5 horas, sem necessidade alguma.

Arquivo pessoal

O segundo parto…

Foto: Cristiane Paixão

A cura de todas as feridas veio na chegada no nosso menino!!!

Já conhecíamos o caminho das pedras, traçamos novos planos, novas rotas, mantivemos apenas a equipe de doulas e enfermeiras, afinal, nosso ciclo precisava fechar, tínhamos uma história juntos e juntos construímos uma tenda de amor, respeito, segurança e harmonia e foi debaixo dessa tenda e nesse clima que eu pari o segundo amor da minha vida no aconchego do meu lar.

Foto: Cristiane Paixão

O nascimento da Laurinha  foi normal, mas não natural!

O nascimento do Bento foi a ressignificação de toda uma jornada como mulher e mãe. Ali pari dois bebes!! Ali pari  Bento e Laura!!

Tive ele em meus braços!! Tive ela perto de mim!!

Me descobrindo doula.

Foto: Cristiane Paixão

Depois de vivenciar a dor e o amor eu não mais era a mesma pessoa!

Algo em mim havia se transformado, eu não me continha mais e tudo me levasse a lutar para que as mulheres que quisessem viver seus partos de forma natural tivessem esse direito respeitado.

Com esse desejo cada vez mais aumentado eu ia levando a sementinha da informação a todas que me davam essa oportunidade e assim…desse jeito assim… a doula aqui dentro foi sendo construída.

Comecei “doulando” as amigas. Logo no meu primeiro parto, como acompanhante de uma grande amiga que havia optado por ter seu bebê pelo SUS, dou de cara com a mesma médica do meu primeiro parto!!!

Simmmm… a mesma pessoa que me coagiu a ponto de eu ter que mudar de hospital em pleno TP!!!

Mas como isso era possível?? Por que estava acontecendo aquilo?? O que ela estava fazendo na minha cidade??

Ali, naquele momento, o desejo de doular se foi…

Com o passar dos dias, conversando, refletindo e avaliando tudo que havia acontecido  eu entendi o meu propósito!! Eu não podia ignorar aqueles sinais e precisava ter ferramentas para ajudar as mulheres e contribuir para que elas não fossem desrespeitadas como eu fui e tivessem autonomia sobre suas escolhas.

Então a decisão foi tomada: vou ser doula! Minha vida foi impactadas por elas e agora essa era minha missão!

Foto: Cristiane Paixão

A fusão entre a professora e a doula…

A sala de aula me permitia aprender enquanto eu ensinava e hoje eu revisito essa mesma experiência todas as vezes que reúno casais numa ciranda para trocar informações.

Aprendo enquanto oriento, é uma via de mão dupla.

Sou fortalecida enquanto fortaleço, me refaço, me reconstruo, me renovo e carrego em mim um pouquinho de cada mulher que acompanho.

Meu trabalho é de formiguinha, mas tenho enorme prazer e honra em cada conquista e sei que tudo está valendo muito a pena.

Ciranda de Mães Foto: Cristiane Paixão

Tenho muita gratidão a minha historia e muito mais maravilhas para agradecer, principalmente aqueles que caminham comigo nessa jornada.

Sou grata também aos obstáculos que tive que transpor, são eles o motivo de eu buscar ser uma pessoa melhor a cada dia e deixar a minha contribuição para cada um que cruza a sua história com a minha.

Hoje trabalho com foco na orientação de casais e mulheres durante a gestação através de encontros presenciais e faço acompanhamento durante o trabalho de parto e parto.

Tenho também um projeto em parceria com uma amiga  nutricionista chamado Ciranda de Mães. As cirandas são gratuitas e  acontecem na última terça feira do mês com temas relacionados a gestação, parto e puerpério.

Em breve serei facilitadora da dança terapêutica Mãe e Bebe.

Você pode conhecer mais sobre mim e fazer parte de um grupo VIP de atendimento se inscrevendo aqui: https://forms.gle/WuXfYYMt6nc37wjx8

Será um prazer trilhar com você essa caminhada!!

Referências

Grupos de apoio a gestantes e casais e seus efeitos na jornada para o protagonismo das mulheres no parto. http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/312789

Processo educativo com gestantes e casais grávidos: possibilidade para transformação e reflexão da realidade. https://www.redalyc.org/pdf/714/71416100015.pdf

 Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto e no parto. https://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232012001000026

Abuso e desrespeito na assistência ao parto como questão de saúde pública no brasil: origens, definições, impactos na saúde materna e propostas para sua prevenção.http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822015000300019

A vivência de mulheres no parto domiciliar e hospitalar. https://www.redalyc.org/pdf/1277/127715305014.pdf

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.