Um dos grandes medos ao pensar no parto é a tão temida dor. Muitas mulheres desistem do parto normal porque têm medo. Medo da dor, medo de alguma coisa dar errado, medo por sua vida e pela vida do bebê. Isso é muito comum e é sinal de que você precisa se fortalecer.
Nesse post você vai encontrar
O resgate.
É importante entender que nossas antepassadas pariam com um olhar bem diferente do nosso. Não era a dor da doença e muito menos da morte. Ao contrario disso: a dor da vida, a dor da recompensa a dor que faz nascer o melhor de você. Quando o parto tomou o ambiente hospitalar, houve a tendência de enxergá-lo como doença. Procurava-se a cura para tal dor, deixando de ser um ato fisiológico. A grande quantidade de interferências desnecessárias e violência obstétrica, afastaram a mulher da capacidade de ouvir seu corpo e entender o processo diminuindo assim o hormônio do amor a tão chamada oxitocina.
Oxitocina: o hormônio do “amor”, da calma e conexão, afasta a dor, diminui a dor ou torna-a suportável.
Mas afinal que dor é essa?
A dor é como um guia, sim ela deseja te pegar pela mão e te conduzir durante o trabalho de parto. A função fisiológica da dor é proteger o corpo através do envio de sinais de alarme para nos avisar dos agressores, para que possamos agir perante o perigo de forma a protegermo-nos.
Eis a questão, fujo ou fico?
O que muitas mulheres não sabem é que o sentimento de fuga faz com que a dor AUMENTE muito mais. Ao se opor ao sofrimento resistindo ao próprio corpo sofremos um ataque. Ataque? Sim um “ataque” visceral por parte do bebé, que vai contra todos os princípios de auto-conservação.
Este ataque contra nossa integridade, coloca o corpo em estado de alerta, sinalizando o perigo através da “dor” que desencadeia reações de defesa fisiológica. Ativamos a adrenalina/noradrenalina: luta ou luga, hormônio da excitação e do estresse, inibe o trabalho de parto.
A dor da despedida e do reencontro.
A dor parto existe. E doí sim! Mas a presença do medo a torna muito maior. Conhecer esse processo e aceitar, torna a dor muito menor, é uma fonte de aprendizado.
É como mergulhar num mar desconhecido onde as ondas iniciais que são as “contrações” uterinas viessem para molhar os pés, como ondas elas vem e vão vagarosas e no seu ritmo. O parto é o grande mergulho a grande imersão. O corpo se despede do bebê, cada contração é o abraço de tchau, toda despedida é dolorosa. Sentir é importante para ambos…
Aos poucos, as ondas se intensificam e abraçam as pernas, o mar aqui é a vida nos envolvendo por completo. É o primeiro contato que os bebês têm com a vida real: dolorosa, mas necessária, envolve a aceitação, o autoconhecimento, a confiança e sobretudo, o amor. O parto é uma via de mão dupla, a chegada e a partida: é a dor da chegada da vida, mas também, da ida que põe fim ao tempo em que mãe e bebê foram um só.
Sentia que a cada minuto ela aumentava, sem noção de tempo e percepção ao meu redor, mergulhei em mim mesma tentando me preparar para o próximo pico de dor, aquele momento era meu, não era mais uma contração e sim menos uma. Tudo era necessário para receber minha pequena. Fácil não foi, teve momentos que pensei não suportar, depois de horas seu corpo desfalece e o cansaço toma conta, você não sabe mais como “reagir” e o que fazer. Além da dor física existe a mente divagando entre o possível e o fracasso, sim o medo te enfraquece e te faz questionar a si mesma… Já no expulsivo sentia além da dor um repuxo me virando do avesso, naquele momento nasci mãe! Gestar os nove meses me ensinou, mas foi no trabalho de parto que aprendi o quanto sou forte, que a concepção natural não se resume apenas em dor mas em superação e aprendizado.
A dor do parto foi algo surreal.
Durante a gestação o medo da “Dor” foi muito grande por causa dos palpites. Mas no dia que em que encontrei essa dor ela superou todos as minhas expectativas achei que não aguentaria, porém olhava para dentro de mim e me imaginava com a minha filha no colo, sentindo o cheirinho dela beijando-a. A DOR é real e muito grande. Mentalizar isso me ajudou a super e deixar as coisas fluírem do jeito que tem que ser.
Quando eu achei que não ia suportar ouvi: “ calma Bruna, seu bebê já vai nascer!” A dor era tão forte, porém cada contração eu pensava: _ Uma a menos para eu ter meu bebê nos braços …
O momento mais dolorido foi o expulsivo(após dilatação total quando o bebê entra no canal de parto) mas também foi um momento de cura porque eu já tinha tido sofrido violência obstétrica no parto anterior, uma traumática episiotomia que fez marcas no corpo e na alma. Realmente entendi o que ouvi dizer “você nem vai se lembrar mais dessa dor” Então vivi aquela dor porque sabia que não a viveria novamente e que através dela receberia em meus braços meu maior presente, meu filho amado, meu filho da felicidade. As palavras são insuficientes pra descrente esse momento único e tão fantástico. Que presente de Deus!
Embarque nesse reencontro.
Cada pessoa tem um nível diferente de tolerância à dor – o que pode ser uma dor excruciante para uma mulher poderá ser algo perfeitamente tolerável para outra. Mesmo na mesma mulher, que tenha passado por mais de um parto, as dores podem ser completamente diferentes. O grau de relaxamento, intimidade como o ambiente, apoio de familiares e profissionais, preparação e outros tanto irá te ajuda a encarar essa dor sem associá-la ao “sofrimento”. Quando estamos com medo, ficamos tensas, e a nossa tensão faz a dor aumentar. É um ciclo bem conhecido, o ciclo do medo-tensão-dor. Vale para qualquer tipo de dor.
PARA TE AJUDAR entenda que a dor é influenciada por fatores físicos e emocionais. Isso me faz lembrar de uma frase da Ana Cris Duarte: antes de parir seu bebê tente parir seus medos e dores.
E embora essa dor seja tão obscura, lidar com ela não é muito diferente do que lidar com outras dores. Podemos usufruir de muitos recursos como: água morna, respiração, encorajamento, carinho, apoio, balanço ritmado, massagem, relaxamento, meditação, oração, visualização, pressão, alongamento, respiração, vocalização, movimentação do corpo, ouvir música, cantar, gritar, gemer, chorar.
Essa dor indesejada é fundamental para seu trabalho de parto fisiológico. A dor que vai acelerar e te impulsionara encontrar recursos que te farão muito mais forte, enquanto te prepara para o vinculo mãe e bebê. A dor da autodescoberta. Se permita passar por ela e invista na analgesia natural apoio e orientação.
Com carinho,
Referencias:
Métodos não farmacológicos para alívio da dor no trabalho de parto: https://www.redalyc.org/html/714/71416100022/
O sentido e as funções da dor do parto: https://bionascimento.com/o-sentido-e-as-funcoes-da-dor-de-parto/