Tipagem sanguínea: um teste muitas vezes menosprezado, que a gente nem dá muita bola… especialmente se foi feito quando você era criança e você já sabe seu tipo de sangue “desde sempre”. Você vai preencher um cadastro e aparece lá: “Tipo de sangue” e você preenche meio no automático e nem dá muita importância a isso.
Comigo também era assim. Minha vida toda eu sempre respondi meio que automaticamente: Sou AB positivo! Sim, sou receptora universal. Enfim… nunca dei muita importância. Mas, um fator adicional é que eu sempre gostei dessa parte de genética. Ou seja, o que compõe o tipo de sangue? Cor dos olhos? Quais as possibilidades?
Me recordo que, no colégio (atual Ensino Médio), quando estudamos esse tema eu sempre era voluntária pra dar uma picadinha no dedo e colocar uma gota de sangue na lâmina pra ver a reação de aglutinação no microscópio. A gente colocava a gota de sangue e um reagente para o “A”, outra gota e reagente para o “B”, outra gota e reagente para o fator Rh. Mas é aquilo: de antemão eu já informava que era AB+ e essa era a graça: ver tudo reagir, aglutinar! E estudante lá sabe exatamente visualizar isso com precisão? Certamente não!
Nesse post você vai encontrar
E chegou a maternidade…
Tive um filho em 2004, tipo de sangue: B+. Nada também de maior relevância ou que eu tivesse dado maior importância. Até aqui o termo Eritroblastose Fetal só tinha aparecido mesmo quando estudamos tipos de sangue. Isso até o ano de 2010. Neste ano eu decidi realizar uma cirurgia eletiva. Havia o desejo de ter mais filhos, mas eu cursava o mestrado então os planos para outro bebê foram ficando para depois. Eu tinha 28 anos à época. Fiz os exames pré-cirúrgicos, médico solicitou tipagem sanguínea dentre vários outros. Me recordo de ter, inclusive, questionado a ele para que pedir esse exame, visto que eu já sabia qual era meu tipo de sangue: “precaução, garantia e segurança” ele me respondeu.
Abri os resultados: AB Negativo. Ligo no laboratório: “olha, vocês erraram um resultado de um exame meu. ” Bom, vou cortar aqui porque essa história se prolonga com diversas repetições de exames, em laboratórios diferentes e a confirmação: eu era sangue tipo AB Negativo e não positivo como pensei a vida toda.
Rh Negativo é Eritroblastose?
“E daí?” Você pode estar pensando. E daí que toda aquela minha curiosidade e interesse por genética do tempo do colegial me trouxe à lembrança um negócio que tem um palavrão e chama: ERITROBLASTOSE FETAL!
Bom, esse negócio aí com esse nome estranho é o que é também chamado de Doença Hemolítica Perinatal. Algo que pode acometer alguns bebês em algumas gestações se não houver uma adequada prevenção e acompanhamento. Trata-se de uma incompatibilidade entre o sangue da mãe e do feto, quando a mãe tem tipo de sangue Rh Negativo e o feto Positivo. Aqui nesse texto você pode entender um pouco melhor isso: https://blog.casadadoula.com.br/2018/05/17/meu-sangue-e-rh-negativo-e-agora-posso-ter-parto-normal/
Pra resumir: quem é Fator Rh Positivo tem uma substância no sangue que quem é Rh negativo não possui. Assim, se a mãe Rh- gera um bebê Rh+ e o sangue entrar em contato com o do bebê, o sangue da mãe irá entender que o sangue do bebê tem alguma coisa estranha (o tal do Rh) e vai começar a produzir anticorpos para atacar o sangue do bebê. Em uma primeira gestação não dá tempo do sangue da mãe produzir tantos anticorpos, mas em uma próxima gestação, se houve essa sensibilização do sangue da mãe, os anticorpos podem passar pela placenta e atacar o sangue do feto (se ele também for Rh+ como o bebê anterior) e isso é a Eritroblastose Fetal.
Em que implica essa tal de Eritroblastose Fetal?
Essa é uma gestação de risco, que pode trazer diversos problemas na formação do bebê e, em casos mais graves, até causar seu óbito intra-útero.
Entendem agora meu desespero? Eu, de repente, depois de 28 anos de vida e um filho Rh positivo, descubro que sou Rh negativo e ainda tinha planos pra mais filhos! Mas como? E o risco da Eritroblastose Fetal?
Chorei, me desesperei, pesquisei, estudei e fui me consultar com diferentes médicos, porque ouvi coisas muito divergentes (e aproveito pra deixar a dica de sempre buscar uma segunda ou terceira opinião). Teve médico que me informou que estava tudo ok e só precisaria de mais alguns cuidados, teve médico que me apavorou mais ainda (se é que isso era possível) e afinal, encontrei um médico que resolveu me pedir um tal exame chamado Coombs Indireto. É um exame de sangue que serve justamente para identificar se o sangue foi ou não foi sensibilizado, ou seja, se ele produziu anticorpos para o fator Rh, havendo risco de Eritroblastose Fetal em caso de uma nova gestação. Fiz o teste, muita ansiedade e: NEGATIVO! Sangue não sensibilizado!
Ufa! Um grande alívio!
Cuidados em caso de Eritroblastose Fetal
Tive mais dois filhos posteriormente, ambos Rh Positivo (se você leu o texto que linkei ali em cima deve ter entendido que tem muito mais probabilidade de nascerem bebês positivos do que negativos) e os cuidados são os seguintes: acompanhamento com o teste Coombs indireto, geralmente no início da gestação, por volta de 28ª semana gestacional e próximo ou após o parto (essas condutas variam um pouco) e também a injeção contendo imunoglobina que geralmente é aplicada na 28ª semana e também em até 72 horas após o nascimento do bebê, para prevenir a Eritroblastose Fetal.
Essa injeção destrói as células contendo a substância do Rh que porventura possam ter entrado em contato com o sangue da mãe, evitando, assim, que o corpo materno produza anticorpos que poderiam afetar um próximo feto.
Ou seja, em casos em que a mãe é Rh Negativo e o pai é Rh Positivo, é preciso tomar esses cuidados. Vale o registro que não é apenas a gestação do primeiro bebê positivo que pode sensibilizar o sangue materno: transfusões de sangue, uso de drogas injetáveis com seringas compartilhadas e outras situações envolvendo contato sanguíneo de pessoas diferentes podem causar a sensibilização de uma pessoa Rh negativo, havendo risco de Eritroblastose Fetal em caso de gestação e por isso é importante sempre fazer o acompanhamento correto.
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Quer saber mais a respeito? Confira nos links abaixo:
- Eritroblastose Fetal: Uma Atualização da Literatura.
http://ojs.fsg.br/index.php/pesquisaextensao/article/view/752-754
- Eritroblastose Fetal: diagnóstico e aspectos imunológicos.
- Meu sangue é Rh negativo! E agora? Posso ter parto normal?