Estamos nos aproximando de um dos maiores feriados do ano e com ele chegam também as desculpas esfarrapadas para cesáreas eletivas de “urgência”.
Não é à toa que todo ano, profissionais e ativistas pela humanização do parto e nascimento alertam para essa prática rotineira nos hospitais nessa época. Dia 20 de dezembro é considerado o “Dia Nacional do Sofrimento Fetal”, uma denúncia sobre o aumento significativo do número de cesáreas agendadas antes das festas de Natal e Ano Novo.
Nesse post você vai encontrar
Cenário obstétrico brasileiro
Nosso atual modelo de assistência obstétrica é centrado no hospital e no médico, excessivamente tecnocrático e caracterizado por elevadas taxas de cesárea, de partos traumáticos e/ou com excesso de intervenções e de prematuridade. Apesar da Política Nacional de Humanização do Parto e Nascimento preconizada pelo Ministério da Saúde, esse “novo” modelo ainda não permite assistência ao parto de forma humanizada e segura à maioria das mulheres. E embora tenhamos 98% de partos hospitalares e a adoção indiscriminada da tecnologia para assistência ao parto, a mortalidade materna e neonatal persistem elevadas.
A concepção de que o parto é um processo perigoso e que precisa ser controlado para garantir um bom desfecho é ainda um discurso muito forte e defendido pelo sistema. Mesmo as evidências científicas comprovando que tentativas de controlar o parto estão sujeitas a riscos iatrogênicos reais e comumente resultam em uma cascata de intervenções, além de mais riscos para mães e bebês.
As “cesáreas de fim de ano” salvam a vida social dos médicos e equipes, além da rotina hospitalar, mas colocam em risco a vida de inúmeras mulheres e bebês.
A cesárea desnecessária
A cesárea é uma cirurgia de grande porte que pode salvar a vida de mães e/ou bebês quando ocorrem complicações durante a gestação ou o parto, mas que só deve ser realizada quando há uma real necessidade, pois pode acarretar uma série de problemas para a saúde da dupla mãe-bebê.
Algumas delas, para a mãe:
- maior risco de morte,
- maior risco de infecção,
- recuperação mais lenta,
- maior risco de complicações na próxima gravidez.
Para o bebê:
- maior risco de prematuridade,
- maior chance de problemas respiratórios,
- bebê sob efeito de anestesia.
Para ambos:
- primeiro contato afetado,
- interferência no vínculo,
- interferência no aleitamento materno.
Mas o que presenciamos no Brasil é uma utilização abusiva dessa intervenção médica, sem real benefício para as mulheres e seus bebês. A pesquisa Nascer no Brasil (2016) revelou que o número de nascimentos por cesariana está mais de três vezes acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Foram 56% de nascimentos por cesariana, quando a taxa aceitável é de até 15%. Esse número excessivo de cesáreas expõe desnecessariamente as mulheres e os bebês aos riscos de efeitos adversos no parto e nascimento.
Prematuridade iatrogênica
Recentes evidências sugerem que o modelo medicalizado de nascimentos, onde há excesso de intervenções no parto (medicamentos para indução ou aceleração do parto, amniotomia, anestesia, episiotomia), e principalmente a cesariana desnecessária, tiveram como uma das suas consequências o aumento na taxa de nascimentos prematuros.
Dado confirmado também pela pesquisa Nascer no Brasil (2016), que revelou que a taxa de prematuridade brasileira (11,5%) é quase duas vezes superior à observada nos países europeus, sendo 74% destes prematuros tardios (34 a 36 semanas gestacionais). Apontou também que muitos desses casos podem decorrer de uma prematuridade iatrogênica, ou seja, bebês retirados sem indicação, em mulheres com cesarianas agendadas ou com avaliação incorreta da idade gestacional.
A prematuridade é a principal causa de morte de crianças e está associada a várias doenças na infância e ao longo de toda a vida. São bebês que têm risco quase 3 vezes maior de morte neonatal, que internam mais, ficam afastados de suas mães e perdem a oportunidade de vinculação e afeto, têm mais problemas respiratórios, icterícia mais grave, dificuldade no aleitamento materno, problemas alimentares, alergias e asma. Também têm mais problemas no desenvolvimento neurológico e psíquico. Mais chance de obesidade, diabetes e hipertensão na vida adulta.
São bebês retirados antes de estarem prontos, que não adquiriram o peso e a maturidade que poderiam ter, minando sua força e capacidade de desenvolvimento pleno. Mesmo não sendo prematuros (menos de 37 semanas), podem ser imaturos.
Quem tem informação, tem poder!
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** Foto de capa: Foto premiada pelo Birth Becomes Her (2018), de Neely Ker – Georgia. Retirado do site brasil.elpais.com
Referências:
- Indicações reais e fictícias de cesariana. Melania Amorim, 2019. – http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html
- Recomendações da OMS: cuidados intraparto para uma experiência positiva no parto, 2018. –https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272447/WHO-RHR-18.12-eng.pdf?ua=1
- Nascer no Brasil, 2017. – http://www6.ensp.fiocruz.br/nascerbrasil/
- Pesquisa Nascer no Brasil revela novos dados sobre prematuridade. Blog da Saúde/Ministério da Saúde, 2016. – http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/52044-pesquisa-nascer-no-brasil-revela-novos-dados-sobre-prematuridade?fbclid=IwAR06g_Fgjn-Pacs6HALUPOphngaKIOb0-XHwAqBopvhh0ZYIwOjTyXRdTEE