Anestesia e parto, combinam?

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Antes de falarmos da anestesia/analgesia, vamos abordar a questão da DOR.Quando falamos de dor, parece que naturalmente associamos a experiências ruins, por tanto podemos perceber que a dor física que sentimos vem associado a uma emoção.

E no parto essa emoção não precisa ser necessariamente ruim, para isso precisamos desvincular essa crença de que dor é sofrimento.

Com certeza alguma vez na sua vida, alguém próximo a você se referiu ao parto normal como algo extremamente doloroso e sofrido, frases como “ pra quê ficar horas sofrendo” “Fulana sofreu muito no parto”, querendo ou não essas mensagens ficam gravadas no nosso inconsciente, ficam ali quietinhas, até que um dia você se vê grávida!!!!

Espero que este texto traga clareza a sua mente e que te incentive a continuar em busca de informações de qualidade, para que você tome suas decisões sobre qual a melhor forma de nascer, de maneira consciente.

Tipos de anestesias

Primeiro, vamos definir a diferença entre anestesia e analgesia.

Analgesia: Diminuição a sensibilidade da dor, porém preserva as demais sensações e não há perda da consciência.

Anestesia: Está relacionada a perda total ou parcial da sensibilidade da dor e demais sensações, pode causar ou não a perda de consciência.

Os métodos farmacológicos oferecidos no parto são:

Raquianestesia ou conhecida como a“ráqui”: Utilizada na cesariana, a raquianestesia, retira completamente a dor, perda da sensibilidade e de movimentos dos membros inferiores (as pernas), mas possibilita que a gestante permaneça consciente durante todo o procedimento cirúrgico e com isso conseguir ver o nascimento do bebê.

Peridural: Pode ser tanto utilizada no parto normal, como na cesariana. A Peridural permite a movimentação da gestante, não afeta as contrações e retira a sensação de dor, pode ser fixado um cateter no local onde foi feita a primeira punção para que seja administrada novas doses de analgesia.

Duplo bloqueio ou anestesia combinada: é a junção da raqui+peridural, para o parto normal é considerada a melhor opção de analgesia, pois junta com a ação rápida do bloqueio motor da raqui, com a durabilidade do anestésico da peridural, permite o alívio de dor e preserva a capacidade da gestante de se movimentar, nesse tipo de analgesia também é possível fixar um cateter para que seja administrados novas doses de analgesia, sem precisar passar por uma nova punção.

Oxido nitroso (gas hilariante):  Não requer punção na lombar, por tanto é menos invasivo, a gestante pode controlar o uso, não afeta as contrações e nem a capacidade de movimentos da mulher, é eliminada rapidamente do organismo, mas no Brasil esse método ainda é pouco utilizado e praticamente desconhecido pela população, sabe-se que o Hospital Sofia Feldman aderiu ao uso do gás, mas no momento está em falta.

Depois da Analgesia

Efeitos colaterais

Como todo medicamento, é possível ter algumas reações ou efeitos colaterais, após o uso de anestesia, seja para o parto normal ou cesariana.

Principais efeitos na mãe: pressão arterial baixa(hipotensão), alteração de batimentos cardíacos, náusea, vômitos, dor de cabeça(cefaleia), tremor, coceiras principalmente no rosto.

Para o bebê: Entende-se que não haveria prejuízo direto uma vez que o anestésico age nos nervos sensitivos da mãe, diferente da anestesia geral que é administrada na corrente sanguínea, podendo atravessar a placenta. Mas o bebê pode sofrer alguma alteração no parâmetro de vitalidade fetal, de acordo com as reações da mãe ao uso da analgesia. Por isso é indispensável o monitoramento dos batimentos cardíacos do bebê durante o trabalho de parto.

Direitos da gestante

Com as novas diretrizes da Assistência ao Parto Normal, toda mulher em trabalho de parto tem direito a utilizar métodos farmacológicos de alívio de dor, ou seja, usuárias de convênios particulares ou do Sistema Único de Saúde (SUS) tem o direito de solicitar analgesia.

No Estado de São Paulo, foi sancionada uma lei que assegura as usuárias do SUS incluirem no plano de parto o desejo ou não de solicitar o uso de analgesia.

Lei Nº 15.759, DE 25 DE MARÇO DE 2015:

Art 6º:

III – a utilização de métodos não farmacológicos para alívio da dor;

IV – a administração de medicação para alívio da dor;

V – a administração de anestesia peridural ou raquidiana

Anestésico natural existe?

Se naturalmente nosso corpo reconhece a dor, por outro lado, ele também possui mecanismo de defesa para driblar, amenizar ou compensar o estímulo doloroso.

Falando no âmbito do trabalho de parto, quando a mulher começa a ter contrações, o corpo dela produz um mix de hormônios que ajudam no processo de dilatação e que também ajudam no relaxamento e sensação de bem estar. Por tanto, sim, nosso corpo é capaz de produzir um efeito anestésico natural. Estamos falando das Endorfinas.

A Endorfina é um hormônio produzido na glândula Hipófise que possui essas características de relaxamento, bem estar e é secretada no parto de acordo com a necessidade do organismo para compensar o estímulo das contrações.

Quando falamos em métodos não farmacológicos para alívio de dor, estamos falando tanto de massagem, ambiente acolhedor e respeitoso, banhos quentes, aromaterapia, todas essas ações favorecem a liberação das endorfinas, é por isso que o ambiente e a assistência oferecida a essa mulher é importante para uma experiência positiva de parto, caso contrário, se a mulher se sente invadida, humilhada, coagida, violentada, os hormônios do estresse e adrenalina podem potencializar a sensação de dor e tornar uma experiência de parto traumática.

Outra maneira de driblar a sensação das contrações durante o parto é a meditação e hipnose.

A prática meditativa durante a gestação e parto,aumenta os níveis de um neurotransmissor chamado GABA, que tem um efeito calmante, tranquilizante e analgesico.

A hipnose na gestação e parto vem crescendo gradativamente como um aliado no alívio de dor e experiência de parto positiva. Se você está pensando que ficar hipnotizada durante o trabalho de parto irá te deixar inconsciente ou vulnerável a ponto de te dar uma cebola e você comer como se fosse uma maçã…..calma, respira profundamente, relaxa a mente e corpo, porque não é disso que estamos falando. o estado hipnótico, causa uma modificação na consciência, deixando a mulher em profundo estado de relaxamento, mas ela se mantém consciente, podendo despertar do transe a qualquer momento.Lembra dos neurotransmissores que mencionei na meditação? Então, na hipnose esses níveis de GABA também aumentam.

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Então, se você associar o estímulo das contrações  a uma emoção positiva e utilizar de técnicas não farmacológicas que permitam a liberação de endorfinas e GABA, para aliviar a dor é bem provável que você conseguirá administrar melhor a sensação das contrações e não solicitará métodos farmacológicos, mas se mesmo assim você quiser utilizar, lembre-se o PARTO É SEU e só você reconhece o seu limite.

Te desejo uma ótima experiência de parto.

A seguir fotos e depoimento de uma Gestante que acompanhei em 2016.

Passei por uma indução. Antes de ser internada, já estava há duas noites sem dormir bem, dormindo muito pouco. Colocamos o comprimido para indução à noite e passamos a noite em claro fazendo exercícios pra neném descer. Quando cheguei aos 6 ou 7cm de dilatação já não suportava a dor e o cansaço. A obstetra optou por uma peridural, ainda que – e me deixou ciente disso – estacionasse o trabalho de parto.
A sensação foi maravilhosa, eu relaxei e consegui dormir por uma hora. E, pra nossa surpresa, foi o fôlego necessário para chegar na dilatação total.
A analgesia, pra mim, foi o alento para retomar as forças e o equilíbrio (físico e emocional) para trazer minha menina pros meus braços!
Parto da Ariana Pereira.

Referências:

Direitos da Gestante

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf

https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2015/lei-15759-25.03.2015.html

Gás hilariante

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0304501311000033

Analgesia e Anestesia de Parto. Repercussões Materno-Fetais

https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/66073/2-s2.0-0034122459.pdf?sequence=1&isAllowed=y

https://repositorio.unesp.br/handle/11449/66073

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