Minha História

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Antes de mim

Venho de uma família simples e bastante religiosa, desde  que eu conheço as origens da família. Sabemos, por cima, que temos antepassados portugueses e italianos, do meu lado materno, e indígenas, do meu lado paterno. Tenho muito orgulho de ter essas raízes.

Meus pais se conheceram e se casaram em um ano de namoro. O primeiro filho veio onze meses depois, porém, minha mãe sofreu uma eclampsia não diagnosticada (ou não tratada adequadamente) . Uma cesariana de emergência foi realizada, mas sem sucesso. Minha mãe precisou de transfusão de sangue e o bebê não resistiu. Um ano e quatro meses depois, eu nascia, numa cesariana eletiva, em julho de 1984. Em maio de 1986, chegava minha irmã, também numa cesariana eletiva. Minha mãe justifica isso ao trauma da perda do primeiro filho. O médico sustentou a todo momento que havia passado da hora e que a pressão alta dela tinha feito a bolsa de água se romper e com isso, o bebê morreu afogado… sempre que me lembro do meu pai contando a história, eu sinto uma espécie de incredulidade dentro de mim, não pelos meus pais, mas pela fala deste médico, que contou essa história tão absurda e eles, que tinham apenas o primário de estudos (atualmente, ensino fundamental 1), foram induzidos a acreditar, “afinal, ele era o médico, sabia do que estava falando”.

Eu de amarelo, com 2 anos talvez; e de rosa, minha irmã Elaine. Dizemos que éramos as Rangers amarelo e rosa :p – Foto: arquivo Pessoal

Agora, sobre mim

Sou natural de Jacareí, interior de SP (e amo morar no interior).

Sou filha de metalúrgico aposentado, que é exemplo de persistência e criatividade, e uma dona de casa que é um amor e pura doação ao mesmo tempo que, é forte, rígida e disciplinada. Somos uma família bem simples.

Cresci num lar e família tradicionalmente católica, valores que carrego até hoje. Fui coroinha, participei da PJ e da RCC. Hoje, sou da pastoral do canto litúrgico.

Minha família é gigante… nossas festas de família são, de fato, uma grande festa!! Uma grande maioria é de Minas Gerais e outra parte, um pouco menor, daqui mesmo de Jacareí

Fotos de momentos com a minha família de MG e Jacareí. Na última foto, já está minha irmã caçula, Carolina! Ela veio morar com a gente em 91, com 1a6m. Como diria meu pai, o “Huguinho, Zezinho e Luizinho” – Fotos: Arquivo pessoal

Morando no interior, em cidade (na época) pequena, brinquei muito na rua, na casa das vizinhas, fiz bastante amigas e era boa aluna na escola. Minha adolescência foi mais reservada, eu gostava de leitura e de estudar. Aos 16 anos, me tornei monitora numa escola de informática e, aos 18, recebi a primeira proposta de emprego, como auxiliar de coordenação de cursos. Nesse primeiro emprego, conheci Sigmar, hoje, meu marido e hoje, temos duas lindas filhas, nossos tesouros.

Da vida de TI para a decisão pelas DOULAGENS

Sigmar e eu começamos a namorar ainda trabalhando nessa escola de informática. Seguimos nesse ramo até depois do casamento, em 2008, onde eu já tinha passado por arte final, web design e design gráfico, bem como aulas de informática e manutenção de micros. Levando em conta ainda que fiz curso técnico em informática, onde passei com uma das melhores notas e pensei em seguir no ramo de programação de computadores.

A chave virou quando, em maio de 2009, descobri minha primeira gestação.

Tremi na base.

Sempre achei que eu não tivesse um pingo de dom para a maternidade. Não me via cuidando de pessoas, menos ainda crianças. Nunca tive o dom. Minhas irmãs viviam rodeadas de pessoas e principalmente, crianças… e eu, nunca. Embora eu sonhasse com uma família linda, o pensamento de um bebê completamente dependente de mim me assustava muito, pois nunca fui próxima de crianças.

Sigmar e eu – setembro/2009 – a espera da sonhada Verônica Maria <3 – Foto: arquivo pessoal

Com isso, comecei a pesquisar sobre parto, a partir de relatos (assustadores) de minhas cunhadas e sogra. A quantidade de atos assustadores, como o corte, o “empurrar a barriga”, “toque com a mão inteira dentro da gente” me fizeram buscar meios e ideias para evitar passar por tudo isso que elas relatavam. A cada semana que passava, eu me apavorava com o que estava por chegar perto. Na época, já tinha pedido conta do serviço para me dedicar a algo próprio com meu marido e à gestação. Mas me desanimava a cada relato de conhecidas sobre o que passavam. Num desabafo num grupo do falecido Orkut, uma amiga me colocou num grupo de mães de bebês para janeiro/fevereiro de 2010. Lá, pela primeira vez, ouvi o termo “doula”, “parto humanizado” e “parto domiciliar”. Uma das moderadoras do grupo me indicou uma doula em Belo Horizonte e ela, me indicou uma doula na cidade onde morávamos. Com então, 35 semanas, encontrei uma doula em São José dos Campos. Passei e me comunicar com ela e, com 38 semanas, participei da primeira roda que tive conhecimento. Me lembro que era um sábado a tarde, 30 de janeiro. Tirei todas as dúvidas e voltei muito tranquila pra casa.

Minha filha nasceria na terça feira seguinte, dia 02 de fevereiro, as 19:15, num parto normal hospitalar sem praticamente nenhuma intervenção. Eu me sentia forte, realizada, respeitada e principalmente, tinha consciência que minha filha teve o melhor que eu podia dar pra ela naquela hora: deixar ela escolher a hora de nascer.

Verônica Maria e eu, com alguns minutos de nascida – ela, como minha filha e eu, como sua mãe! Foto: arquivo pessoal, by Flávia Penido

Depois disso (e de uma intercorrência grave com a saúde da minha filha, por contaminação com bactéria hospitalar, que nos levaram a ficar mais 15 dias no hospital, 4 delas na UTI, saíndo de la com ela com 20 dias de vida), eu saí completamente decidida a ser doula. Eu sentia que, o mesmo direito à informação que eu tive, as mulheres tinham que ter também, para não serem enganadas. Ainda durante o resguardo, fui apresentada à existência da faculdade de Obstetrícia na USP. Fiquei ainda mais apaixonada.

Os próximos 7 anos

Com minha bebê pequenininha, comecei em casa mesmo pesquisar sobre tudo relacionado a gestação, parto humanizado e puerpério. Criei nesse mesmo período o blog FELIZ PARTO e comecei a repartir informações a partir daí.  Em 2011 fiz cursinho pré vestibular oferecido pela prefeitura e passei na FUVEST 2012. No mesmo ano, ganhei uma bolsa parcial para um curso de doulas na Despertar do Parto (Ribeirão Preto). De 2012 a 2014 doulei vários TPs e continuei meus estudos. Porém, em agosto de 2014, devido às necessidades familiares, parei meus estudos e a doulagem para trabalhar no comércio da cidade, onde fiquei até metade de 2015, quando descobri uma nova gravidez e decidi me dedicar ao meu próprio negócio e à gestação. Nesse mesmo ano descobrimos que minha mãe tinha insuficiência renal crônica e precisaria fazer diálise peritoneal. Mais um ponto que pesou na decisão de ficar mais próximo da minha filha e da minha família.

1- Trabalhando como autônoma, com meu marido, para ficar perto da minha filha; 2 e 3 – Meu período de estudo na EACH USP Leste; 4 – Após sair do comércio para me dedicar novamente à gestação da minha segunda joia preciosa, Giovana Paula. Foto: arquivos pessoais

Durante essa segunda gestação, já muito mais inteirada sobre o parto humanizado, estava decidida a ter meu parto domiciliar. O fantasma que me assombrava, nessa gestação, era ter minha filha contaminada por bactéria hospitalar novamente.

Contactando a equipe de obstetrizes que ajudei a iniciar na cidade, ficou certo delas me acompanharem. O pré natal estava seguindo tranquilo e no dia 26 de fevereiro de 2016, no final da madrugada, senti as primeiras contrações que, para minha enorme surpresa, vinham já vigorosas e desreguladas. Entrei em contato com a equipe e apenas uma obstetriz chegou a tempo. Com 1h15 de TP ativo e tsunâmico, nascia minha segunda filha, num parto domiciliar a jato que pegou todo mundo de surpresa.

Momentos incríveis do meu TP, em casa e meu pós parto imediato, com a família reunida, algumas horas depois! Fotos: Arquivos pessoais, by Taina Lessa e Prosa e Fotografia

Durante 2016 e 2017 eu só pensava em voltar para a doulagem, meu sonho de muito tempo. Mas naquele momento, com uma bebê pequena e meus pais precisando de algum apoio em casa, o que fazer?

O retorno e sonho de crescer!

Em 2017, graças a indicação de um amigo da igreja, fui chamada para ser doula de uma família muito linda. Foi o marco da minha decisão pela volta às doulagens. Foi um parto domiciliar incrível, sereno, forte e decisivo. Senti no meu coração que era pra eu ser doula e, talvez um dia, obstetriz. Mas nesse momento, era pra eu ser doula. A partir daí, decidi veementemente que investiria no meu trabalho.

O parto que marcou a decisão pela volta às doulagens!! Foto gentilmente cedida pela Raquel, by Prosa e Fotografia

E cá estou, buscando novos desafios, entre eles, o de escrever textos na Casa da Doula. Quero formar parcerias, quero atender pra valer e trabalhar, sendo remunerada, naquilo que eu amo de paixão. Quero oferecer pras mulheres que me procurarem o apoio, o carinho e toda a informação, baseada em evidências cientificas possível. Desejo, do fundo do meu coração, ajudar o maior número possível de famílias a recepcionarem seus filhos da melhor forma possível, para termos uma sociedade mais justa e mais fraterna no futuro! É nisso que eu acredito que meu trabalho pode ajudar!

De 1984, até o presente momento, buscando deixar minhas marcas na história das pessoas que amo e na história daquelas que, de alguma maneira, eu possa colaborar pra ser melhor!

Vocês são o motivo pelo qual eu não desisto do meu sonho!! Foto: arquivo pessoal

 

REFERÊNCIAS

Doulas:

http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/26.pdf

SILVA, Raimunda Magalhães da et al. Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto e no parto. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2012, vol.17, n.10, pp.2783-2794. ISSN 1413-8123.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232012001000026.

Kennel, J.H.; Klaus, M.H.; McGrath, S.K.; Robertson, S.S.; Hinkley, C.W. “Continuous Emotional Support during Labor in US Hospital.” Journal of the American Medical Association 265(1991): 2197-2201
Resumo: Esse trabalho marcante em Houston, TX, citado frequentemente, cita reduções incríveis nas taxas de cesárea (50%), parto a forceps (40%), requisição de peridural (60%) ou outros medicamentos para dor (40%), duração do trabalho de parto (25%) e necessidade de ocitocina (50%).

Sosa, R.;Kennell,J.H.; Robertson,S; Urrutia, J. “The effect of a Supportive Companion on Perinatal Problems, Length of labor and Mother-Infant Interaction.” New England Journal of Medicine 303 (1980): 597-600
Resumo: Esse estudo da Guatemala comparou 33 mulheres que tiveram auxílio de uma doula e 103 que não obtiveram, mostrando que aquelas que foram auxiliadas tiveram partos mais curtos (8.8 vs. 19.3 horas), estiveram mais despertas após o parto e relacionaram-se com seus bebês de uma forma mais fisicamente próxima (segurando, sorrindo e falando com eles).

 

PARTO DOMICILIAR

http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n4/v12n4a22.pdf

MEDEIROS, Renata Marien KnuppSANTOS, Inês Maria Meneses dos  e  SILVA, Leila Rangel da. A escolha pelo parto domiciliar: história de vida de mulheres que vivenciaram esta experiência . Esc. Anna Nery[online]. 2008, vol.12, n.4, pp.765-772. ISSN 1414-8145.  http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452008000400022.

http://www.scielo.br/pdf/rsp/v46n4/cb3548.pdf

KOETTKER, Joyce Green et al. Resultado de partos domiciliares atendidos por enfermeiras de 2005 a 2009 em Florianópolis, SC.Rev. Saúde Pública [online]. 2012, vol.46, n.4, pp.747-750.  Epub 10-Jul-2012. ISSN 1518-8787.  http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102012005000051.

 

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

http://www.scielo.br/pdf/jbn/v32n1/v32n1a05.pdf

ROCHA, Paulo Novis et al. Motivo de “escolha” de diálise peritoneal: exaustão de acesso vascular para hemodiálise?. J. Bras. Nefrol.[online]. 2010, vol.32, n.1, pp.23-28. ISSN 0101-2800.  http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002010000100005.

http://www.scielo.br/pdf/jbn/v33n2/a08v33n2.pdf

SANTOS, Paulo Roberto. Comparação da qualidade de vida entre pacientes em hemodiálise aguardando e não aguardando transplante renal em uma região pobre do Brasil. J. Bras. Nefrol.[online]. 2011, vol.33, n.2, pp.166-172. ISSN 0101-2800.  http://dx.doi.org/10.1590/S0101-28002011000200008.

http://www.scielo.br/pdf/jbn/v36n1/0101-2800-jbn-36-01-0048.pdf

SESSO, Ricardo Cintra et al. Relatório do Censo Brasileiro de Diálise Crônica 2012. J. Bras. Nefrol. [online]. 2014, vol.36, n.1, pp.48-53. ISSN 0101-2800.  http://dx.doi.org/10.5935/0101-2800.20140009.

 

ASSISTENCIA DE OBSTETRIZES

http://www.scielo.br/pdf/rlae/v17n2/pt_20.pdf

MERIGHI, Miriam Aparecida Barbosa  e  GUALDA, Dulce Maria Rosa. O cuidado a saúde materna no Brasil e o resgate do ensino de obstetrizes para assistência ao parto. Rev. Latino-Am. Enfermagem[online]. 2009, vol.17, n.2, pp.265-270. ISSN 1518-8345.  http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692009000200020.

http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n4/19.pdf

NARCHI, Nádia ZanonCRUZ, Elizabete Franco  e  GONCALVES, Roselane. O papel das obstetrizes e enfermeiras obstetras na promoção da maternidade segura no Brasil. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2013, vol.18, n.4, pp.1059-1068. ISSN 1413-8123.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000400019.

http://www.scielo.br/pdf/csp/v18n3/9296.pdf

RIESCO, Maria Luiza Gonzalez  e  FONSECA, Rosa Maria Godoy Serpa da.Elementos constitutivos da formação e inserção de profissionais não-médicos na assistência ao parto. Cad. Saúde Pública [online]. 2002, vol.18, n.3, pp.685-698. ISSN 0102-311X.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2002000300012.

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