Nascer em casa: é possível?

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Mal descobrimos a gestação e já começamos a pensar no parto. Afinal, é tudo tão novo, tão fascinante, tão assustador! Inúmeras dúvidas surgem na nossa mente: vou conseguir? normal ou cesárea? qual médico vai me acompanhar? preciso mesmo de doula? E, não menos importante, onde vou parir?

É ai que começam as buscas por uma maternidade que respeite suas vontades, seja acolhedora, com uma equipe nota 1000, que você possa se sentir em casa. Em casa? Porquê não? Afinal nosso lar é o lugar mais calmo, acolhedor e seguro para nós, perfeito para esse momento tão importante na minha vida!

Como o Hospital se tornou cenário principal do parto?

Ao longo de décadas ou milênios a humanidade cresceu através de partos domiciliares (PD). Os partos, em tempos antigos, eram vistos como um evento familiar. Naquele momento, as mulheres se reuniam em torno da gestante para trazer aquele ser ao mundo, de modo que esse conhecimento era passado de geração em geração.

Por volta do início do século XIX, com a chegada da medicina no Brasil e a criação de cursos de partos, começamos a perceber a mudança na assistência ao parto. Nesse ínterim vemos a mudança do cenário obstétrico para o hospital, assim como, a hegemonia médica e diminuição do papel da mulher no cenário obstétrico. O parto passa a ser visto como perigoso e patológico e ocorre a perda do protagonismo feminino no momento do parto. Essa discussão é tão ampla que merece ser conversada em outro momento, onde poderemos nos debruçar mais detalhadamente sobre esse aspecto. Por hora, vamos voltar ao Parto Domiciliar.

Fonte: Flickr

A reconquista pelo espaço

Nos últimos anos as mulheres tem conquistado cada vez mais de volta seu espaço como protagonista no momento do parto. Essas conquistas acontecem a partir de movimentos sociais como o feminista e por meio de defensores do Movimento pela Humanização da Assistência ao Parto que se esforçam no combate e estudo relacionados a violência obstétrica e a hegemonia ao modelo biomédico vigente. Uma dessas conquistas é a escolha por realizar um Parto Domiciliar Planejado.

Lutas sociais pela humanização do parto. Fonte: Google

O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhecem o domicílio como local de parto seguro, desde que seja escolha da mulher e que exista uma assistência adequada.

Mas quem acompanha a mulher nessa jornada?

Fonte: Google

Ao contrário do imaginário popular, num Parto Domiciliar não é só necessário água quente e toalhas brancas (se bem que essas podem ser bem úteis…). O parto domiciliar deve ser assistido por profissionais da área de saúde, sejam eles enfermeiros obstetras, obstetrizes ou médicos obstetras. Normalmente as equipes especializadas em PD trabalham em duplas. A presença da doula é de escolha da mulher.

Estudos realizados mostram que não existe diferença significativa quando comparados partos realizados em ambiente hospitalar ou domiciliar. O risco existe independente do local de parto, o que pode interferir nisso é o preparo da equipe que está prestando assistência. Por esse motivo a OMS coloca alguns preparativos essenciais para realização do parto em domicílio, como agua potável, ambiente aquecido, materiais disponíveis e transporte para uma possível remoção a um centro de referência, caso seja necessário. Outros autores também colocam como critérios importantes para um parto domiciliar: baixo risco gestacional, qualidade da assistência e redução de intervenções.

Por que eu escolheria um PD?

Antes de falar o que leva uma mulher a essa escolha, é importante lembrar que a mulher tem o direito a essa escolha. A OMS  orienta que a escolha ao local de parto pela mulher deve ser respeitado, desde que essa decisão venha de uma escolha informada.

Infelizmente, o PD ainda é uma realidade de uma classe econômica mais privilegiada, com bom acesso a informação e disponibilidade para arcar com os custos de uma equipe especializada, já que não é um serviço disponível no SUS (Sistema Único de Saúde).

Pesquisas mostram também que outro motivo para mulheres optarem pelo PD está relacionado as más experiências vivenciadas ou conhecidas por essas mulheres em ambientes hospitalares como medo do hospital, medo de intervenções desnecessárias, confiança na equipe e sentir-se bem em casa.

Com essas informações, você agora sabe que o Parto Domiciliar é possível e seguro. E, ao contrário do que muitos pensam ele é, sim, assistido por uma equipe profissional responsável que irá realizar toda assistência necessária, inclusive uma remoção caso indicada ou solicitada pela gestante. O Parto Domiciliar resgata na mulher todo seu protagonismo em relação a seu corpo e ressalta o seu direito de escolha e autonomia. Então, se você deseja um Parto Domiciliar, vá em frente. Abaixo, deixo mais umas dicas para essa escolha.

7 dicas para o Parto Domiciliar

1 – sua gestação é tranquila? sem intercorrências (o que os profissionais chamam de gestação de risco habitual ou baixo risco)? Se sim, você é uma candidata. Não podemos esquecer que o trabalho de parto deve começar espontaneamente a partir das 37 semana.

2 – Conheça os serviços disponíveis a você e o tipo de assistência prestada (hospitais próximos ou ligados ao convenio médico e protocolos de atendimento).  Afinal, mesmo escolhendo pelo PD voce pode precisar desses serviços como segunda opção. Converse com outras mulheres sobre seus partos.

3 – Visualize-se parindo. Em que lugar quero estar? Com qual tipo de assistência e equipe? Visualize-se parindo em casa: se sentiu segura? conseguiu se perceber bem naquele local? Se sim, já é meio caminho andado.

4 – Procure uma equipe especializada e de confiança. Essa equipe estará junto com voce durante todo o seu trabalho de parto. Na maioria das vezes a equipe também faz consultas de pré natal para acompanhamento e orientações. É interessante ressaltar, que no parto domiciliar, a assistência é totalmente individualizada e diferente do ambiente hospitalar onde a equipe se divide no acompanhamento de inúmeras pacientes.  A doula sempre é uma escolha da gestante, lembre-se que ela pode ajudá-la, e muito, nessa travessia.

5 – Apoio da família. É muito normal ouvir inúmeras críticas quando se opta pelo PD. Nao ligue para elas. Lembre-se sempre que o modelo biomédico ainda impera em nosso país e o lugar do hospital e do médico como detentores desse saber também. Dessa forma é importante que você seja apoiada por quem está do seu lado nesse momento, seja companheirx, mãe ou amigo. Peça para essa pessoa estar ao seu lado nessa escolha e nos acompanhamentos. Isso te fortalecerá.

6 – Esteja muito convicta da sua escolha. Perceba e elabore bem os caminhos que te levaram a essa decisão. Estude, informe-se, empodere-se para o parto e para conseguir lidar com os comentários depois (sendo o desfecho positivo ou negativo, eles irão acontecer).

7 – Escreva um bom plano de parto, contendo tudo aquilo que foi estudado, avalie os Planos B e C. Transferências podem acontecer e precisamos nos preparar para elas.

E, por último, entregue-se! Viva o momento! Tudo está correndo como o planejado. Agora, aproveite!

Referências Bibliográficas

A Situação do Parto Domiciliar no Brasil. https://www5.bahiana.edu.br/index.php/enfermagem/article/view/38

A percepção dos profissionais sobre a assistência ao
parto domiciliar planejadohttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1983-14472013000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Perfil de casais que optam pelo parto domiciliar assistido por enfermeiras obstétricas. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-81452013000200014&script=sci_abstract&tlng=pt

Informação para a Opção pelo Parto Domiciliar Planejado: um Direito de Escolha das Mulheres http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n3/pt_0104-0707-tce-23-03-00665.pdf

A Escolha pelo Parto Domiciliar: História de Vida de
Mulheres que Vivenciaram esta Experiência http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=127715323022

Você conhece as recomendações da OMS para o parto normal?https://www.unasus.gov.br/noticia/voce-conhece-recomendacoes-da-oms-para-o-parto-normal

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