Relato de lactogestação – Amamentar durante a gestação

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Muitas são as dúvidas de mães que amamentam e planejam uma nova gravidez ou já se descobrem grávidas em relação a continuar amamentando o filho mais velho. Até porque não se faz muito tempo que as recomendações às nossas mães, avós eram para desmamar quando engravidassem. E isso nem sempre vinha de médicos, muitas vezes de familiares e amigas.

Eu não me lembro quando foi a primeira vez que vi uma mãe amamentando filhos de idades diferentes, mas sei que sempre esteve dentro de mim o desejo de quando engravidasse novamente ainda estar amamentando a Lavínia (minha filha mais velha).

A descoberta da gravidez

Por Julia Fiedler no Pixabay

Quando engravidei de minha segunda filha, Alana, minha filha mais velha estava com 1 ano e 5 meses. Não foi uma gravidez planejada. Nossos planos ainda eram para o próximo ano. Porém quem dita às regras não somos nós e se esse era o momento dela vir para esse mundo fico muito feliz e grata por ter me escolhido como mãe. Como já era de meu desejo amamentar durante a gestação, era então o momento de pesquisar muito sobre o assunto para combater as falsas afirmações.

Lactogestação refere-se à mulher que amamenta durante uma nova gestação. O grande mito que envolve esse tema é o risco de aborto, pois se acredita que ao amamentar, o hormônio liberado (ocitocina) fará com que o útero contraia provocando assim um aborto ou parto prematuro. Mas acontece que a ocitocina liberada ao amamentar não é capaz de desencadear sozinha um trabalho de parto. E além do mais, o novo bebê já foi produzido com esta quantidade de ocitocina sendo liberada, então o corpo já está acostumado.

Outro fator importante é que o corpo produz progesterona durante a gestação e esse hormônio faz com que bloqueie a conexão entre ocitocina e receptores. Esses receptores praticamente “acordam” somente após as 38 semanas de gestação, é um processo gradual e que tende a aumentar 300 vezes mais somente durante o trabalho de parto.

Munida de informações, segui confiante. Porém algo já me incomodava antes mesmo do resultado do teste de gravidez.

O primeiro trimestre

Nós pelas lentes de Emanuella Christina

Dezembro de 2018 e meus sintomas “pré menstruais” (até onde eu achava né) estavam bem intensos. Eu andava muito nervosa e a sensibilidade nos seios para amamentar estava demais. Para aumentar a pulga atrás da orelha, após uns 2 minutos em que a Lavínia mamava ela olhava para o peito e para mim e pedia: Bô?? (Acabou??). Eu dizia que não, apertava e saía um pouco de leite, mostrava pra ela e ela seguia mamando.

Depois da confirmação da gravidez foi ficando cada dia mais difícil. Eu sabia que poderia haver um desmame natural da parte dela, pois o leite poderia secar durante a gestação e poderia também mudar de gosto e ela não querer mais. Além do cansaço do primeiro trimestre de toda gestante, tinha o cansaço de ter uma filha demandando muita energia, trabalhar fora, serviços de casa e a amamentação.

Havia madrugadas longas. Quanto mais me incomodava e eu tentava tirar ela do peito, mais ela ficava. Mas seguíamos firmes, eu sabia que iria passar. Eu fiz as escolhas por ela e só conseguia pensar nela naquele momento.

O segundo trimestre

Por Foundry Co no Pixabay

O quarto mês de gestação chegou e o leite acabou. Quanto choro! De minha parte e dela também. Essa talvez tenha sido a fase mais difícil que nós passamos juntas. Foi em um fim de semana que eu tive a certeza que não produzia mais leite. Que tristeza! Ela sugava, sugava, sugava … parecia que ia sair minha alma pelo peito menos o leite. Conversei com ela e expliquei que mamãe não tinha mais leite, eu já falava que o tetê estava dodói e era pra ela cuidar melhor quando mamava. Agora ela poderia dizer até logo para o tetê, o leite voltaria quando a irmãzinha nascesse e ela poderia mamar também.

Mas não foi o que aconteceu. Ela não queria se despedir do peito e eu nunca quis fazer um desmame abrupto. Gostaria simplesmente que ela compreendesse e ficasse tudo bem. Mas não era a hora dela, ela não estava preparada. E pra falar a verdade, nem eu.

Então ela seguiu mamando no “seco”. Não foi um período fácil. Havia épocas do mês piores. Teve muitos choros na madrugada, perdas de sono, orações. Eu achava que não iria aguentar por muito tempo aquela situação.

O terceiro trimestre

Eu e Lavínia por Emanuella Christina

 

No finalzinho do sexto mês de gestação, ao apertar um dos seios percebi que saiu um liquido meio transparente. A quantidade era mínima. Mas estava saindo e aquilo me deixou muito feliz. Algumas vezes eu podia sentir novamente que ela realmente mamava e saía algo.

Aos poucos foi aumentando a quantidade e começou a sair do outro seio também. Mas uma coisa interessante era que se a Lavínia visse que estava saindo ela não queria mamar (risos). Acredito que o gosto devia ser diferente, pois ela falava que era ruim e não queria mais mamar enquanto não limpasse (mais risos).

Os incômodos que apareciam todo mês ainda eram presentes e agora também tinha uma barriga grande que ficava mais difícil de se ajeitar na cama, dormindo em três (fazemos cama compartilhada).

Apesar de toda dificuldade durante a gestação, teve momentos maravilhosos e únicos. O carinho entre as irmãs foi algo lindo que pude ver crescendo a cada dia. Desde o começo a Lavínia sabia que havia um bebê na minha barriga e passou a incluí-la em nossas rotinas. Com a barriga crescendo ela sentiu um pouco, houve um tempo que ela não gostava de falar sobre a irmã. Mas logo passou e os carinhos e conversas retornaram. A Alana dentro da barriga já podia sentir toda a energia que a irmã aqui de fora enviava. Era só a Lavínia encostar pra mamar e ela já começava a se mexer.

E meu coração de mãe seguia sentindo que tinha feito a melhor escolha. Para nós não foi tão fácil quanto eu imaginava que seria. Este é meu relato e não podemos generalizar, cada um tem uma experiência diferente. As dificuldades vieram para me fazer mais forte e provar meu amor. Houve dias ruins, mas houve muito mais dias bons e um coração cheio de gratidão por nutrir corpo e alma.
Volto pra relatar a amamentação em tandem.

Referências:

Lactogestação – É possível amamentar estando grávida? https://partoporamor.com.br/artigos/lactogestacao-e-possivel-amamentar-estando-gravida/

 

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4 respostas para “Relato de lactogestação – Amamentar durante a gestação”

  1. E quando teve a apojadura novamente as duas mamaram? Meu leite também secou,e agora tenho colostro… Ele segue mamando só isso também…

    1. Oi Angel, sim as duas mamaram. Na apojadura a mais velha ajudou muito a esvaziar as mamas 😊
      De quanto tempo vc está? Pode me mandar um whats e podemos conversar se quiser… (44) 99902-1464 beijos

  2. Adorei seu relato, parece que estou lendo minha história e fiquei mais tranquila.Estou com 28 semanas.

  3. Chorei lendo seu relato. Por aqui, gestação de 12sem, bebê de 11m. Desde o começo da introdução alimentar, ele mama menos. E agora parece que briga com o peito, também quero que seja o mais gentil possível o desmame, tenho medo de secar…

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