“Quando vai nascer?”, “Ainda não nasceu?”, “Já tem algum sinal para nascer?” Comentários como esses podem surgir por todos os lados: familiares, amigos, vizinhos, médicos, desconhecidos na fila do supermercado e por ai vai. E junto com eles podem surgir uma mistura de sensações nada agradáveis: medo, ansiedade, dúvidas.
As últimas semanas da gravidez podem parecer intermináveis, o que não é verdade, não é mesmo? Quanto mais informada você estiver sobre o assunto, mais fortalecida estará. Assim, esses comentários não farão nem “cosquinhas” no seu humor!
Nesse post você vai encontrar
40 semanas é apenas uma estimativa, não uma data da validade
Apenas 5% dos bebês nascem exatamente na data prevista do parto (DPP). Por isso, não se apegue a DPP. Isso mesmo: a ciência aponta uma falha de 95% entre as estimativas da provável data da chegada do bebê e do dia em que o bebê realmente nasce. As contagens em semanas ou meses servem para nos situarmos em qual fase da gravidez estamos e não para saber quando o bebê vai nascer.
A curva de distribuição dos nascimentos ao longo das semanas gestacionais (American College of Obstetricians and Gynecologists) mostra que os nascimentos acontecem:
20% entre 37 e 39 semanas;
60% entre 39 e 41 semanas;
15% entre 41 e 42 semanas.
Os dados da curva indicam que 40 semanas é apenas “a metade do caminho” para a chegada do bebê. Essas diferenças de idades de nascimentos são frutos das nossas diferenças fisiológicas (somos indivíduos únicos! Não há padrão em ser humano!). Cada bebê dará seu próprio alerta de nascimento quando tiver a maturidade suficiente para fazer sua jornada do nascer. Ele chegará quando estiver pronto.
Por que é importante esperar pelo trabalho de parto?
É a única maneira 100% de saber que o bebê está pronto para nascer.
As últimas semanas de gestação permitem ganho de peso para o bebê.
Libera hormônios para o amadurecimento final do bebê, como o corticoide, que age nos pulmões.
Libera hormônios que preparam a mãe para a amamentação.
Gravidez além de 41 semanas?
Gravidez que ultrapassa 40 ou 41 semanas não é motivo para indicação de cesariana. A conduta mais adequada quando a gravidez se estende além de 41 semanas ainda é controversa na literatura. A questão de discussão é a seguinte: esperar que o trabalho de parto ocorra naturalmente ou induzir o parto?
Os estudos indicam que ainda são necessários maiores ensaios clínicos para melhores conclusões. Por isso, cada gestante deverá ter seu caso individualizado, levando em consideração seus desejos e as características da gestação.
O que as evidências mostram:
- Se a escolha for aguardar o trabalho de parto espontâneo, é indicado um acompanhamento clínico mais frequente para monitoramento da saúde e bem-estar do bebê e da mãe (em geral, cardiotocografia e avaliação do líquido aminiótico. Porém, ainda não se sabe qual seria o melhor tipo de monitoramento e nem a frequência ideal). O monitoramento é recomendado uma vez que estudos sugerem um aumento do risco relativo de morte do feto à medida que a idade gestacional avança.
- Sobre a indução, os estudos sugerem menor risco relativo de morte do feto (se comparado com a conduta de aguardar) e sem aumento do risco de cesariana. Se a escolha for induzir, a gestante deve conversar com sua equipe de assistência para estar informada sobre os riscos e benefícios de cada tipo de indução.
Depois de muita informação e troca de ideias com a equipe a gestante estará preparada para fazer sua escolha de forma consciente. Por isso, uma boa assistência fará toda a diferença nessa reta final da gravidez. Converse com seu obstetra na próxima consulta de pré-natal sobre essas questões e levante sugestões para que você fique mais confiante na escolha de um método caso a gestação se prolongue para além de 41 semanas. Faz parte do processo de empoderamento e preparação para o parto.
Lembre-se: “a paciência é a primeira lição que nosso bebê nos ensinará.”
Referências
Rowlands, S., & Royston, P. (1993). Estimated date of delivery from last menstrual period and ultrasound scan: which is more accurate? Br J Gen Pract, 43(373), 322-325. https://bjgp.org/content/43/373/322.short • antiga, porém válida atualmente.
Gülmezoglu A Metin, Crowther Caroline A, Middleton Philippa, Heatley Emer. Induction of labour for improving birth outcomes for women at or beyond term. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 07, Art. No. CD004945. DOI: 10.1002/14651858.CD004945.pub4 https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD004945.pub4/information
Hussain AA, Yakoob MY, Imdad A, Bhutta ZA. Elective induction for pregnancies at or beyond 41 weeks of gestation and its impact on stillbirths: asystematic review with meta-analysis. BMC Public Health. 2011 Apr 13;11 Suppl 3:S5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21501456
American College of Obstetricians and Gynecologists. https://www.acog.org/?IsMobileSet=false