Eu sei, você comenta, às vezes até meio que “falando pra dentro”, na esperança de que aquela informação “passe batido” para a pessoa, que você quer “tentar um parto normal”.
Em geral você recebe de volta um olhar espantado, surpresa, muitas vezes
até preocupado. Mas, por que será que isso acontece mesmo?
É comum as pessoas verem o parto normal como um evento altamente perigoso, imprevisível e arriscado e a cirurgia cesariana como uma opção muito mais segura.
Nesse post você vai encontrar
ASPECTOS CULTURAIS EM RELAÇÃO AO PARTO NORMAL
Há muitos fatores culturais que influenciam nessa percepção. A maioria de nós conhece ao menos uma história trágica ligada a um parto normal e são essas as histórias que mais se propagam, muito mais do que as histórias bem sucedidas.
De outro lado, passamos a não conhecer, não estar mais acostumadas aos processos naturais e fisiológicos de nosso corpo. Poucas mulheres próximas de nós pariram. É cada vez mais comum mulheres que tem ao seu redor apenas relatos de cesarianas, muitas vezes que sequer sentiram uma contração. E qual o problema? O problema é que não há experiências, relatos para partilhar; ela fica sem saber como é, o que esperar…
E aí vem os grandes estigmas: do “parto a ferro” (uso de fórceps, que, vale registrar, hoje é bem diferente do que era há algum tempo); do “se não corta em cima, corta embaixo” (episiotomia, ou “pique”, que os estudos tem cada vez mais provado que raramente é necessária) e tantos outros que fazem com que as mulheres acreditem que todos os partos normais tem que ser dessa forma, com todas essas intervenções. Não acreditamos mais que nosso corpo é capaz de parir sem essas interferências médicas.
E O PARTO HUMANIZADO?
De outro lado, muitas vezes ouvimos falar do famoso parto humanizado e o que mais vemos na internet são vídeos ultra editados, de partos domiciliares (em sua maioria),com lindas músicas de fundo e outras tantas coisas que podem passar a impressão de que: 1. Só parto em casa é humanizado; 2. Não transmite como realmente é um parto, fazendo com que a mulher acredite que é só para algumas poucas “esse tipo de parto”; 3. Parece que é muito caro; 4. Pode parecer que é apenas para mulheres com um determinado perfil (geralmente que fazem rituais reverenciando o sagrado feminino, plantam sua lua, usam ervas e óleos e assim por diante) e 5. Parece que é abrir mão da tecnologia que temos hoje.
Nada poderia estar mais distante da realidade! O parto normal não precisa ser um evento que causa medo. Existem riscos? Sim! Não existe gestação sem risco algum, mesmo as mais saudáveis. No entanto, o que a ciência nos mostra é que a maior parte das mulheres é perfeitamente capaz de parir e para a maioria essa é a opção mais saudável ( e o mesmo vale para os bebês). As outras, que serão um número reduzido, ou seja, a exceção, essas podem precisar de alguma ajuda na forma de uma intervenção ou mesmo uma cesariana. Porém, submeter-se a uma cirurgia sem real necessidade é que apresenta riscos bem maiores. Vários estudos (vide referências) já demonstraram que a cesárea apresenta maior risco de morte para a mãe e bebê, histerectomia (retirada do útero), hemorragia, infecções, problemas em outros órgãos e assim por diante.
Aprendemos a acreditar mais nos equipamentos e tecnologia do que nos processos fisiológicos aprimorados por milhares e milhares de anos. Nossa rotina, nossa “vida corrida” não espera, pede que a gente tente manter o máximo possível de controle sobre tudo. E isso é impossível!
O QUE FAZER?
Então alguns passos ou dicas para você que quer um parto normal e tem medo, ou mesmo para você que está indecisa e se vê muitas vezes perdida em meio a tantas informações conflitantes:
- Procure entender o funcionamento do seu corpo, como é o processo de um parto normal e uma cesariana.
- Busque fontes confiáveis de informação. Aqui no blog Casa da Doula todos os textos dispõem de referências científicas por onde você pode começar sua busca.
- Busque se cercar de pessoas que também desejam o parto normal, pois elas podem te auxiliar a perder o medo, você pode procurar grupos de apoio a gestantes e mães ou, se não tiver grupos em sua região, busque online ou comece um [grupo].
- Faça o possível para ser atendida/assistida por profissionais realmente atualizados e que tem em sua prática a mesma conduta que você deseja para si. Procure indicações nos grupos de apoio.
- Conheça as recomendações científicas, as indicações, os processos para que possa fazer boas escolhas.
E, acima de tudo, confie em você, no seu corpo e não tenha medo de mudanças e de agir de forma diferente da maioria.
INFORMAÇÃO E APOIO SÃO AS CHAVES PARA VENCER O MEDO!
REFERÊNCIAS
https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0102-311X2014000700005&script=sci_arttext&tlng=pt
- Fatores associados à realização de cesariana em hospitais brasileiros.
https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0034-89102010000100008&script=sci_arttext&tlng=es
- Complicações maternas e cesárea sem indicação: revisão sistemática e meta-análise.
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51/pt_0034-8910-rsp-S1518-87872017051000389.pdf
- Aumento de cesárea está associado à maior taxa de mortalidade materna.
https://pebmed.com.br/aumento-de-cesarea-esta-associado-a-maior-taxa-de-mortalidade-materna/
- Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas.
- Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf