Essa é a história de como a vivência de um parto humanizado pode mudar a vida de uma mulher. Um relato sincero e despretensioso da parte da minha vida onde tive a oportunidade de reescrever minha trajetória e me tornar Doula e Consultora em Amamentação para poder proporcionar para mais mulheres o amor, o acolhimento e a qualidade de atendimento que eu recebi da minha equipe nesse momento tão decisivo…
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A primeira vez que fui mãe…
Meu nome é Larissa Simon e meu grande sonho desde que me conheço por gente era me tornar mãe. Eu achava que tinha nascido pra isso, que eu ia tirar de letra e me sentir plena e realizada quando finalmente tivesse um bebê para chamar de meu. Qual foi minha surpresa em perceber que ser mãe era muito mais complexo e profundo do que eu imaginava, desde a gestação e o nascimento….
Sempre ouvi da minha mãe, que teve dois partos normais e uma cesárea, que “mil vezes um parto normal que dói ha hora e passa assim que o bebê nasce, do que uma cesárea que fica doendo por dias e dificulta na hora de cuidar do bebê”.
Na época eu não sabia nada sobre a assistência humanizada ao parto, muito menos sobre o papel das doulas, mas era claro pra mim que o “normal” e desejável era parir!
Porém, minha primogênita veio me ensinar que muitas vezes na vida de mãe a gente precisa lidar com o possível e não com o desejado… Minha bebê ficou pélvica (sentada) às 28 semanas e não mudou de posição até o parto, inviabilizando meu sonho de parir, já que na minha cidade não havia (e acho que ainda não há) nenhum médico com formação e experiência no atendimento ao parto pélvico.
Assim, no dia 02/03/10 às 9:41 da manhã eu finalmente realizei o grande sonho de ser mãe com a chegada da Helena. E caí do cavalo feio nas minhas expectativas de maternidade cor-de-rosa quando me vi com aquela menina linda nos braços, que chorava incansavelmente, tendo que lidar com todas as demandas de uma recém-nascida, tentando seguir as fórmulas prontas que havia aprendido e ainda enfrentando as dores físicas e emocionais de uma cesárea que estava longe de ser meu desejo…
O pós-parto dela foi muito desafiador. Helena chorava muito, mas muito mesmo até os 3 meses. Desmamou rápido por causa da confusão de bicos e de uma introdução alimentar precoce e mal conduzida.
Todo o peso da responsabilidade caía sobre os meus ombros como chumbo! Quando voltei a trabalhar a depressão pós parto começou a dar seus sinais nada sutis e eu vivi um dos momentos mais difíceis e escuros da minha vida.
Terapia e medicação foram minhas aliadas nesse processo e graças ao auto-conhecimento advindo dessas experiências consegui fazer algumas mudanças pessoais e profissionais que me deram um pouco mais de tempo de qualidade com minha pequena e mais propósito no fazer do dia a dia!
Analisando tudo que vivi nos 3 primeiros anos da minha maternidade à luz dos conhecimentos que adquiri nas formações sobre pós-parto e desenvolvimento infantil eu consigo perceber que o que nos faltou foi conexão!
Eu estava tão preocupada em ser a mãe perfeita, dando foco para ensinar o certo e fazer ela me obedecer que esqueci do mais importante na educação dos filhos: desenvolver a conexão e o vínculo que fazem a gente perceber as necessidades da criança e atendê-las conforme as nossas capacidades e necessidades individuais!
O nascimento humanizado e suas consequências
Quando Helena tinha ao redor de 3 anos começamos a planejar o aumento da família. E dessa vez estava disposta a fazer tudo diferente… Não sabia bem como, mas queria desesperadamente curar as feridas da maternidade e ter uma experiência mais leve.
Eis que participando de uma reunião sobre um grupo de Sagrado Feminino eu vim a conhecer a mulher que acabou se tornando minha parteira e comadre do coração. Ela me convidou a participar de um grupo de apoio ao parto humanizado, o Nascer Sorrindo Caxias do Sul/RS, que foi definitivo para a conquista de um parto digno.
Naquele mesmo dia eu comecei a consumir as informações sobre esse novo universo e reativei minha vontade de parir. Mas todos aqueles vídeos e relatos de parto domiciliar ainda eram muito assustadores pra mim.
Eu sou da área da saúde! Aprendi na faculdade que o grande vilão dos casos de paralisias cerebrais e demais problemas neurológicos nos bebês eram os partos normais. Imagina um parto em casa, sem a assistência que um hospital pode proporcionar!
Mas com informação e empoderamento, especialmente do documentário “O Renascimento do Parto” eu passei a enxergar que a grande responsável pela grande maioria das complicações com mães e bebês nos partos é a má assistência prestada e não o parto normal em si!
Um parto domiciliar planejado, com uma equipe competente e treinada para atender as possíveis complicações é sim seguro e desejável numa gestação de risco habitual, se esse for o desejo da família e o local que a mulher se sente segura e respeitada. Então nossa decisão foi receber Luísa na “Santa Casa”, no nosso lar!
No dia 13/09/14 às 04:06 da manhã, depois de um trabalho de parto de nove horas de duração, Luísa nasceu, numa piscina de plástico montada no meio da minha sala, na presença do meu companheiro, da minha parteira e da minha doula, com todo amor, respeito, segurança e simplicidade que deveriam ser inerentes a todo nascimento, independente do local escolhido ou da via de parto possível.
Apesar de ser clichê essa frase, eu também renasci naquele dia. Na verdade eu fui renascendo a partir daquele momento como mulher, como mãe e como profissional, pois na vivência da humanização do parto e pós-parto eu descobri uma nova mulher que pulsava dentro de mim. Uma mulher mais segura, mais fiel aos seus ideais e propósitos, uma mulher que queria e podia ser um ser humano melhor através de uma maternagem mais consciente e de uma atuação profissional mais alinhada ao que ela considera mais importante: o que ela traz no coração!
A grande transformação profissional
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”, Carl Jung
Depois do nascimento da Lulu, cresceu em mim a paixão pela humanização e a vontade de construir um fazer profissional mais alinhado aos aprendizados que essa experiência tinha me trazido. Sou Fonoaudióloga com Mestrado e Distúrbios da Comunicação Humana e na época do nascimento da Lulu eu atuava em consultório com crianças com dificuldades de processamento auditivo, linguagem e aprendizagem (nada a ver com o que faço hoje!).
Mas com com uma filha de quatro anos e uma bebê recém-nascida, sem nenhuma formação na área da humanização, como eu poderia começar a fazer diferente??? Foi aí que o universo providenciou a segunda grande inspiração que iria mudar minha vida.
Participei de um congresso online, o EMACON – Encontro da Maternagem Consciente, que reuniu diversos profissionais na área de parto, pós-parto e criação com apego.
Esses conteúdos do EMACON abriram uma diversidade imensa de autores e assuntos que eu mais tarde aprofundei com leituras e estudos. E daí surgiu a paixão pelo universo digital e as inúmeras possibilidades de atuação profissional que ele proporciona!
Decidi fazer um curso de empreendedorismo materno digital e comecei a produzir conteúdo sobre pós-parto, minha menina dos olhos dentro da humanização. Enquanto lidava com todas as transformações inerentes ao pós-parto eu também lia, estudava, dividia minhas experiências no Facebook…
Quando Luísa cresceu um pouquinho eu comecei a fazer as formações que tinham alinhamento com minha nova atuação: introdução alimentar participativa e BLW, Doula, Doula Pós-Parto, Educadora Perinatal, Consultora em Amamentação, Disfagia Infantil e a partir de tudo isso, unindo com o conhecimento que a Fonoaudiologia já havia me entregado, formatei minha atuação como Consultora Materno-Infantil.
Fui fazendo uma lenta (e por vezes desafiadora) transição de carreira ao longo desses quatro anos. Atualmente ofereço atendimentos individuais, grupos e cursos, tanto no formato presencial como no online, na preparação para o parto e cuidados humanizados com o bebê, assistência ao parto e pós-parto e consultoria em amamentação, com um olhar humanizado e individualizado para cada binômio mãe-bebê e seu entorno familiar. Cada passo que eu dava em direção à doulagem e à amamentação era um passo a mais que eu dava na direção da minha essência, do que me é mais livre e natural!
Muito além da transformação profissional…
Ter passado pelo processo do parto e pós-parto humanizados e ter me dedicado a estudar sobre maternagem consciente de maneira ampla e “fora da caixa” possibilitou que eu me transformasse não só como profissional. Mas também como mulher e como mãe. Com isso eu organizei meu tempo para a vida que eu acredito ser melhor pra mim, pra minha família e para minhas clientes, com uma atuação amorosa e responsável, seja na esfera pessoal como na profissional.
É um aprendizado muito profundo e intenso que tenho ao cuidar de mães, bebês e famílias… Assisti-los durante a gestação, com todos os sonhos e expectativas; ajuda-los a desvendar os mistérios do desenvolvimento do bebê e de suas necessidades; acompanha-los no trabalho de parto com todos os medos, dores e superação; avaliar e auxiliar na amamentação e primeiros cuidados com o bebê e consigo; apoiar as mães a encontrarem o seu jeito único de maternar conforme suas verdades e realidade…
É um verdadeiro universo de desafios, principalmente diante de um cenário tão complicado na assistência ao parto, pós-parto e amamentação que vivemos atualmente no Brasil. Mas também é um universo de conexão, amor, descoberta, autoconhecimento, entrega, alegria e sensação de dever cumprido que são impossíveis de descrever em palavras…
Felizes aqueles que podem dizer que tem um trabalho alinhado à sua essência e que fazem a diferença no mundo através dele. E sem pretensão, eu sou uma delas!
Eu realizo grupos presenciais de apoio e preparação para o parto e pós-parto em Caxias do Sul/RS. Quer saber mais sobre mim?! Manda um whats pra (54)99175 9877 e faça parte da minha lista de transmissão, onde envio conteúdos semanais sobre parto, pós-parto, amamentação e maternidade real! Vai ser maravilhoso ter você também por lá…
Referências Pesquisadas:
- Ressignificando-se como mulher na experiência do parto (Tese de Doutorado de Miriam Rêgo de Castro)
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7141/tde-05112014-103526/pt-br.php
- O papel da Doula na assistência à parturiente
http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/380 )
- Evidências Qualitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto e no parto.
http://www.redalyc.org/html/630/63024360026/
- O valor do suporte à parturiente.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822007000100013 )