O Puerpério e a Rede de Apoio

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O PUERPÉRIO ou PÓS-PARTO costuma ser um período bastante dolorido. Nada como uma boa REDE DE APOIO pra “acalmar” esses dias tão difíceis. 

Você já pensou como será o seu pós-parto? Sabe quais são as dificuldades que vai encontrar nesse período?Já tem sua REDE DE APOIO?

Vamos, juntas, conhecer mais sobre esse tema tão importante no universo da Maternidade, que é tão pouco conversado e compreendido. 

Te convido pra uma conversa amiga, franca e acolhedora… Bora lá?!

 

O PUERPÉRIO OU PÓS-PARTO

Uma mulher que acabou de dar à luz, ou seja, que teve bebê há pouco tempo é chamada de PUÉRPERA. Portanto, seja lá qual foi a via de nascimento do bebê, uma mulher recém parida está vivendo o PUERPÉRIO, ou mais comumente chamado de PÓS-PARTO. 

Talvez esse seja o momento mais delicado da vida de uma mulher. 

Nasce nosso bebê e nós Renascemos mães. Aqui a palavra renascimento pode ter uma conotação muito romântica, e realmente pode ser em diversos momentos. Mas, também é dolorida, uma dor que sentimos ao nos despedir da mulher que fomos.

Introspecção (crédito: pixabay.com)

Nesse período passamos por muitas mudanças intensas, emocionalmente e fisiologicamente. Vamos falar brevemente sobre elas. 

 

O PUERPÉRIO E AS QUESTÕES FISIOLÓGICAS

Seja lá qual foi a via de parto que o bebê nasceu (parto vaginal ou cesariana) todas as mulheres recém paridas sentirão seu útero contrair a cada vez que seu bebê mama, e normalmente nos primeiros dias essas contrações podem ser bastante doloridas. Essas contrações são conhecidas como “contrações puerperais” e se parecem com fortes cólicas menstruais. Elas ajudam o útero a contrair e voltar para dentro da pelve com o tamanho e forma habituais. Com o passar dos dias essas dores vão diminuindo até cessar. 

Todas nós também vivenciamos no pós-parto o sangramento uterino que pode durar alguns dias (aproximadamente 40, mas varia de cada mulher e do tipo de parto), e também faz parte da recuperação do útero. Por esse motivo o período de pós-parto é chamado pelas nossas mães e avós de “resguardo”.

Para a mulher que viveu um parto vaginal e teve o períneo (camada muscular que sustenta os órgãos da pelve) íntegro, ou seja, sem roturas depois do parto, a sensação mais incômoda será um ardor na região do períneo que logo vai passar. Por outro lado, algumas mulheres podem ter roturas superficiais a nível de mucosa que não precisam de pontos, já outras precisarão de sutura. Os pontos são feitos com anestesia local para que a mulher não sinta dor, a cicatrização não é demorada e a região fica sensível e incômoda por alguns dias. Nesses casos, Janet Balaskas sugere em seu livro Parto Ativo, que as mulheres façam banhos de assento cicatrizante e anti-séptico nos primeiros dias de pós-parto que vão garantir uma boa recuperação e prevenir infecções. 

Para as mães que tiveram seus bebês via cesariana o pós-parto é um pouco mais doloroso, já que além dessas mudanças fisiológicas do corpo no puerpério (citadas resumidamente acima), a mulher também estará se recuperando de uma cirurgia de médio a grande porte, ou seja, a mãe estará vivendo um pós-parto juntamente com um pós-operatório, exigindo um repouso maior e mais cuidados.

Amamentação
Início (crédito: semprematerna.com.br)

Algumas de nós passarão também por dificuldades no início amamentação, pois é um processo de aprendizagem da mãe e do bebê. Esse processo pode demorar alguns dias ou pode ser lento, e pode ou não ser dolorido. O importante é estar ciente de que cada mãe e cada bebê tem seu tempo. E quanto mais APOIO a mulher tem nesses dias, mais tranquila e bem sucedida será a amamentação. 

 

O PUERPÉRIO E AS QUESTÕES EMOCIONAIS

Nasceu o bebê!

… Eis que chega o PUERPÉRIO, sendo que a maioria de nós nem sabe o que é esse nome estranho. 

E… sim sa la bim… como num passe de mágica, nasce naquele exato momento uma mãe, e antes de mais nada uma Mãe Puérpera

Novos sentimentos estão presentes nos nossos dias. Uma força da natureza feminina selvagem chega, negar isso dói, e aceitar isso é um mergulho, pois nos vemos muitas vezes fora do contexto social “patriarcal”.

Então pensamos: Por que ninguém me disse isso? Por que eu não sabia que seria assim? Por quê?

O PUERPÉRIO é um mergulho numa nova vida, novas sensações, sentimentos intensos, dias longos, horas infinitas… e de repente vem aquele sono que chega a doer e nos damos conta que dormimos apenas duas horas que passaram voando como breves cinco minutos. 

A puérpera vive um paradoxo de sensações, que se contradizem o tempo todo. Muitas vezes a gente olha nos olhos daquele serzinho lindo com o coração cheio de amor e alegria, e dali a menos de um minuto estamos em prantos, escorrem lágrimas de tristeza, de solidão. Sim, solidão! A gente está acompanhada por nosso mais novo e imenso amor, e nos sentimos sozinhas, muitas vezes uma sensação que beira o abandono.  

Nos sentimos fortes e poderosas depois da maternidade, e somos mesmo, a vida vem do nosso útero! Aquele amor todo veio de dentro de nós! E ao mesmo tempo nos sentimos frágeis, sozinhas, inseguras e com diversos medos. Tem dias que nos sentimos feias, vestidas pra nunca mais sair de casa, sim, essa pode ser a sensação daqueles dias intensos de pós-parto… isso não acaba nunca mais?! 

A Solidão Materna (crédito: pixabay.com)

A mulher se vê devastada pela erupção de um vulcão interior depois do parto. As feridas são físicas, psíquicas, e emocionais. Precisamos ter consciência disso, saber que vamos passar por essas sensações após o nascimento do bebê,  sair desse universo encantado e infantilizado que a sociedade criou em volta da gestante. É necessário estudar, tomar decisões, se preparar, ler muito, conversar com outras mães, pensar em quem será nossa REDE DE APOIO. 

Quem estará ao seu lado no puerpério? Quem vai te ouvir sem te julgar? Quem vai acolher suas dores sem falar qual o caminho tem que seguir? Quem vai te levar uma comida e te dar carinho, te olhar com ternura e compreensão???… 

Carrego um rebento dentro do ventre


 Este rebento nasce

Conhecendo as minhas entranhas

Minhas atitudes estranhas

A coragem de trocar o sono por noites insones

Este ser conhece minhas fragilidades

Esnoba meus templos de fortaleza

Este ser pequeno me enternece

No choro das suas primeiras dores

Nos risos das suas primeiras descobertas

Menino me rejuvenesce

Adolescente me enlouquece 

De barulhos, amores e perguntas de alto e bom tom

Perguntas de silêncio, 

Urgências e carências…

Este rebento é meu filho

Que me pariu mãe…


Maria Luiza Kuhn, Flor do Abraço 

 

A REDE DE APOIO

A maioria das pessoas não sabe do que se trata esse termo. 

A REDE DE APOIO à puérpera é quem estará ao lado dela no PUERPÉRIO, quem vai auxiliar essa mulher. Quem vai facilitar as coisas do dia-a-dia pra que ela cuide do seu bebê tranquilamente, permitindo o “vínculo mãe-bebê”. Quem vai auxiliar nos cuidados do bebê pra que a mãe tenha tempo pra ela. Quem vai permitir que ela se desligue dos problemas de fora daquele turbilhão de emoções que ela está vivendo.

Segundo Laura Gutman em seu livro “A Maternidade e o Encontro com a própria sombra”, nos tempos modernos as mães e os pais têm dificuldade de compreender essa atitude, O APOIO a recém mãe. Refere-se à proteção e ao cuidado que o companheiro ou companheira, ou alguém que irá desempenhar esta “função” na família, por escolha da mulher, pra que ela possa desempenhar seu papel materno. Requer uma atitude muito ativa e sensível. 

O que necessariamente significa apoiar a maternidade segundo Laura Gutman?

  1. Facilitar e proteger a fusão mãe-bebê, permiti-la e defendê-la. Já que, para estar em condições de submergir na fusão a mãe precisa estar livre de todas as preocupações mundanas e materiais. Ou seja, basicamente a mãe se dedica as necessidades do bebê enquanto todas as tarefas domésticas são atribuídas a sua REDE DE APOIO. 
  2. Defender a mãe do mundo exterior, massacrado pelos palpites, críticas e sermões que circulam acerca do que “deve ser feito”. Resguardar o ninho. Ser um intermediário, constituir-se em uma muralha entre o mundo interno e o mundo externo. 
  3. Apoiar ativamente a introspecção, ou seja, permitir que a mãe explore a abertura de sua sombra vivenciando com liberdade e intimidade a experiência do florescimento de sua mãe interior. Permitir que a mãe faça a sua travessia!
  4. Aceitar e amar. Neste período, o essencial é não questionar as decisões ou instituições sutis da mãe, que surgem como rodamoinhos incontroláveis, pois respondem a uma viagem interior na qual ela está embarcada e sobre a qual não tem controle. Não é tempo de discussão, e sim de aceitação e observação. 

Ou seja, o apoio não é somente trocar a fralda ou fazer o bebê dormir. É também! Porque é uma fase de esgotamento, e de cansaço extremo, então todo auxílio a essa mulher é muito bem vindo, sempre. 

Mas, o mais importe é o APOIO EMOCIONAL, é saber ouvir! É necessário que alguém que esteja fora do rodamoinho emocional em que a mãe se encontra, ou seja, alguém que mantenha sua estrutura emocional intacta, “sustente” o mundo material para que a mãe não precise abandonar o mundo emocional em que está submersa. Trata-se de equilíbrio. O pai, ou a companheira, ou a avó, ou a amiga, tem o papel de abraçar, acolher, equilibrar, ouvir. 

Muitas vezes a mulher solicita ajuda ao pai, pra dar banho, comida, fazer dormir, sendo que na verdade o que ela quer é muito mais do que isso, é além, é um abraço, é apoio emocional. Afinal, o pai se encontra fora do vulcão em que ela se encontra submersa, ele trará equilíbrio naquele momento tão difícil pra ela. A maternidade e a paternidade exige muita de maturidade do casal, o apoio deve ser mútuo.

 

TER UMA REDE DE APOIO É TER UM PUERPÉRIO MAIS FELIZ

Aqui cabe um pequeno trecho do livro Pós-F, da Fernanda Yang: “Não tem assunto mais sério, mais grave e mais perigoso que a maternidade. As pessoas acham que é esse romance, essa sabedoria, essa bondade. E ter filhos é a coisa mais difícil que tem.” Normalmente nós seres humanos não estamos dispostos a lidar com nossas fragilidades com as nossas sombras, e tudo isso vem a tona com a maternidade, de uma forma muito forte. 

Precisamos nos informar, ler muito, conversar com outras mães e refletir ao máximo pra escolher a nossa REDE DE APOIO. Conversar com as pessoas que formarão essa rede, pra estabelecer uma sintonia antes da chegada do bebê. 

Puerpério mais leve (crédito: pixabay.com)

A REDE DE APOIO é fundamental pra vivermos um PUERPÉRIO mais tranquilo. O sucesso na amamentação é maior, o vínculo da mãe e do bebê é fortalecido e a conexão do “casal” é maior. A mãe se vê protegida, amada e cuidada, quando cercada de apoio e carinho!

O PUERPÉRIO apesar de intenso e difícil, pode deixar de ser sofrido, como é para grande parte das mulheres. Podemos juntamente com a nossa REDE DE APOIO passar por esses dias transformadores com mais alegria, amor e leveza. 

Precisamos inserir esse tema nas nossas rodas de conversa, e incluir os homens nessas discussões.

E pra quem já vivenciou o PUERPÉRIO, seja lá como foi sua experiência, negativa ou positiva, fale sobre! Por favor! 

União feminina! Sejamos canais de informação, de empoderamento, de força e apoio umas pra outras.

União Femina

 

LEITURA RECOMENDADA

A MATERNIDADE E O ENCONTRO COM A PRÓPRIA SOMBRA, o resgate do relacionamento entre mães e filhos. Laura Gutman. Best Seller, 5 edição. Rio de Janeiro, 2013. 

PARTO ATIVO, Guia Prático para o Parto Natural. Janet Balaskas. Editora Ground/Editora Aquariana. 3 edição. São Paulo, 2015. 

PARTO NORMAL OU CESÁRIA? O que toda mulher deve saber (e todo homem também). Simone Grilo Diniz e Ana Cristina Duarte. Editora Unesp, 2004. Associação Brasileira das Editoras Universitárias. 

PÓS-F, para além do masculino e do feminino. Fernanda Young. Casa da Palavra/LeYa, 2018.

FLOR DE ABRAÇO. Maria Luiza Kuhn. Scortecci Editora, 2017. Casa da Poesia. 

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2 respostas para “O Puerpério e a Rede de Apoio”

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