Afinal o que a doula faz? E o que ela não faz?

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O termo “doula” é algo muito novo na sociedade brasileira e consequentemente alvo de muitas dúvidas e confusão. Muitas pessoas confundem doula com parteira e acham que a doula “faz” o parto, ou seja, é a responsável técnica pelas decisões na hora do nascimento do bebê. Outros acham que a doula é uma espécie de super heroína capaz de impedir que a gestante sofra algum tipo de violência no parto, mas isso tudo está bem longe do que uma doula realmente faz e pode fazer pela gestante no trabalho de parto e parto.

Giphy

Vem comigo pra eu te contar um pouquinho como é o trabalho de uma doula e o que nós podemos oferecer (ou não) às gestantes e casais durante a gestação, parto e pós-parto.

Você sabia que a palavra doula é um termo de origem grega e significa “aquela que serve”? Pois bem, servir é o principal papel da doula e ela faz isso de diferentes formas nos diferentes momentos que perpassam a gestação, trabalho de parto, parto e pós parto.

O papel da doula na gestação

Tudo começa na gestação quando o principal trabalho da doula é o de apoio informacional e de orientação ao casal . É neste momento que a doula tem a oportunidade de sanar as dúvidas da dupla, de apresentar-lhes a realidade obstétrica existente e discutir as possibilidades. Lembrando que a escolha é sempre da gestante, do casal, pois a doula não tutela, apenas informa! Também neste momento a doula irá trabalhar com o eles informações relativas à fisiologia do parto, ou seja, como o corpo funciona neste momento, além de outras informações como procedimentos que podem vir a serem realizados, indicações reais que podem levar à necessidade de uma cesariana, construção de um plano de parto, entre outros. A gestação também é o momento em que a gestante construirá um vínculo de confiança com sua doula, o que fará toda a diferença no momento do parto. Ela poderá falar sobre suas dúvidas, seu medos e assim fortalecer sua autoconfiança e seu empoderamento que serão fundamentais na hora de parir.

Mas como tudo isso é construído durante a gestação?

Eu particularmente (assim como a grande maioria das doulas q conheço) faço isso através de encontros presenciais e disponibilidade online (pelo famoso “zapzap” na maior parte do tempo), além de fornecer materiais informativos e indicação de leitura, documentários, estudos e até indicação de profissionais que possam vir a atender às necessidades da gestante, do casal.

E no dia do parto?

Eu, doulando a Pri no parto domiciliar da Ellen em Junho/2018 – Foto por Nona Lua Fotografia

No dia em que a gestante entra em trabalho de parto, chega a hora da doula colocar “a mão na massa”, ou seja é o momento de acolhimento e suporte emocional e de alívio da dor que pode acontecer de diferentes maneiras, desde simplesmente por sua presença e olhar até sugestões de posições, massagens para alívio da dor, uso de técnicas de respiração, uso da bola, uso do chuveiro ou exercícios específicos que podem ajudar no encaixe do bebê e consequentemente no alívio da dor. Algumas doulas também utilizam outras abordagens como uso de aromaterapia ou acupressão, por exemplo. Em geral são técnicas simples mas que fazem toda a diferença para a mulher naquele momento de abertura física e principalmente emocional para permitir a chegada de um novo ser a esse mundo, cujo veículo/via de transporte/passagem é o corpo/a pelve de sua própria mãe.

Não é atoa que pesquisas feitas no exterior tem indicado um resultado incrível, alcançado pela presença de uma doula no parto:

  • Diminuição de 50% das taxas de cesariana
  • Redução de 20% no tempo de trabalho de parto
  • Diminuição de 60% dos pedidos de anestesia
  • Redução de 40% do uso de ocitocina (hormônio utilizado sinteticamente para produzir contrações)
  • Diminuição em 40% no uso de fórceps

Além de todas essas taxas incríveis, o principal resultado que se observa é uma maior satisfação da mulher com sua experiência, vivenciando-a de forma mais positiva e prazerosa.

No dia do parto a doula ainda pode ser um suporte para o parceiro, acalmando-o ou mesmo sugerindo formas de apoio que o acompanhante pode dar à parturiente para contribuir de forma mais efetiva.

Doula não é parteira!

Vale ressaltar que NÃO é papel da doula, em circunstância nenhuma realizar qualquer tipo de trabalho técnico como auscultar o coração do bebê ou fazer toque na gestante para medir a dilatação. Esse tipo de trabalho cabe à enfermeira/o obstetra, obstetriz ou médica/o obstetra e suas funções NÃO se misturam.

Ainda no dia do parto, no pós-parto imediato, a doula pode auxiliar a mãe com a amamentação e os primeiros contatos com o bebê. Lembrando que uma boa pega pode fazer toda a diferença para o sucesso da amamentação, evitando machucados na mama e promovendo uma ordenha mais eficiente.

Mamãe Mariana amamentando o Pedro em seu primeiro mês de vida.

Assim como a maioria das doulas, eu ainda realizo um (ou mais) atendimento pós-parto em domicílio e continuo dando suporte online até cerca de um mês após o nascimento do bebê. Nesse período a doula ainda pode auxiliar a mãe com questões relativas à vivência pessoal da experiência do parto, nas questões da amamentação e do puerpério ou nos cuidados práticos com o bebê como uso de sling, banho de balde entre outros.

É, a doula pode ser uma grande aliada na vivência de um dos momentos mais incríveis na vida de uma mulher e de uma família, que é a chegada de um bebê! Tenha uma doula pra chamar de sua e se permita receber todo o apoio e cuidado que você merece!

 

Referências:

Estudando sobre doulas  http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/estudando-sobre-doulas-ii.html?q=doula

Apoio contínuo para mulheres durante o parto https://www.cochrane.org/pt/CD003766/apoio-continuo-para-mulheres-durante-o-parto

Kennel, J.H.; Klaus, M.H.; McGrath, S.K.; Robertson, S.S.; Hinkley, C.W. “Continuous Emotional Support during Labor in US Hospital.” Journal of the American Medical Association 265(1991): 2197-2201
Resumo: Esse trabalho marcante em Houston, TX, citado frequentemente, cita reduções incríveis nas taxas de cesárea (50%), parto a forceps (40%), requisição de peridural (60%) ou outros medicamentos para dor (40%), duração do trabalho de parto (25%) e necessidade de ocitocina (50%).

 

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