Quero parir! Onde?

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Vamos refletir antes de tomar a decisão

Antes de começarmos a falar sobre as opções de locais disponíveis para se ter um parto com respeito, segurança e acolhimento, precisamos entender um pouquinho o que é parto humanizado e medicina baseada em evidência. O que esses conceitos interferem na decisão do local onde a mulher deseja parir?

Milhões de dúvidas rodeiam a mulher quando ela opta por um parto humanizado, principalmente quando precisa escolher o local do parto. Aí que surgem os questionamentos: “Só posso parir no hospital? É seguro parir em casa? O que é Casa de Parto?”.

Parto humanizado, como tudo começou

Retirada do site Desmitificando Mitos

Como falei no meu último texto (A doula pela janela da mulher), antigamente a assistência do parto era feita por outras mulheres que detinham conhecimentos baseados na experiência, na observação e no acompanhamento de outras mulheres durante a gestação, parto e pós parto.
Porém os índices de morte materna e neonatal eram altíssimos. As principais causas de morte materna e neonatal eram por pressão alta, hemorragia e infecção, aborto, prematuridade, o que levou os médicos a pensarem em formas para diminuírem esse índice.
Foi no final do século XIX, começo do século XX que a medicina se tornou incontestável, os médicos começaram a ganhar autoridade em relação à saúde da mulher na gestação e no parto. O parto deixou de ser familiar e íntimo compartilhado apenas entre mulheres, tornando-se uma pratica dominada pela medicina em ambientes hospitalares.

Retirada do Instituto Nascer

Com o avanço da tecnologia, principalmente na medicina, os médicos passaram, por exemplo, a conter as infecções com antibióticos, hemorragia com transfusão de sangue, além de iniciarem o uso de fórceps, episotomia e éter (para sedação) no intuito de reduzir o tempo de trabalho de parto e a mulher assim, sentir menos dor. Práticas hoje consideradas violência obstétrica.
No século XX o parto passou por uma nova revolução com a realização das cesarianas. A aplicação de anestesia, a esterilização, a incisão baixa na barriga, possibilitaram que os partos que antes eram considerados fatais tivessem êxito. Foi a partir da década de 50 que as cesáreas se tornam a principal via de nascimento.
Porém final do século XX, início do século XXI surge o parto humanizado, ou seja, o parto volta a ser da mulher. Ela quem decide o parto que quer de acordo com as informações sobre sua saúde e do bebê. Junto com esse protagonismo, acontece a individualização do parto, ou seja, começam a tratar o parto como único e agir de acordo com as suas particularidades.
Braulio Zorzella define o parto humanizado como uma tríade:
“- O protagonismo da mulher,
– As evidências cientificas mais atuais e individualizadas – caso a caso, uma a uma;
– A disponibilidade total para a realização deste parto: 24 horas por dia”

Temos então um novo olhar na obstetrícia com a humanização do parto, a medicina baseada em evidência. Assim, conseguimos enxergar os dois modelos de assistência ao parto hoje em dia, o que é baseado na medicina do século XX e o que é baseado em evidência.
Meu texto seguirá as premissas da medicina baseada em evidência para a assistência ao parto!

Vi, vim e não sei onde parir!

Foto de Jordan Bauer sobre Unsplash

Se um dos pilares da humanização do parto é trazer de volta o protagonismo a mulher, logo a decisão do local onde parir também é um direito dela, certo? Sim!
Parto em Casa
Como disse anteriormente os partos aconteciam sempre em casa entre mulheres e com a família. O avanço tecnológico no século XX trouxe coisas positivas e negativas para a medicina, no caso da obstetrícia, o parto deixou de ser fisiológico e familiar para se tornar um evento médico. Se por um lado o pré natal melhorou consideravelmente, por outro lado ampliaram o uso de analgesia e desenvolveram-se ainda mais as técnicas da cesárea. E o parto que antes era domiciliar, tornou-se hospitalar.
Hoje a mulher pode escolher onde quer parir, seja na sua casa, hospital público, privado ou em uma casa de parto.

Foto do arquivo pessoal

O parto domiciliar é uma realidade de assistência em diversos países. Existem vários estudos, como por exemplo, o publicado em 2011, o do National Heath System (NHS) na Holanda com mais de 679.000 partos, pode-se evidenciar uma mortalidade perinatal de 0,15% em partos domiciliares planejados contra 0,18% em partos hospitalares planejados em pacientes de baixo risco. Além da menor taxa de mortalidade, o parto domiciliar apresenta baixa taxa de intervenção e alta taxa de satisfação por parte da mãe. As evidências científicas apoiam aquelas mulheres que desejam parir em suas casas.
Porém para se optar por um parto domiciliar, a mulher precisa ter uma gestação de baixo risco ou risco habitual. Isso quer dizer que a gravidez não pode ter tido nenhuma intercorrência e com pré-natal em dia. A assistência a esse tipo de parto pode ser prestada por enfermeiras obstétricas ou obstetrizes que são aptas e qualificadas. As equipes são treinadas para que se por ventura tenha alguma intercorrência, a mesma é identificada com antecedência para que a transferência para um hospital seja a mais tranquila e segura possível.

Parto no hospital

Foto do Arquivo Pessoal

A mulher pode optar por um parto hospitalar. Tanto no hospital público ou privado é importante que a mulher busque aquele que siga o princípio da humanização e pratique a medicina baseada em evidência. Na opção de um hospital privado, em alguns deles, a mulher tem a opção de levar a sua própria equipe e usar apenas as dependências e instalações desses hospitais. Nesse modelo, a mulher pode escolher o profissional que trabalhe de forma humanizada. Geralmente esses profissionais trabalham com equipes multidisciplinares para um atendimento exclusivo, com menos intervenções para que o ambiente do nascimento se torne acolhedor e protegido.
Mesmo a mulher estando em um ambiente hospitalar ela tem liberdade de escolher a posição para parir, comer, se movimentar, descansar e até mesmo escolher os cuidados que ela gostaria que fossem dados ao bebê assim que nascer. Se houver a necessidade de uma cesárea, também é possível minimizar os impactos tanto para a mulher como para o bebe, como por exemplo, deixar a sala de cirurgia com temperatura mais agradável, diminuir a luz, permitir que mãe e bebê tenham contato pele a pele imediato.

Casa de Parto

Temos também uma outra opção, as casas de parto. Hoje elas são muito poucas no Brasil, cerca de 14 casa, todas atendem pelo SUS. São locais exclusivamente de parto normal e que funcionam integradas a um hospital, porém fora dele.

Foto do Arquivo Pessoal

Nessas casas são desenvolvidas atividades educativas e de humanização relacionadas a gestação e ao nascimento, é um ambiente acolhedor, existe um acompanhamento e avaliação das condições das saúde da mãe e do bebê, e a garantia de uma assistência segura ao recém nascido e a mulher em todas as fases (pré-natal, parto e pós parto). São locais que só dão assistência as gestantes de baixo risco ou risco habitual e em caso de transferência, são responsáveis pela segurança da mulher e do bebê até um hospital mais próximo.
Independente do local de parto é importante que a gestante escolha aquele onde ela se sinta segura e acolhida, que são algumas das premissas para que ela possa parir.

Para você ler mais sobre:
– Humanização do Parto: política pública, comportamento organizacional, e ethos profissional (http://books.scielo.org/id/pr84k/pdf/maia-9788575413289.pdf)
– O parto antes da cesárea ( http://historiadomundo.uol.com.br/idade-antiga/o-parto-antes-da-cesariana.htm)
– Entrevista com o obstetra Braulio Zorzella, especialista em parto normal humanizado ( http://www.bloggraodegente.com.br/gravidez/parto-posparto/entrevista-com-obstetra-braulio-zorzella-especialista-em-parto-normal-humanizado/)
– Locais de Parto (http://www.comparto.com.br/portal/locais-de-parto/)
– Estudando Parto Domiciliar (http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/estudando-parto-domiciliar.html)
– Casa de parto: o que é? ( http://nantuconsultoria.com.br/casa-de-parto-o-que-e/)

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