Cada mulher vai ter os próprios desejos e necessidades em relação a seus partos. Desde escolher a via de nascimento até a trilha sonora. Mas até onde vai a autonomia da gestante para fazer essas escolhas e onde começa o limite em que cabe apenas à equipe médica tomar uma decisão?
Ao contrário do que muitos pensam, o enxoval não é a única coisa a que a gestante tem direito de escolha. Durante o trabalho de parto muitas intervenções podem ser necessárias, e em uma assistência humanizada e que preza pelo bem-estar da mãe e do bebê, os riscos e benefícios de cada procedimento são esclarecidos previamente para a mulher, de forma que a decisão seja tomada em conjunto e não de forma unilateral pela equipe médica. Exceto, claro, em casos de emergência ou risco iminente.
Nesse post você vai encontrar
Medicina baseada em evidências
Os prós e contras de cada intervenção devem sempre estar fundamentados nas melhores práticas da chamada medicina baseada em evidências científicas, mas precisam considerar também fatores emocionais, valores pessoais, recursos disponíveis.
É preciso levar em conta que algumas equipes utilizam intervenções de rotina, independente da mulher que está sendo atendida. Por exemplo, muitas ainda têm por prática realizar a episiotomia, que é o corte no períneo para aumentar o canal de parto. Os estudos mostram que essa medida não traz benefícios para o resultado final do parto e pode gerar graves sequelas tanto físicas quanto emocionais.
Um dos papéis da doula, inclusive, é exatamente conversar com a gestante sobre o cenário obstétrico de sua região e informar sobre os procedimentos mais comuns, oferecendo materiais de apoio para a tomada de decisão com base em estudos de fontes seguras, como por exemplo os trabalhos publicados na biblioteca Cochrane.
Plano de parto, uma ferramenta de diálogo e conhecimento
Se a mulher chega ao hospital em trabalho de parto sem estar familiarizada com as possíveis intervenções que tanto ela quanto o bebê estão sujeitos, as chances de que em algum momento se sinta desconfortável ou insegura são grandes.
Uma forma de organizar essas ideias e evitar ser pega de surpresa, é fazendo um plano de parto, documento onde a gestante lista as intervenções que deseja, as que não deseja e as que aceita em casos de necessidade.
O plano de parto é uma ferramenta que deve ser usada pela gestante para dialogar com a equipe médica, deixando claro quais são suas necessidades, desejos e preocupações, e ouvindo da equipe seus protocolos e formas de atuação.
O que a mulher pode escolher para seu parto
Nem tudo que se idealiza para o parto poderá ser atendido, ou vai acontecer como planejado, por isso é preciso ter cuidado com as expectativas criadas, para evitar frustrações. A gestante deve levar para a equipe suas demandas e aproveitar para tirar todas as suas dúvidas quanto aos procedimentos que podem ocorrer.
A experiência do parto é única para cada gestação, e não existe “o jeito certo” de nascimento. Mas o esperado é que seja um evento positivo para a família, e que a mulher se sinta segura e feliz. Para umas isso pode significar ter um parto normal ou ter uma pessoa de sua confiança como acompanhante durante o trabalho de parto, e enquanto umas se sentem mais seguras dentro de um ambiente hospitalar outras sonham em parir em suas próprias casas.
Um dos princípios da humanização do parto é respeitar a autonomia da mulher, levando suas vontades em consideração nas decisões médicas. Como o modelo de assistência no Brasil ainda realiza muitas intervenções desnecessárias e que não encontram respaldo na medicina baseada em evidências científicas, cabe à gestante se munir de informações para dialogar com a equipe e elaborar seu plano de parto.
Referências:
Parto Normal ou Cesárea?: o que toda mulher deve saber (e todo homem também). Simone Grilo e Ana Cristina Duarte. Editora UNESP
Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf
Estudando episiotomia http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/estudando-episiotomia.html
WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience https://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/
International Patient Decision Aid Standards (IPDAS) http://ipdas.ohri.ca/index.html
Escolha informada no parto: um pensar para o cuidado centrado nas necessidades da mulher http://ojs.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/17062
Direito Humano Subjetivo e Personalíssimo: a autonomia e a dignidade do paciente frente aos riscos não informados http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1886-58872015000300011