Cuida da uma e da outra e da outra

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Um dia eu me vi presa em um ciclo de trabalho, deveres, questões que me martelavam diariamente. Eu precisava escolher um novo caminho. Mas tinha que ser uma escolha consciente, muito bem pensada, não  apenas mais uma oportunidade, como sempre aconteceu.

Então a chance de cuidar de outras mulheres veio forte em mim. Tanto que eu decidi deixar isso na pele, para nunca mais esquecer, duvidar ou desviar do meu caminho: uma tatuagem, que vai ser feita em breve (e tem como base a imagem que abre esse post) ilustra isso. Cuidar de uma e da outra e da outra, meu novo ciclo favorito!

Mas deixe-me começar do começo. Meu nome é Rina, mesmo, não é apelido 😛 Tenho 37-quase-38 anos e sou mãe da Joana, de 1 ano e 9 meses. Junto com ela e o André, virei minha vida de ponta cabeça e cá estou, doula.

Porém, ser doula, cuidar de outras mulheres, é uma coisa muito nova. Jamais me imaginei fazendo algo minimamente próximo à área de saúde! Quando eu era pequena, eu queria ser arquiteta. Aí eu cresci e descobri que não era pra mim. Pensei, pensei e fiz comunicação social porque tinha vestibular no meio do ano, porque era uma boa oportunidade.

Era sempre a tal da oportunidade…

Minha primeira faculdade foi Rádio e TV. Depois, eu fiz Jornalismo. Entre elas, trabalhei como produtora de fotos, secretária bilíngue, redatora de revistas, produtora de produtos gráficos, locução/produção de rádio, assessoria de comunicação, professora de inglês.

Foram tantas oportunidades que surgiram! E a gente não pode desperdiçar oportunidades, não é mesmo? Eu abracei várias das que vieram. Com vontade, feliz.

Até que eu fui deixando de estar tão feliz, mas como não tinha nenhuma outra opção (ou oportunidade, se você não se importar em eu repetir a palavra de novo!), fui ficando.

Fui ficando, mas cada vez mais com essa cara de Charlie Brown. Que puxa!

Antes e depois: aqui começa a minha história atual

Sou muito grata a esse meu caminho até aqui. Principalmente porque foi o meu último trabalho (foram oito anos na empresa) que me trouxe pra São Paulo, me fez (re)encontrar André, casar e ter uma bebê. E é aqui que começa o meu “depois”, a minha história atual.

Foi por conta da gravidez e do nascimento da Joana (a Jojô!) que eu comecei a estudar sobre parto. Aliás, foi antes disso. Antes mesmo de engravidar eu já tinha começado a ler um tanto sobre gestação e parto. Uma amiga me falou que anestesia e parto normal poderiam coexistir e eu fui entender isso. E não é que era verdade? Bom, isso significa que um ano antes de engravidar eu já estava estudando o assunto. Então, logo no começo da gestação, eu já sabia bem o que queria e como faria pra conseguir.

Gestação foi passando, eu fui lendo mais sobre puerpério (opa, que bicho é esse? Ahhh pós-parto!), sobre amamentação. Como é comum falar hoje, eu fui “me empoderando”. E Joana nasceu. 2016.

Essa coisinha tão miudinha chegou e trouxe mudanças tão gigantes! (Foto: arquivo pessoal)

Jojô estava com um mês quando eu comecei a participar de um grupo de pós-parto. Pude ver outras mulheres com bebês de idades próximas, um pouco mais velhos (Joana era a caçulinha!), com mais experiência, mais filhos, com mais dúvidas, menos dúvidas. O grupo se reunia toda semana, de tarde. Mas foi no WhatsApp que a coisa cresceu, cresceu e virou parte da minha vida.

Foram seis meses participando do grupo presencial e já são 21 meses nos grupos virtuais. Cada grupo, uma experiência. E eu sempre lá. Uma palavra, um conselho, uma contribuição. Delas pra mim, de mim pra elas. Eu não imaginava, mas essa foi a semente plantada em mim para me tornar doula.

Uma nova oportunidade, uma nova vida

Puérpera bem cuidada é outra coisa! A gente até lava o cabelo! (Foto: arquivo pessoal)

Quatro meses depois de voltar de licença maternidade, em um dos dias que eu estava super concentrada nas discussões dos grupos, meu marido me perguntou porque eu não trabalhava com isso. Ajudando outras mulheres. Cuidando de outras mães. Isso fez um “buuuum” tão grande no meu cérebro! Eu jamais tinha pensado nisso. Eu não vi a oportunidade, a possibilidade.

Foram mais alguns meses pensando nisso. Eu não queria sair do meu trabalho e começar algo apenas “porque a oportunidade estava ali”. Eu fiz isso a minha vida toda. Eu abracei oportunidades que passaram por mim, sem pensar muito, com tanto medo de deixar passar! Então, eu resolvi pensar. Esperar.

Aí eu fiz um curso de doula de pós-parto e… GENTE. Eu não queria nem voltar a trabalhar depois  (foram quatro dias, imersão, cuidar de si pra cuidar do outro na veia). Mas eu tinha que voltar. Que coisa difícil! A minha missão tava ali na minha frente e eu não podia me entregar!

Lá fomos nós ser racionais. Fazer um plano de transição de carreira. Um ano de prazo pra eu largar tudo e fazer aquilo que eu mais queria.

Não, não dava para  continuar.

Pedi demissão.

No meu penúltimo dia de trabalho, uma mensagem: Claudinha está em trabalho de parto – ela é minha concunhada, e tinha deixado eu acompanhar o parto junto com a doula dela, que é amiga minha.

Terminei de trabalhar com o coração na boca. Corri pra casa. Combinei com marido como Jojô ficaria. Fui pra uma das experiências mais incríveis da minha vida.

No meu último dia oficial de trabalho eu estava acompanhando a minha primeira gestante, iniciando a minha nova jornada. Durante o tempo do trabalho de parto, eu só tinha uma certeza: eu sabia exatamente o que estava fazendo, o que precisava ser feito, onde ficar, como me posicionar, o que falar. Era o lugar que eu deveria estar.

De bônus, ainda vi meu sobrinho nascer <3

Como é incrível essa sensação de ter um lugar e se sentir plenamente confortável nele. E eu tenho bastante certeza que foi a primeira vez que me senti assim, quase dez anos depois de ter entrado na primeira faculdade.

Uns podem achar que eu perdi muito tempo. Eu tenho a clareza que foi o tempo necessário para me moldar, me trazer onde estou hoje, me preparar para fazer algo incrível: cuidar de outras mulheres.

Cuidar de uma, da outra, da outra, receber cuidados e cuidar de novo. Meu novo ciclo favorito!

A jornada importa mais que o destino final

Não fosse todo o meu caminho, a dúvida em fazer arquitetura ou qualquer outra coisa lá em 1998, eu não estaria aqui. E eu sou muito grata por tudo que me aconteceu, até mesmo pelas roubadas em que me meti (ou que me enfiaram!).

Hoje, eu posso afirmar: minha profissão é cuidar de outras mulheres durante a gestação até o pós-parto. É aqui que me encontro. É isso que eu sei fazer melhor.

Eu sei que tenho um longo caminho pela frente. Imagino, inclusive, que há de chegar o dia em que vou me perguntar porque raios decidi fazer isso. Porque, né, decepções também fazem parte da jornada. Mas cada vez que eu pensar nisso, poderei olhar pra trás e ver a vida incrível que pude construir, com a ajuda de tantas outras mulheres que passaram pelo meu caminho.

Cuidar, dar colo, oferecer informações claras, honestas e embasadas. Essa é a parte da história que será incrível construir junto com você.

Nos veremos mais aqui, n’A Casa da Doula. Até breve,

Rina Noronha – colomaterno.com

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Nos links abaixo você encontra informações importantes sobre o papel da doula, analgesia no parto normal e puerpério.

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