Mulheres negras e o cenário obstétrico

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Você acha que é fácil ser negro no Brasil?

No Brasil, o racismo já é proibido por lei. Porém, não é bem assim que acontece, não é mesmo?! Infelizmente.

Agora, se ser homem negro não é fácil, imagina ser uma mulher negra no Brasil?

Foto Retirada do Google imagens.

“As mulheres negras vivem com uma condição mais severa, pois precisam enfrentar o racismo e machismo.”

É desesperador como cresce a violência contra mulher, só por ser mulher, no Brasil.

A mulher negra foi hipersexualizada, era (e é preciso ressaltar que, infelizmente isso ainda é comum) vista apenas como um objeto. Eram vítimas de abuso sexual.

Precisando muita das vezes, abortar, dar o bebê ou até escondê-los dos seus senhores (patrões), que não queriam ser descobertos e nem queriam que elas parassem com seus trabalhos.

Imagem Retirada do Google imagens.

“A maternidade foi negada muitas vezes para as mulheres negras, mas elas tinham que amamentar os filhos das brancas.”

Talvez você não entenda o sentido desse texto. E pode ser também, que você pense que isso é coisa antiga; e racismo, já nem mais exista.

Mas é só olharmos as estatísticas ou conversarmos com essas mulheres negras, que veremos que essa infelizmente, ainda é uma realidade no Brasil.

Agora vamos entender um pouco mais como funciona para a mulher negra o cenário obstétrico.

Racismo Institucional

Para entendermos como as mulheres negras são prejudicadas na gestação, parto, pós-parto e aborto.

Teremos que falar e entender como funciona o racismo institucional.

O racismo institucional é quando negros são discriminados e rejeitados de forma direta ou indiretamente.

Pode acontecer com o funcionário negro e/ou com a pessoa negra que precisar usar determinado serviço, como acontece com as mulheres no cenário obstétrico.

No racismo institucional, a pessoa negra está sempre em desvantagem nos serviços ofertados.

Os profissionais de saúde, tratam as pessoas negras de formas diferenciada, negligenciada e discriminatória.

Violência Obstétrica

O termo violência obstétrica tem se tornado conhecido agora, mas as mulheres já sofriam essa violência há muito tempo.

Antigamente, o parto era um evento feminino, que acontecia na casa da parturiente. Com o passar do tempo e o avanço da medicina, o parto se tornou um evento hospitalar e masculino.

Violência obstétrica é quando a mulher tem o seu protagonismo roubado. Através do desrespeito,  maus tratos, abusos e uso de práticas não baseadas em evidências científicas.

A violência obstétrica pode acontecer na gestação, parto, pós parto e também em situações de aborto.

Pode ser uma violência caracterizada como física, psicológica, verbal e sexual.

Pode vim disfarçada de cuidados médicos para “salvar bebês” ou de piadinhas, piadas que não têm graça nenhuma.

Apesar da violência obstétrica atingir a maioria das mulheres, infelizmente as mulheres negras, ainda são as maiores vítimas.

Como as mulheres negras são vítimas da violência obstétrica? 

Imagem Retirada do Google imagens.

Você já ouviu dizer que as mulheres negras são boas parideiras? Ou que são mais resistentes a dor? São fortes?

Até parece elogio, né? ha ha ha

São com essas falas que as mulheres negras têm seus direitos negados. Através de:

  • Menos consultas de pré-natal, impossibilitando assim de fazer diagnósticos que poderiam ser importantes para saúde da mãe e bebê.
  • Consultas mais rápidas (menos de 15 min), bem parecido com o item acima, as consultas são superficiais. É  como se por serem fortes, as mulheres negras estivessem isentas de qualquer complicação na gestação.
  • Analgesia negada na hora do parto. Muitas vezes, elas são cortadas (episiotomia) sem a anestesia. Boas parideiras, né?
  • São silenciadas, quando são deixadas de “castigo” se ficarem gritando no momento do parto. A maioria delas já chegam no hospital com bastante medo.
  • As mulheres negras, também demoram mais tempo para serem atendidas, sendo em instituição privada ou pública.
  • Ouvem mais piadinhas como “na hora de fazer, não reclamou”, “grita desse jeito, mas vai tá aqui ano que vem de novo”, entre outras..
  • As mulheres negras, também são as que menos se casam e que mais engravidam e seguem como mãe solo, isso pode até não ter relação com a saúde pública, mas diz muito sobre o racismo e machismo, que tratam as mulheres negras, apenas como objeto sexual.
  • E, ainda, é triste ter que ressaltar, que segundo dados lançados em 2014 na campanha “SUS sem racismo” mostrou que 60% das mortes maternas são de mulheres negras.

Mortes que poderiam ter sido evitadas, se elas tivessem sido tratadas com respeito e igualdade.

A negligência à mulheres negras, precisa acabar. Antes que se acabem com as mulheres negras!

Elas também são menos instruídas em relação ao aleitamento materno em comparação com as mulheres brancas, que recebem orientação ainda na maternidade.

O aborto no Brasil, ainda é visto como crime. Porém, mediante a uma pesquisa, foi comprovado que ao completar 40 anos, mais de uma em cada cinco mulheres já fizeram aborto, sendo essas jovens, negras e pobres, as mais afetadas.

Por ser crime, elas acabam tendo que silenciar a violência e toda a dor que sentem nesse processo. São essas mulheres jovens, negras e pobres que mais morrem em aborto clandestino. Para cada uma mulher branca internada para finalizar um aborto clandestino, são internadas três mulheres negras.

E, mesmo quando o aborto não é clandestino e sim espontâneo, elas sempre enfrentam a demora do atendimento e são as que mais precisam voltar ao hospital para refazer a curetagem.

Onde fica a humanização do parto, nessas horas?

Foto Retirada do Google imagens

Quando acabar o texto, jogue no Google “vídeos de parto humanizado” e verá que nos principais, não aparecerá nenhuma mulher negra parindo.

Será que a humanização tem sido realmente para todas? Ou será que seguimos o ritmo, e a humanização só tem chegado para as mulheres brancas?

Quantas mulheres negras, nós doulas atendemos? Como nós doulas, podemos fazer com que a humanização chegue para todas? Se você não é doula, mas também está presente como profissional na humanização do parto, deve se questionar também.

A humanização do parto, é para todas. Todas as mulheres importam de igual forma ou estaremos sendo coniventes com o sistema.

“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser anti-racista” Angela Davis.

Mulheres negras importam!!!

*A imagem destacada foi retirada do pinterest, e assim como as outras, eu não consegui identificar quem eram os reais donos das imagens e fotos usadas.

Abaixo, segue alguns links para você que se interessou no texto, possa continuar lendo, entendendo e aprendendo mais sobre esse assunto. Vale mesmo a pena!

  1. Mãe preta, Estudo sobre o índice de Violência Obstétrica entre mulheres negras.
  2. Mulheres negras e aborto: Autonomia e Liberdade
  3. Racismo Institucional e Saúde da Mulher Negra
  4. Racismo Institucional: Um desafio para a equidade no SUS?
  5. Mortalidade Materna de Mulheres Negras no Brasil.

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