Sangue, suor, lágrimas “y otras cositas más”! Gosto de dizer que o parto é uma caixinha de surpresas porque por mais que a gente deseje, sonhe, busque e planeje, não tem o controle de tudo. Somente vivendo o momento para experienciá-lo como ele se apresenta.
Mas mesmo com essa incerteza, é possível vivenciar a espera com tranquilidade e ter uma experiência positiva de parto. Se preparar para esse processo pode fazer toda a diferença!
Nesse post você vai encontrar
Informação é poder!
Mas por que me preparar para o parto, se ele pode acontecer completamente diferente do planejado? Aqui é que está o poder transformador que só o conhecimento pode nos dar! É através da informação que teremos realmente autonomia para decidir sobre nossas escolhas e que seremos protagonistas do nosso processo. Respeito à autonomia e ao protagonismo feminino é um dos pilares da humanização do parto e nascimento.
O parto é um momento singular na vida de uma mulher e de sua família. Um tema cercado por muitas expectativas e também muitos mitos e medos. Então, se preparar para este momento é super importante (e também para a amamentação e para o puerpério, ok!?)! É nessa preparação que vamos entender em qual cenário obstétrico estamos inseridos:
- o Brasil é um dos líderes do ranking de países com maior taxa de cesárea no mundo. Mais da metade dos nascimentos são feitos por cesariana, segundo a pesquisa “Nascer no Brasil” de 2014, quando o recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é de no máximo 15%. Na rede privada os dados são ainda mais alarmantes, atingindo quase 90% das vias de nascimento;
- Apresentamos índices altíssimos de violência obstétrica. Uma em cada quatro brasileiras relatou ter sofrido algum tipo de agressão durante o pré-natal, o parto, o puerpério (pós-parto) ou numa situação de aborto, segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo de 2010;
- Mulheres negras são as maiores vítimas da violência obstétrica no Brasil. Segundo dados de 2014 do Ministério da Saúde, a mulher negra recebe menos tempo de atendimento médico do que uma mulher branca; enquanto 46,2% das mulheres brancas tiveram acompanhantes no parto, apenas 27% das mulheres negras utilizaram esse direito; enquanto 77,7% das mulheres brancas foram orientadas para a importância do aleitamento materno, 62,5% das mulheres negras receberam essa informação; 60% das mortes maternas ocorrem entre mulheres negras.
- É crescente a parcela de mulheres insatisfeitas com o atual modelo de assistência ao parto e nascimento no nosso país. Esse modelo tecnocrático, centrado no médico e no hospital, com elevadas taxas de cesárea e/ou partos violentos e com excesso de intervenções, que repercute com o aumento da prematuridade e outros efeitos adversos sobre a saúde da mulher e do bebê, tanto no setor público quanto no privado. E crescente também é a busca por uma assistência mais respeitosa e digna, o modelo humanista.
A partir disso é que seremos capazes de entender que existe uma outra forma de assistência ao parto e nascimento e traçar planos em busca de uma assistência mais condizente com o que acreditamos. Uma assistência individualizada; centrada nos nossos direitos e nas nossas necessidades. Que além do respeito à mulher, tem a visão do parto como evento saudável, integrativo e transdisciplinar e tem o respaldo da medicina baseada em evidências (outros dois pilares da humanização do parto e nascimento).
A importância do Plano de Parto
Basicamente, o Plano de Parto é um documento elaborado pela gestante, no qual ela registra seus desejos e o modo como decide ter o seu bebê. Recomendado pela OMS, é uma ferramenta de fundamental importância para o empoderamento feminino, podendo garantir uma melhor qualidade da assistência e uma experiência mais satisfatória do parto.
Sua importância se dá não só por ser um documento onde fica registrado de forma clara tudo aquilo que a gente deseja da assistência em relação ao trabalho de parto, parto, cuidados com o bebê e pós-parto imediato, como também por demonstrar que estamos minimamente informadas sobre os procedimentos feitos no decorrer desse processo e que não gostaríamos de ser tratadas com intervenções de rotina, mas com cuidado individualizado e recebendo apenas intervenções se realmente forem necessárias.
Para isso é necessário estudar e entender como desejamos que seja conduzido esse processo, para sermos realmente protagonistas da nossa história. E para além do cenário obstétrico, é essencial saber também:
- as transformações biopsicossocioespirituais causadas pela gestação e todos os processos que se sucedem à ela (transformações significativas na vida de toda a família, mas especialmente na vida da mulher; e a maneira como ela vivencia essa experiência é importante para a própria percepção deste ciclo e da maternidade);
- cuidados durante a gestação e pré-natal;
- quais opções de profissionais, equipes e locais de parto na cidade e região (ou da localidade de interesse);
- fisiologia e fases do trabalho de parto;
- intervenções que podem ocorrer na mãe e no bebê durante o trabalho de parto;
- amamentação e cuidados com o bebê;
- cuidados no pós-parto;
- puerpério;
- e tantos outros temas que uma doula pode facilitar.
É estudando para elaborar como você deseja viver esse momento, que vai descobrir também que podem acontecer situações fora dos seus planos. A bolsa que rompe antes do trabalho de parto, bebê pélvico, pré-eclâmpsia, mecônio, trabalho de parto longo demais, transferência, analgesia ou várias outras situações que podem acontecer durante a gestação e mesmo durante o trabalho de parto, incluindo a cesárea.
É importante elaborar um plano A e B, C, D ou o alfabeto inteiro. Imaginar como o parto pode acontecer, mas estar aberta e acolher as mudanças que ocorrerem durante todo o processo para lidar melhor com a situação e, ainda assim, ter uma experiência positiva de parto.
Mesmo que o parto aconteça de uma forma bem diferente do que você esperava, pode ser uma experiência fantástica. Não desista, nem se entregue aos primeiros sinais de alteração. O parto é trabalhoso, dizem até que semelhante a uma maratona. Um momento de muita entrega, de superação de limites e de prazer também. Deixe o parto te surpreender e lute por ele!
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Referências
- Nascer no Brasil: Ministério da Saúde e Fiocruz divulgam resultados de pesquisa sobre atenção ao parto e nascimento no país – http://redehumanizasus.net/84530-nascer-no-brasil-ministerio-da-saude-e-fiocruz-divulgam-resultados-de-pesquisa-sobre-atencao-ao-parto-e-nascimento-no-pais/
- Violência no parto: Na hora de fazer não gritou – https://fpabramo.org.br/2013/03/25/violencia-no-parto-na-hora-de-fazer-nao-gritou/
- Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado – Fundação Perseu Abramo – http://apublica.org/wp-content/uploads/2013/03/www.fpa_.org_.br_sites_default_files_pesquisaintegra.pdf
- Campanha mobiliza a população contra o racismo no SUS – Blog da Saúde/Ministério da Saúde – http://www.blog.saude.gov.br/34777-campanha-mobiliza-a-populacao-contra-o-racismo-no-sus
- OMS publica novas diretrizes para reduzir intervenções médicas desnecessárias no parto – https://nacoesunidas.org/oms-publica-novas-diretrizes-para-reduzir-intervencoes-medicas-desnecessarias-no-parto/
- Doula: presença fundamental na gestação, no parto e no puerpério – https://blog.casadadoula.com.br/2019/01/14/doula-presenca-fundamental-na-gestacao-no-parto-e-no-puerperio/
- Parto orgásmico ou o parto como prazer – https://blog.casadadoula.com.br/2018/02/08/parto-orgasmico-ou-o-parto-como-prazer/
Uma resposta para “Parto, uma caixinha de surpresas!”