O nascimento de um bebê é um momento tão sublime e de extrema conexão da mulher consigo mesma, é uma conexão com o seu Sagrado Feminino, é conexão de ventre e coração. Essa conexão inicia na gestação, a mulher sente em seu físico as transformações dessa fase de gestar, afinal estar germinando e nutrindo um ser, que na medida do avanço dos meses cresce e se desenvolve e chegará a hora de que essa obra prima virá ao mundo, e aí começa as inquietações para saber como se dará esse nascimento, como será esse tal de trabalho de parto.
Bem, já vou adiantar que não será uma cena de novela, até porque essas cenas de trabalho de parto das novelas não existem. Repitam comigo: NÃO EXISTE!!!
A mulher passará pelas fases do trabalho de parto, porém cada mulher na sua individualidade sentirá de maneira diferente, mas ter um assistência médica que esteja alinhada com os seus desejos poderá fazer com esse parto seja algo mágico e inesquecível, porém, se a equipe não souber ser aquela que presta assistência e tem a necessidade de “fazer alguma coisa” enquanto a mulher e o bebê estão fazendo o parto poderá acarretar em um parto traumático que irá desencadear varias sequelas, de ordem física e/ou emocional.
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Fases do trabalho de parto
O trabalho de parto não tem um roteiro, isso mesmo! Tentar classificar/categorizar um processo que é fisiológico é limitante e pode, inclusive, fazer com que a mulher fique esperando a suposta fase acontecer e não se dar conta do que efetivamente já está acontecendo. Porém, temos uma lista de acontecimentos que indicam que a hora tão esperada está chegando. O trabalho de parto possui 3 estágios:
-Primeiro estágio: Dilatação, onde teremos a fase latente, fase ativa, fase de transição, fase de descanso e fase do expulsivo;
-Segundo estágio: Nascimento; e
-Terceiro estágio: Dequitação da Placenta, sim! Ainda é trabalho de parto!
Na experiência de se entregar para esse momento, independente de qualquer preparação, porque de fato, nada prepara a mulher, é preciso uma profunda entrega, perda de controle e confiança em si mesma, no seu corpo e no bebê que sabe o caminho que precisa percorrer para chegar até você.
Antes de falar dos estágios do trabalho e adentrar especificamente na assistência humanizada no expulsivo, vou te falar que antes de se instalar o trabalho de parto existem as contrações chamada de pródromos, que muitas das vezes enlouquece as mulheres, pois podem durar horas, dias ou semanas, as contrações são espaçadas e irregulares, é como se fosse um ensaio para o trabalho de parto, eles são acompanhados de cólicas e também pode haver perda de tampão mucoso, na maioria das vezes a mulher consegue seguir a sua vida dando uma paradinha somente na hora que eles aparecem.
Primeiro estágio
É quando começa a dilatação, inicia com contrações irregulares e ocorre a descida do bebê. Existe algumas fases, vamos conhecê-las?!
– Fase latente: Contrações irregulares, com sinais de que vão regularizar, são mais dolorosas que nos pródromos, pode haver pequeno sangramento e perda de tampão, a mulher consegue conversar, também pode haver vômitos e evacuações.
– Fase Ativa: as contrações aceleram, o intervalo entre elas reduz e fica mais regulares, a mulher já não conversa mais, poderá haver sangramento, suor, vômitos, evacuação e gemidos
– Fase de transição: é a fase do desespero, do choro, da raiva, é quando o lado primitivo começa a aflorar, a mulher diz que não vai aguentar, pede alívio da dor e até cesária, é um momento delicado e é importante estar com uma equipe alinhada com suas escolhas para que saiba fazer a leitura do momento em que você se encontrar e não executem intervenções desnecessárias.
– Fase de descanso: depois do bumm da transição, as contrações podem espaçar e parecerem mais curtas, pode haver sono, tem mulheres que chegam a dormir, acontece muito das mulheres dizerem que não tem mais força e até querer desistir e aí é importante está cercada de pessoas que vão calmamente te recordar das suas escolhas e te encorajar para seguir em frente.
Agora chegamos na fase do expulsivo e para falar da assistência humanizada nessa fase do trabalho de parto iremos precisar de um pouco mais de tempo, espero que você não me deixe e leia até o final.
Fase do expulsivo
Historicamente o nascimento de um bebê era um evento natural, íntimo, privado, uma experiência compartilhada entre mulheres, porém por volta dos anos 60 em razão da alta mortalidade materna e perinatal, passou a ser um assunto de saúde pública, essa preocupação não era única e exclusiva com a saúde das mulheres, mas também de não se perder mão de obra, e o parto passa a ser um evento público com a presença de médicos e objeto a ser objeto de medicalização.
No decorrer dos anos o parto passou a ser um ato cirúrgico, mais “limpo”, mais “rápido” e “seguro” e o nascimento dos bebês por via normal deixou de ser algo feminino e íntimo tornando-se algo desconhecido pela mulheres, sem falar no excesso de violências que só as amedrontavam e as deixam inseguras fazendo com que se mantenham reféns do sistema cesarista.
Aí entra o porque de ser necessário uma consciência humanizada para a equipe que irá prestar assistência ao seu parto. Nas instituições de ensino eles aprendem a serem aquele que vai FAZER o parto, o que já começa errado pois quem faz o parto é a mulher e o bebê, e por consequência os profissionais por desinteresse não buscam estudar e se atualizar, e consequentemente se tornam a pessoa que PRECISA fazer algo durante o trabalho de parto, e o que é esse fazer algo?
Na fase do expulsivo os profissionais que dizem FAZER parto normal iniciam uma saga para “ajudar a mulher”.
As tais “ajudas” são das mais variadas formas: é um cortezinho, uma massagem no períneo para facilitar a saída do bebê, passar vaselina líquida para deslizar, um empurrãozinho para descer, romper a bolsa para o parto ser mais rápido e os comandos para a mulher fazer força.
Desmistificando as “ajudas”
O cortezinho, é a episiotomia, que pode causar danos sexuais, dor intensa, complicações infecciosas e urinárias, não protege o períneo, não evita o afrouxamento vaginal e não é melhor do que uma laceração. A OMS – Organização Mundial da Saúde preconiza que a episiotomia é necessária em menos de 10% (dez por cento) dos partos, mas no Brasil isso é rotina. É triste saber que os médicos precisam aprender a suturar, logo, é preciso que exista um corte para que eles possam aprender.
Repitam comigo: O corpo feminino é inteligente! A vagina, mucosa e períneo são macios e não precisam ser cortados!
Massagem no períneo, não! Não há evidências cientificas que comprovem que na hora do expulsivo a massagem no períneo irá possibilitar que o mesmo fique íntegro.
Passar vaselina líquida para deslizar, também não! Os estudos comprovaram que o uso de vaselina líquida no períneo durante o período expulsivo não diminui a ocorrência e o grau de laceração perineal.
Um empurrãozinho, leia-se manobra de Kristeller, conforme previsão em lei é proibida a utilização de tal manobra. Não tem negociação! Lei é lei e deve ser cumprida.
Romper a bolsa, não há estudo científico que confirme que a ruptura irá acelerar o trabalho de parto.
Quanto aos puxos dirigidos (Forçaaaa! Faz força! Issooooo! Continuaaaa! Mais uma vez! Vamos! Vamos! Não pára!) também não há estudos que comprovem que fazê-los vai ajudar no trabalho de parto.
Assim, é comum haver a lesão no períneo durante o parto vaginal, independente da paridade da mulher.
Logo, todas essas “ajudas” são desnecessárias e devem ser banidas da assistência ao parto.
Assistência humanizada no expulsivo
Para prestar uma boa assistência ao parto os profissionais precisam atuar de forma humanizada, com um olhar expectante. O protagonismo da mulher deve ser resgatado como o momento do nascimento, respeitando todos os seus significados devolvendo à mulher o seu direito de ser mãe com humanidade, segurança e respeito.
A equipe que presta assistência para a mulher tem que ter o entendimento de que o parto é um evento fisiológico e não farmacológico.
O profissional técnico não faz parto, é isso mesmo! Quem faz o parto é a mulher e o bebê. Ok?!
Na verdade, ele vai prestar assistência a mulher durante o trabalho de parto, parto e pós parto imediato, e prestar assistência não é deixar a mulher sozinha para se virar, para que haja êxito é preciso que este profissional adote uma conduta expectante e esteja a todo momento atento, acompanhando a evolução do trabalho de parto, aos sinais que o corpo da mulher dá, porque o corpo fala, e um profissional atualizado saberá fazer essa leitura e entender a evolução do parto, inclusive sem precisar fazer toque.
E tem mais, ele não exige que a mulher esteja em uma posição mais confortável para que ele possa examinar, ele vai até a mulher, onde ela estiver para examiná-la, porque o objetivo é deixar a mulher parir em paz, mas com toda a assistência necessária.
Resumindo, o profissional técnico não precisa meter a mão na vagina da mulher para fazer nada, se está tudo bem basta olhar e admirar aquele lindo momento em que uma deusa esta parindo, morrendo e renascendo.
Segundo e terceiro estágios
No segundo estágio, teremos o nascimento, porque depois de muita dor, a magia acontece e a recompensa chega nos braços daquela deusa que enfrentou todo um sistema cesarista pra trazer ao mundo o seu filho de forma respeitosa.
Após o nascimento você acha que acabou? Não! Ainda não acabou, é preciso que ainda seja mantido esse olhar vigilante para a parturiente, pois é preciso que ocorra a dequitação da placenta, Nessa fase existem alguns profissionais que e razão dessa tal necessidade de fazer, ficar ali mexendo e dando um jeito de tracionar a placenta, sendo está conduta, à princípio desnecessária. Nas diretrizes nacionais de assistência ao parto normal a conduta deixa de ser expectante para ativa quando a placenta não dequitou em 1 hora após o parto, lembrando que essas recomendações são para situações em que esteja tudo correndo bem, viu?!
Assim, se você está buscando um parto seguro, respeitoso e humanizado, procure uma equipe que possa lhe dar a assistência que almeja, que devolva a você a sua autonomia no seu parto, para que você não cais no conto da carochinha e sofra intervenções desnecessárias.
Jaiana, e como eu faço isso? Leia! Se informe! Se empodere! Busque informações embasadas em estudos científicos, e se for possível tenha uma doula para auxiliar nessa trajetória.
Referências
Diretrizes Nacionais de assistência ao parto normal: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf
Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento: http://www.scielo.br/pdf/csc/v10n3/a19v10n3.pdf
Uso de vaselina líquida na prevenção de laceração perineal durante o parto: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692008000300007&script=sci_arttext&tlng=pt#tab1
História da parturição no Brasil, século XIX: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1991000200002
A Influência da Massagem Perineal na Incidência de Trauma Perineal no Segundo Período de Trabalho de Parto: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/18363/1/A%20Influ%C3%AAncia%20da%20Massagem%20Perineal%20na%20Incid%C3%AAncia%20de%20Trauma%20Perineal%20no%20Segundo%20Per%C3%ADodo%20de%20Trabalho%20de%20Parto.pdf
Parto, aborto, e puerpério, assistência humanizada à mulher: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf
Lei n.º 7.191/2016: http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/e9589b9aabd9cac8032564fe0065abb4/a01e1d414bdb967a83257f3300580ec7?OpenDocument