Um pouco de história
Na Idade Média, as mulheres tinham muito conhecimento do corpo e da natureza (que eram vistos como conhecimentos mágicos). Algumas delas eram chamadas de aparadeiras, comadres ou mesmo parteiras-leigas por terem conhecimento baseado na experiência, na observação e no acompanhamento de outras mulheres durante a gestação, parto e pós parto. Além dessas responsabilidades, eram também consultadas para diversos temas, como cuidados com o corpo, doença venéreas, praticavam o aborto ou mesmo colaboravam com o infanticídio.
As mães mais experientes auxiliavam as novas mães na amamentação e nos cuidados com o recém-nascido. Também atuavam nas comunidades não só como apoio informacional como também emocional as novas mães. Em 1977, a antropóloga Dana Raphael adotou esse apoio das mães mais experientes, como doula, que vem do grego e se refere a uma mulher que serve outra mulher.
Alguns anos depois, nos EUA, médicos pesquisando resultados de partos acompanhados por mulheres que davam suporte a outras durante o nascimento de seus bebês, usaram pela primeira vez a palavra doula (hoje conhecida com doula de parto).
Em 1979, o papel da doula é concebido com a fundação de uma casa de parto (The Birth Place, que fechou em 1994) na Califórnia. Os fundadores, como tinham o conhecimento da função da doula, às colocaram como membro central da equipe da casa.
Em que momento nós doulas aparecemos?
É na Idade Média também que a humanidade descobre a agricultura e a entender a reprodução humana. Os homens perceberam que deveriam usar a força física para dominarem a mulher assim como usavam na terra.
Na modernidade intensificou-se o domínio sobre o corpo da mulher com o surgimento das matérias acadêmicas (medicina, filosofia, biologia e etc). A Europa, por deter poder econômico na época, se tornou referência em medicina.
No século XX, a medicina se tornou incontestável, os médicos passaram a ganhar autoridade em relação à saúde da mulher na gestação e no parto, com isso os partos deixaram de ser domiciliares para se tornarem hospitalares. Com essa mudança, as mulheres perderam suas tradições e aquela figura de apoio durante o nascimento, não existia mais. O que era antes entendido como um evento social se tornou um evento médico, hospitalar. O corpo da mulher se tornou algo “defeituoso” e só a medicina poderia “consertar” isso. Cirurgias que deveriam ser utilizadas para salvar vidas começaram a ser tornar habituais.
O aumento da violência obstétrica contra as mulheres aumentou, perdemos o nosso conhecimento corporal, deixamos de ser ensinadas a nos conhecer por conta da cultura patriarcal e machista que colocam nossos corpos como estranho, nojento, vergonhoso….
Os movimentos feministas inicializados em meados da década de 1960 trouxeram para a mulher de hoje um pouco mais de autonomia. Nesse meio tempo, cursos de educação para o parto começaram a aparecer, muitos deles em resposta a medicalização do parto, intervenções e violências.
Na década de 1970, as mulheres começaram a procurar apoio para conseguirem ter um parto natural e contatavam as instrutoras de seus cursos de pré parto para acompanharem no parto. Porém essas instrutoras começaram a perceber que educação perinatal não era suficiente para apoiar essas mulheres que queriam parir, que essas mulheres precisavam se sentir confiantes e acolhidas.
Em paralelo, cientistas com interesse em pesquisar o que favorecia e prejudica o vínculo mãe-bebê acabaram verificando que as doulas, durante o trabalho de parto, reduziam as taxas de cesárea, diminuíam a duração do parto em até 25%, o uso de ocitocina em 40%, de medicamentos contra dor em 30%, além de reduzir o uso de fórceps em 40% e os pedidos de anestesia em 60%.
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O que a doula faz então?
Se formos procurar na internet, nos grupos de apoio a maternidade, vamos encontrar alguns comentários do que a doula faz, como: “a função da doula é fornecer apoio emocional, físico e informativo à gestante…. A doula oferece alívio para as dores das contrações utilizando métodos não farmacológicos, como massagens, técnicas de relaxamento e respiração, exercícios, banhos e imersão em água quente, dicas de posições, durante o trabalho de parto e parto, oferecendo principalmente encorajamento e apoio emocional.” (O que é doula? Disponível em: < http://www.queroumadoula.com.br/doula/> Acesso em: 25 de janeiro de 2018).
E aí resolvi fazer diferente, fui entender qual era o meu papel junto a algumas mulheres que atendi, para entender o que a doula faz!
“….Gostaria que você soubesse que foi essencial sua presença lá na hora. Os incentivos que você me deu fizeram muita diferença, eu percebi que não estava errado eu gritar, que não tinha problema e isso me ajudou muito a suportar a dor e acredito que no tempo do trabalho de parto também….Mesmo em momentos que eu não respondia você procurava me escutar e fazer coisas para que eu ficasse mais tranquila e vivenciasse o momento, eu nem vi você colocando a música, por exemplo, mas eu ouvi várias durante o parto e consigo me lembrar dos momentos….” (Patricia, mãe da Liz)
“….você me ajudou a entender o parto normal, que eu tinha tanto medo, me informou, informou minha mãe e o Marcel sobre todas as opções que a gente tinha, como deveríamos nos posicionar quanto às nossas escolhas, me mostrou profissionais que pudessem me ajudar a realizar o meu parto, entendeu minhas limitações. Principalmente, você me entendeu quando, depois de toda essa preparação, eu escolhi outro tipo de parto. Me respeitou, me acolheu e no pós parto me ajudou mais ainda! A amamentação só foi possível depois da sua ajuda. Desde de me ajudar com o bico artificial até desempedrar meu leite, me orientar como deve ser a pega perfeita….muitas muitas coisas” (Geisa, mãe do Marcelo)
“Você me ajudou muito na busca por um parto possível, me mostrando caminhos e locais onde eu tive acesso a pessoas e informações que foram muito importantes para as minhas decisões. Foi meu apoio para os momentos em que me revoltei contra a humanização por motivos financeiros e na busca de alternativas para esse problema. E o mais importante para mim, foi você que me ajudou a me manter conectada com a minha gestação, já que na minha vida pessoal as coisas não estavam tão bem. Sem me esquecer de que em um parto longo você foi super parceira e me deu apoio em todo o processo.” (Karina, mãe do Miguel)
“Ajudou na parte de eu estar segura com todas as dúvidas de todas as alternativas que o parto podia tomar. Ajudou na conexão com meu corpo, marido e bebê. Na segurança de saber que tinha alguém para contar. No alívio da dor da hora do parto; no acolhimento do pós-parto, descida do leite e puerpério.” (Patricia, mãe do Benício)
“Ajudou em muitos aspectos, mas acho que o principal foi abrir os olhos para a escolha da equipe. Foi a ferramenta para eu não cair em uma cesariana super desnecessária. Através de você conheci as pessoas certas, que me passaram confiança.” (Elaine, mãe da Bella)
O que a doula faz então? A doula dá oportunidade, suavidade, leveza para que a mulher seja ela mesma e se sinta segura em fazer suas próprias escolhas……sem cartilha, sem regras, sem julgamentos…..
Para você ler e ver mais sobre:
– O que é a doula? <http://www.queroumadoula.com.br/doula/>
– O Renascimento da doula – a história da doula contemporânea < https://www.abracodemae.com/o-renascimento-da-doula-a-historia-da-doula-contemporanea/>
– O Renascimento da doula – a história da doula contemporânea – Parte II <https://www.abracodemae.com/o-renascimento-da-doula-parte-ii/>
– História da parturição no Brasil, século XIX <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1991000200002>
– Doula – O que é? <http://www.despertardoparto.com.br/o-que-eh-doula.html>
– O que é “Doula”? <https://www.doulas.com.br/oque.php>
– Aquela que serve – Documentário sobre doula <https://youtu.be/Ze6r1BKH8Ao>
– A doula <https://youtu.be/BJvzqKx8gnY>
Uma resposta para “A doula pela janela da mulher”