*Foto de Instinto fotografia e filme
Quem nunca ouviu histórias com tom assustador relatando uma maternidade ou hospital em que era possível ouvir as mulheres gritando e “sofrendo” por horas? Diante desses relatos podemos até sentir o “sofrimento e agonia” dessas mulheres, não é mesmo?
Porém, se paramos pra pensar na natureza do grito, talvez não seja tão assustador assim.
O que significa gritar?
A palavra gritar, vem do latim quirito, -are, significa chamar, invocar.
Observamos que na natureza o grito é uma vocalização dos animais que expressa algo, um sentimento, uma sensação. Nada muito diferente de nós, seres humanos. Vocalizamos pra expressar nossas dores, alegrias, surpresas, emoção… nossa voz dos dá um poder incrível de exteriorizar o que as palavras muitas vezes não conseguem aprisionar.
Já reparou nas respirações profundas de meditação, onde inspiramos o ar pelo nariz e expiramos pela boca, soltando um junto “aaaah…”? A sensação é totalmente diferente se a expiração fosse somente pelo ar, sem a voz. A vocalização também está presente nos mais antigos mantras (como o OM), durante o qual se alcança níveis de concentração e consciência elevados.
Nesse post você vai encontrar
Mas voltando ao grito, o que uma mulher estaria então evocando durante seu trabalho de parto?
Uma mulher, quando se entrega ao processo, evoca a força do sagrado feminino, a força de suas antepassadas, a força da natureza, da Deusa, do que ela acreditar. Ela evoca a força de si mesma e evoca seu filho a esse mundo que o aguarda.
Uma mulher gritar durante seu trabalho de parto não é feio, nem assustador. Assustador é o silêncio imposto por terceiros. É a violência silenciosa que as obriga a calarem seus mais primitivos instintos.
Garganta aberta, vagina aberta
A parteira americana Ina May Gaskin revolucionou a obstetrícia durante os anos 70, trazendo observações muito importantes, as quais foram organizadas na “lei do esfíncter”. Essa lei declara que os esfíncteres (anal, cervical e vaginal) são responsáveis por trazer seu bebê ao mundo. Oi?
Vamos de novo, com mais calma dessa vez.
A lei do esfíncter
- O esfíncter anal, o cervical (colo do útero) e o vaginal funcionam melhor em uma atmosfera de intimidade e privacidade.
Fazendo uma analogia aos momentos de maior privacidade do ser humano: já imaginou fazer cocô com alguém assistindo ou ouvindo? Ou quem sabe te apressando, mandando você fazer força? Tem pessoas que nem conseguem fazer cocô fora de casa! O corpo trava, e por mais que ela tente, não tem jeito. No parto é a mesma coisa. A mulher precisa de privacidade, precisa ter respeitado seu espaço e seu tempo.
- Os esfíncteres não podem ser abertos à força nem respondem bem às ordens de empurrar e relaxar.
Sempre que a minha filha vai ao banheiro, fico ao lado dela esperando pacientemente o momento em que ela vai me avisar que “terminou”. No auge dos seus 4 anos, ela não precisa que eu diga como deve fazer suas necessidades, simplesmente porque é um processo natural e fisiológico. Às vezes ela não quer que eu fique do lado, prefere fechar a porta comigo do lado de fora, e tudo bem também. É o momento dela, estarei por perto quando ela precisar.
- Quando o esfíncter está em processo de abertura, pode ser fechado repentinamente se a pessoa se altera, se assusta ou é humilhada.
Aqui entra a questão da adrenalina, que impede a abertura dos esfíncteres, e no caso do trabalho de parto, inibe a produção de ocitocina, que é responsável pela dilatação do colo do útero.
- O estado de relaxamento da boca e da mandíbula está diretamente relacionado à habilidade do colo do útero, da vagina e do ânus para se abrirem completamente.
Então não, gritar ou vocalizar durante o parto não tem nada de assustador. É natural, é primitivo e é o que muitas mulheres precisam para vivenciar esse processo. É muito mais difícil conseguir parir com os lábios cerrados e a garganta fechada. São processos antagônicos, travar todo o corpo e esperar que o bebê saia com facilidade.
Se entregue, relaxe, sinta todo seu corpo abrir passagem para seu bebê. Permita-se vivenciar por completo essa transformação de renascimento de uma outra mulher.
Referências
1 – Lei do esfíncter de Ina May Gaskin