Parto normal, natural, humanizado…

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Quando o assunto é parto normal, muita gente se confunde com esses nomes. Afinal, qual é a diferença entre parto normal, parto natural e parto humanizado? Precisa ser em casa? Pode usar anestesia? Como escolher o tipo de parto que eu quero pra mim????

Bob e Patrick também estão confusos com tantos nomes… (imagem: giphy)

Vou abordar essas e outras dúvidas no post de hoje, vem comigo!

Parto normal

Parto normal é simplesmente aquele parto no qual o bebê sai pela vagina da mãe. Ou seja, sempre que o bebê tiver nascido de forma não cirúrgica, se diz que o nascimento ocorreu por meio de um parto normal (também chamado de parto vaginal).

o parto normal pode ocorrer de forma natural, ou não (imagem: meme 4 fun)

O parto normal pode ocorrer de forma natural, sem o uso de instrumentos e medicamentos, ou não. A mulher pode necessitar induzir o trabalho de parto, ou solicitar o uso de anestesia, por exemplo, dentre diversas outras intervenções possíveis.

A questão é que o parto normal, em grande parte das vezes, de normal não tem nada!

Muitas vezes, durante o trabalho de parto, a mulher acaba sendo submetida a diversas intervenções, sem que tenham sido respeitados seus direitos e desejos. Por exemplo, gritar com a parturiente, forçá-la a parir amarrada na maca, realizar o famoso ”cortinho” no períneo (episiotomia), empurrar a barriga (manobra de kristeller)… Todas essas intervenções são formas de violência obstétrica e, muito embora não tenham qualquer respaldo científico, infelizmente ocorrem aos montes em partos ”normais” pelo Brasil afora.

Parto natural

O parto natural, também chamado de parto fisiológico, é o parto normal que respeita os processos naturais da mãe e do bebê. Nesse caso, a mulher opta por não ter intervenções médicas. O trabalho de parto inicia somente quando o bebê estiver pronto para nascer, a mulher tem liberdade para se movimentar, se alimentar e escolher a melhor posição para parir¹.

Vou falar sobre algumas das posições mais comuns em um trabalho de parto daqui a pouquinho, nesse mesmo post ?

Parto humanizado

Parto humanizado, por vezes também chamado de parto respeitoso, é o nome que damos quando as condutas são baseadas em evidências científicas e os desejos e direitos da mulher e do bebê são respeitados. É importante também que a gestante esteja munida de informações de qualidade para poder tomar suas decisões de forma consciente. Por exemplo, não é honesto com a mulher omitir os malefícios de determinada intervenção, apenas para que ela consinta com essa prática, não é mesmo? Para isso é importante que a assistência como um todo seja humanizada, e não somente o parto.

Recentemente circulou pela rede a notícia de uma famosa que disse ”não fazer a linha do parto humanizado”. Ora, mas se ter um parto humanizado significa que as escolhas da mulher serão respeitadas, o que ela deseja é ser desrespeitada no seu parto? Sendo que se ela for desrespeitada, automaticamente o desejo dela terá se concretizado, então não estaria ela sendo respeitada, mesmo sem querer (o que na realidade foi o que ela disse que queria)? Confuso, né…

John também não conseguiu entender (imagem: know your meme)

O parto humanizado pode ser planejado para ocorrer em casa, mas isso não é obrigatório! Também é possível que a mulher tenha um parto humanizado em casas de parto, ou até mesmo em hospitais, por que não? Basta que os recursos médicos sejam utilizados somente quando forem necessários ou a pedido da mulher, e não como um procedimento de rotina da instituição ou do médico. Salvo restrições, no caso de gestações que apresentem algum fator de risco adicional, o local ideal para que a mulher tenha seu parto é aquele local onde ela se sente mais segura e confortável.

Outros ”tipos” de parto normal

Fora esses três nomes mais comuns que falei acima, você também já pode ter ouvido algumas outras expressões como parto de cócoras, parto na água… A seguir vou fazer um breve comentário sobre mais alguns desses ”tipos” de parto:

posição bem confortável #sóquenão (imagem: my world with words)

Parto deitada: A posição deitada com a barriga pra cima (também chamada de litotomia, posição supina, posição ginecológica ou decúbito dorsal) é a mais vista em filmes e novelas, mas está longe de ser a posição ideal para se ter um bebê.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso rotineiro dessa posição durante o trabalho de parto é uma conduta claramente prejudicial ou ineficaz, que deveria ser eliminada. Isso acontece por que essa posição pode interferir no progresso do trabalho de parto, causar mais dor à mulher e até mesmo aumentar a incidência de alterações nos batimentos cardíacos do bebê².

Mas atenção: isso também não quer dizer que a mulher não possa se deitar nunca ao longo do trabalho de parto! Ela pode, e deve, se essa for a vontade dela, se ela quiser descansar, ou se tiver algum motivo clínico para tal. O grande problema é a imposição dessa posição à mulher por longos períodos.

Parto vertical e parto de cócoras: As posições verticais apresentam benefícios, tanto na fase da dilatação³ quanto no expulsivo⁴. Entre os benefícios já estudados estão: menor duração do trabalho de parto, menos dor, menor uso de peridural, menores taxas de episiotomia, menos partos instrumentais e menor chance de que o bebê precise ir para a UTI.

Por que isso ocorre? Conforme explicado no livro Parto Ativo⁵, quando a mulher assume uma posição vertical, seu útero trabalha a favor da gravidade, e não contra ela, por isso as contrações acabam sendo mais efetivas. A gravidade também favorece o posicionamento da cabeça do bebê sobre o colo do útero, o que contribui para o avanço da dilatação.

Além disso, ao assumir essa posição, as articulações da pelve ficam livres para se movimentarem, aumentando o espaço interno em cerca de 30% (ou ainda mais, se a mulher estiver de cócoras). Já quando a mulher relaxa sentada ou semi-sentada, o peso se concentra no cóccix, restringindo parcialmente a mobilidade das articulações.

Parto na banqueta: A banqueta de parto nada mais é do que um utensílio para auxiliar a mulher a se manter na posição de cócoras. Ela pode ser interessante para que a gestante tenha o conforto de saber que poderá contar com esse auxílio, caso deseje manter a posição de cócoras durante o parto. Contudo, vale lembrar que ao sentar relaxada sobre o cóccix, as articulações não ficarão tão livres. Nesse caso, especialmente para o expulsivo, é interessante inclinar o tronco, a fim de aliviar a pressão no cóccix.

Parto na água: Quando o local escolhido para o parto tem uma banheira disponível, a imersão em água morna é uma das escolhas mais comuns entre as gestantes.

nove entre dez dentistas grávidas gostariam de ter um parto na água (imagem: terra)

As principais vantagens apontadas para o parto na água são redução de dor e maiores chances de preservação do períneo⁶.

Contudo, embora a maioria dos estudos relate que a imersão em água morna não aumenta os riscos ou a duração do trabalho de parto, algumas mulheres relatam diminuição da progressão, ou até mesmo alteração nos batimentos cardíacos do bebê⁷. Isso quer dizer que o parto na água é perigoso? NÃOOOO, de forma alguma!! Porém é importante ter em mente que a imersão é um recurso poderoso, que deve ser utilizado com parcimônia, e sempre sob supervisão da equipe.

Como escolher meu parto?

pegadinha ? (imagem: quem disse)

Aqui vem a pegadinha desse post ?

Não tenho como te ajudar a escolher um tipo de parto. O principal não é dar um rótulo ao parto que você quer ter, mas sim se informar e entender como você espera que o seu parto ocorra. Fora que essas decisões também podem mudar a qualquer momento, inclusive durante o próprio parto! Você não é obrigada a mantê-las até o final! Seu corpo, suas regras.

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Referências

  1. Conheça as diferenças entre parto natural e parto normal. Consultado em https://www.amanascer.com/diferencas-parto-natural-parto-normal/
  2. World Health Organization, Maternal and Newborn Health/Safe Motherhood Unit (1996). Care in normal birth: a practical guide. Disponível em http://www.who.int/maternal_child_adolescent/documents/who_frh_msm_9624/en/
  3. Annemarie Lawrence, Lucy Lewis, G Justus Hofmeyr, Cathy Styles (2013). Maternal positions and mobility during first stage labour. Disponível em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD003934.pub4/full
  4. Janesh K Gupta, Akanksha Sood, G Justus Hofmeyr, Joshua P Vogel (2017). Position in the second stage of labour for women without epidural anaesthesia. Disponível em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD002006.pub4/full
  5. Janet Balaskas (1989, atualizado em 2015). Parto Ativo: guia prático para o parto natural (a história e a filosofia de uma revolução).
  6. Melania Amorim. Estudando sobre parto na água. Postagem disponível em http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/09/estudando-sobre-parto-na-agua.html
  7. Comentários no grupo do Facebook Cesárea não, obrigada. Consultado no link https://www.facebook.com/groups/cesareanao/search/?query=banheira

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