Quando uma mulher fala que quer ter seu bebê de parto normal, é muito comum escutar…
“Uau que coragem?!”
A coragem é atribuída a nós mulheres, quando decidimos viver e sentir, a tão “temida e quase mitológica”: Dor do Parto!
A maioria de nós cresce escutando que o parto é uma experiência extremamente dolorosa, e para animar ainda ouvimos aqueles comentários “ótimos”, do tipo:
“Parto normal?! Não existe dor pior!?
“Mas, pra que sofrer se existe a cesariana?!”
“Ai tadinha, ela sofreu tanto, eu sabia que não ia nascer normal!?
Pra que passar por isso?!”
A lista de comentários desanimadores é muito extensa, infelizmente, nós sabemos bem…
Mas vamos sempre lembrar, que o nascimento é um evento natural. Todos os mamíferos, inclusive nós seres humanos fêmeas, parimos! Nosso corpo é preparado para gestar, parir e nutrir nossos “filhotes”. Assim nossa espécie vem se reproduzindo até os dias de hoje.
E claro, temos a medicina a nosso favor, se algo sair da normalidade, ela é a ciência que está aqui pra nos ajudar, amém!
A dor do parto sempre existiu, mas é importante entendermos que essa dor não trás consigo o sofrimento. Ela é nossa aliada e faz parte de nós. Ela é nosso corpo e trás nosso bebê ao mundo, resgatando nossa força e nos religa a natureza. Ela trás saúde ao nosso pós parto e nos trás emoção… sim ela dói, mas é passageira e vai embora com sutileza, nos deixando em paz com uma sensação de vitória e amor, que é algo indescritível!
Mas afinal, o que é a dor do parto? Como ela é? Será que dói mesmo? Por que ela existe?
Vamos desmistificar, conhecendo mais sobre a DOR DO PARTO!
ASSIM COMEÇAMOS… CONHECENDO NOSSO ÚTERO
Não tem como falar sobre a dor do parto sem falar dele, o ÚTERO.
O útero faz parte do aparelho reprodutor feminino e está localizado bem no fundo da cavidade abdominal, entre a bexiga (na frente) e o reto (atrás), este conjunto é denominado de órgãos pélvicos.
Ele é um um órgão muscular, oco, que consiste numa rede de fibras e feixes musculares. Essa musculatura uterina é lisa, ou seja, de comando involuntário.
Partindo de cada lado do topo do útero, ou fundo uterino, saem as trompas, ou tubas uterinas que terminam com projeções chamadas fímbrias, que envolvem os dois ovários (esquerdo e direito). A parte inferior é conhecida como cerviz, ou colo uterino.
O óvulo maduro é liberado, no período da ovulação (período fértil), por um dos ovários, e é capturado pelas fímbrias, daí segue pela tuba uterina. A fecundação ocorre em uma das tubas e o embrião vai se fixar na cavidade uterina (implantação) e ali irá se desenvolver através de divisões celulares. Juntamente com esse embrião também irão se formar a placenta, o cordão umbilical e a bolsa amniótica (onde fica o líquido amniótico).
Assim inicia-se a gestação!
O ÚTERO É O PRINCIPAL ÓRGÃO ENVOLVIDO NA GESTAÇÃO E NO PARTO
O assunto é longo, mas vamos focar… O útero expande durante a gestação, basicamente porque as fibras são distendidas, respondendo a estímulos hormonais, e assume a forma circular. Ele estará sempre protegido pelos ossos da pelve.
É muito importante saber que as fibras e os feixes musculares que constituem o útero estão dispostas em todas as direções: longitudinal, oblíqua e circular. Mas, no o colo uterino estas fibras estão dispostas na forma circular e é protegido pelo tampão mucoso, que fica entre o colo e a vagina.
Por que é importante saber isso para entender a dor do parto?
Porque no final da gestação, a principal função do útero é “eliminar o que esta dentro dele”. Então, durante o trabalho de parto, o útero se contrai em intervalos regulares e as fibras e feixes do corpo uterino irão “puxar”as fibras circulares do colo do útero e gradualmente o colo dilata (“período de dilatação”), atingindo sua abertura total, o que irá permitir a passagem do bebê. Em seguida inicia-se o parto, e o útero irá contrair intensamente para expelir o bebê, as membranas e a placenta. Isso tudo funciona lindamente como uma orquestra da natureza, regida pelos hormônios do amor.
Então é isso?! A Dor do Parto são as contrações uterinas?
SIM!
A maioria das mulheres sentem as contrações como a dor mais incômoda e intensa do parto.
Cada uma de nós sentirá de forma bem particular essas contrações, e esse é um dos motivos de ser uma dor tão difícil de ser explicada, porque varia, cada mulher sente de uma forma e até a mesma mulher pode sentir essa dor de forma diferente em partos diferentes.
AS CONTRAÇÕES UTERINAS
A dor do parto é uma velha história para a Humanidade. Não há dúvidas sobre ela – qualquer mulher que já deu à luz pode confirmar: “o parto dói… dói mesmo!”
Janet Balaskas, Parto Ativo
Nas últimas semanas que antecedem o parto a mulher vai começar a sentir seu útero contrair. Algumas de nós não sentem nada, e acham que tem algo errado, é super normal também não sentir nada, essas primeiras contrações costumam ser indolores! As vezes só se observa a barriga endurecer por alguns minutos, ou até segundos. Outras, irão sentir essas contrações como pequenas cólicas menstruais, podendo ou não virem acompanhadas de dores na região lombar.
Está tudo perfeito! Seu útero está contraindo, se preparando pro momento do parto!
Esse é nosso primeiro contato com a dor do parto. É importante saber que está tudo caminhando bem, seu corpo sabe e segue o caminho da natureza, você vai parir, seu bebê vai nascer!
Converse sempre no seu pré-natal, com a sua médica(o) ou enfermeira(o) sobre suas sensações, procure se informar se algo sair da normalidade, sempre! Pré natal sempre ok. OK?!
Seguindo… Estas são as contrações de treinamento ou pródromos e podem acontecer semanas antes, dias antes, ou no dia do parto.
O trabalho de parto inicia-se quando o colo do útero começa a dilatar, mas cada mulher sentirá da sua maneira. Ele pode iniciar silenciosamente, ou pode dar sinais, e o sinal mais concreto que o trabalho de parto realmente começou são as contrações uterinas ritmadas (com ritmo; por exemplo: de 10 em 10 minutos).
As primeiras contrações podem ser leves e tranquilas, como uma cólica menstrual, muitas mulheres conseguem dormir, descansar e até passar um dia assim. Podem acontecer em intervalos longos, como a cada meia hora, uma hora. O importante nesse momento é ficar tranquila, descansar, caminhar, nada de apavorar, ok?! Aproveite a tranquilidade e não se desespere, deixe fluir!
A medida que vai avançando o trabalho de parto o intervalo entre cada contração diminui (tempo entre uma e outra), ao passo que, a intensidade da dor aumenta gradativamente, como uma onda!
“O ritmo do parto é dado por um músculo: o útero. Esse músculo cavo, onde se encontra o bebê, ele se contrai e descontrai. A alternância não é dada pela vontade da mãe: mesmo que ela quisesse, não conseguiria. A musculatura lisa não recebe ordens, ao contrário da estriada, como a do abdômen e do períneo. O útero se contrai pela ação de substâncias hormonais, a ocitocina, que é secretada no fim da gravidez pela hipófise da mãe e do feto e a prostaglandina produzida pelo próprio útero”.
Quando o Corpo Consente
COMO UMA ONDA NO MAR…
As Contrações Uterinas são chamada de ONDAS por Janet Balaskas em, Parto Ativo, já que elas começam leves e vão crescendo em intensidade até atingir o pico, depois vão diminuindo como uma onda no mar.
“Quando você pensa em cada atividade uterina como uma onda, ela passa a ter um significado diferente. Fica mais fácil visualizar seu útero se abrindo graças ao trabalho uterino.”
As contrações uterinas são de caráter agudo e não pulsante ou persistente, ou seja, não costuma haver dor entre uma contração e outra, há intervalos de descanso sem dor. São realmente ondas de dor.
Aproveite os intervalos! Descanse, se alimente, sorria, respire, caminhe, dance, abrace, confie, relaxe…
As contrações nada se assemelham a dores crônicas patológicas, é uma dor fisiológica, natural. No pico, as contrações podem ser intensas e nessa hora é preciso relaxar e permitir que os hormônios (principalmente ocitocina e endorfina) possam agir com naturalidade, eles são nossos parceiros, e podem inclusive amenizar a dor. É importantíssimo seguir os “pedidos” do nosso próprio corpo, nos conectando com nossas sensações, encontrando assim posições que proporcionem o alívio da dor.
Sabe uma coisa simples que ajuda muito a passar pelas contrações?!… feche seus olhos quando senti-las!
Nossos inimigos nesse momento são, a tensão, o medo, a preocupação, a insegurança, tudo isso libera adrenalina que interfere negativamente no trabalho de parto, pois diminui a secreção de ocitocina. Quanto mais a gente relaxa e confia, mais tranquilo será.
E Claro! Existem métodos e técnicas não farmacológicas para aliviar naturalmente a dor do parto, e também métodos farmacológicos, aos quais todas temos direito!
E podemos sim sentir desespero, se isso acontecer (e acontece com quase todas nós) verbalize, libere, grite, permita-se, aceite, sinta-se acolhida, você vai transcender limites!
Quanto mais naturalmente encararmos o parto, mais fácil será passar por ele!
Aqui cabe lindamente um trecho do livro, A Maternidade e o encontro com a própria sombra, de Laura Gutman, que diz:
“A dor permite que nos desliguemos do mundo presente, percamos o controle, esqueçamos a forma, o correto. A dor é nossa amiga, nos leva pela mão até um mundo sutil, ali onde bebê reside e se conecta conosco. Perdemos noção de tempo e espaço. Para entrar no nível de ruptura, é indispensável abandonar mentalmente o mundo concreto. Porque parir é passar de um estágio a outro. É um rompimento espiritual. E, como todo rompimento, provoca dor. O parto não é uma enfermidade a ser curada. É uma passagem para outra dimensão.”
MAS E O CÍRCULO DE FOGO? ELE NÃO DÓI?
Eu não poderia fechar esse post sem falar dele, mesmo que brevemente.
Depois que atinge a dilatação total e o bebê encaixa no canal vaginal, a mulher sentirá uma pressão que dará vontade de fazer força. Chegou o período expulsivo (fase final do parto em que o bebê desce pelo canal de parto para nascer)!
Conforme o bebê está passando e vai chegando cada vez mais perto da região mais externa da vagina, a mulher vai sentindo uma ardência na região do períneo, e essa ardência é chamada de CÍRCULO DE FOGO. Isso acontece porque o períneo está se “abrindo” calmamente pro bebê passar.
A maioria das mulheres relatam a dor do círculo de fogo bem mais tranquila do que a dor das contrações, mas é claro que devemos também nos preparar pra ela.
Há também relatos de mulheres que não sentem dor nas contrações, somente incômodos, e sentem mais intensamente o círculo de fogo.
Vale lembrar do que Michel Odant e Niles Newton observaram e relataram, em sua pesquisa: No momento do expulsivo, a parturiente recebe uma descarga de adrenalina na corrente sanguínea e nessa fase ela é muito bem vinda, ela age como um gatilho. A presença da adrenalina na fase final do parto resulta num expulso mais rápido e também age despertando o bebê para o nascimento.
Portanto, se entrega, seu corpo saberá o que fazer!
O Parto é um momento único! Só nós podemos viver essa “meditação incrível” que é parir. Nós mergulhamos intensamente em nós mesmas, atingimos outra dimensão, vivenciamos um estado de transe e trazemos ao mundo nosso filho.
Não é preciso temer, é preciso informação, cuidado, assistência, entrega, confiança, segurança, e muita calma. Respira, deixa a onda passar, deixa a onda trabalhar, deixa onda trazer seu bebê pra você, e você irá se despedir dela com seu bebê no colo e muita emoção no coração!
A dor do parto é como uma onda… que se vai…
LEITURA RECOMENDADA:
PARTO ATIVO, Guia prático para o Parto Natural (A história e a filosofia de uma revolução). Janet Balaskas, Editora Ground.
A MATERNIDADE E O ECONTRO COM A PRÓPRIA SOMBRA, o resgate do relacionamento entre mães e filhos. Laura Gutman, Editora Best Seller.
QUANDO O CORPO CONSENTE. Marie Bertherat, Théresè Bertherat e Paule Brung, Editora Martins Fontes.
O Medo da Dor do Parto, Blog Casa da Doula.
Sobre Círculo de Fogo: https://www.bemmequerconsultoria.com.br/single-postcirculo-de-fogo
Uma resposta para “Conhecendo a dor do parto”