Meu “Diário Semanal” de gestação – semana 27 e 28

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Oi Gente, boooooooooom dia, booooooooooa tarde e booooooooa noite, pra quem taí!!

Lembram que semana passada eu passei por uma situação muito chata na UBS, com relação ao atendimento da médica que atende lá? Pois é, vou contar o desfecho!

Corpo mole, bom comportamento, nível de satisfação?

Bom… semana passada a médica foi extramamente grossa no atendimento ao pré natal. Na semana seguinte, fui procurar a liderança da UBS pra protocolar uma reclamação sobre isso, seguindo então a orientação dada pela liderança política da Câmara dos vereadores de Jacareí.

Chegando lá, pedi pra falar com a pessoa responsável, que já tinham me dito o nome de quem era. Aguardei e logo fui chamada. Pra minha surpresa, não era a mesma pessoa que tinham me dito. Mas cheguei falando o que eu tinha passado e por esse motivo, eu desejava protocolar uma reclamação. Aí que a novela começou. (Edit: Os munícipes que utilizam essa UBS reclamam que a gestão não gosta de “elaborar” os problemas e vão empurrando “até que desapareçam”)

A ideia parece ser sempre justificar ações e ir empurrando os problemas, até que haja a desistência da continuidade da protocolação das reclamações. Nunca também é informado ao paciente que ele(a) pode e deve levar o caso adiante. Quanto mais dificuldades, mais burocracia, mais impedimentos, as chances de denúncias diminuem, até que se aproximem de zero! Imagem: Créditos na imagem

Ela ouviu tudo que falei, mas ao final da fala, ela justificou o comportamento da médica, dizendo que certamente ela estava era preocupada com “a falta de atenção do hospital com relação ao meu caso”. Quando eu estava quase terminando de falar tudo o que houve, aí sim chega a responsável pela UBS e tive q repetir a história novamente, não sem antes muitas interrupções para justificar a agressividade dela – dizendo que a médica não estava brava comigo, mas sim com a equipe do hospital, pela irresponsabilidade de me mandar de volta pra UBS, sendo que meu caso deveria ser acompanhado pelo auto risco.

Aí, de verdade, eu não me contive mais e falei:

“_Ok, ela está frustrada, está brava? Mas então que telefone diretamente pras lideranças do hospital e despeje isso neles, não nas gestantes…

(outra interrupção)_Sim, mas entenda, ela não estava brava com você, mas com eles. Já pensou se acontece alguma coisa grave com você ou seu bebê nesse parto? Vão dizer que a culpa é nossa! A gente prefere pecar pelo excesso do que não enviar esse caso pra lá…

_Olha… vou falar bem aberto pra vocês. EU SOU DOULA DESDE 2012!! Eu trabalho com gestantes há 6 anos, já estudei obstetrícia na USP, só faltou o estágio pra eu me formar. Todos os dias, várias gestantes entram em contato comigo, seja pelas redes sociais ou nos grupos de gestantes que eu promovo, fora as palestras que dou em UBSs dos lugares mais longe que alguém já topou ir. Já dei palestras até na roça… Praticamente 90% delas chegam “crus” de informação, acreditando e mitos e falas violentas desse tipo, de que “eu vou morrer no parto por causa da varizes grandes”. Olha, eu sei das complicações que podem vir das varizes, problemas com trombose, tromboembolias, pressão arterial alta… mas dizer, no tom de voz que ela usou comigo, gritando, praticamente, que eu vou morrer… olha… se eu fosse uma das várias gestantes que chegam desesperadas até mim, procurando uma maneira de tornar a experiência da gestação e parto um pouco menos terrível, menos traumática, eu certamente estaria em choque, apavorada, nesse momento. O papel desse tipo de profissional, com um cargo tão alto, é passar informação real, com base científica e estudos sérios, e não usar um discurso violento desse pra se impor, não acham?

Percebi que o fato de ter algum conhecimento técnico a respeito de violência obstétrica institucionalizada, chocou a gestão da UBS, que geralmente atende pessoas sem tal conhecimento e portanto, consegue contornar a situação de forma muito fácil! Imagem: pexels.com

(Nesse momento, que falei que era doula desde 2012, percebi que a mais jovem, que me atendeu primeiro, deu uma assustada. A mais velha finalmente me reconheceu de palestras que já dei naquela mesma UBS, um ano atrás. Não deixou demonstrar, mas mudou completamente o tom da voz quando falou comigo de novo).

Pra resumir: Disseram que falariam com o conselho gestor da UBS sobre o caso, que eu deveria deixar escrito na caixinha de sugestões sobre o ocorrido e que o CG leria com certeza.

Saí de lá com a certeza de que nada seria feito…

Na semana seguinte, 28 semanas, fui buscar medicação pra minha mãe e encontrei com o agente de saúde da minha área. Pelo jeito o caso se espalhou durante a semana e todos ficaram sabendo. Ele veio perguntar o que foi que aconteceu e, conversando com ele, me virei e a médica estava na porta, olhando pra mim, ouvindo a conversa. Pediu pra falar comigo e nos afastamos da porta principal. Ela perguntou o que tinha de errado no atendimento e falei, ainda tomada de choque, o que tinha acontecido, minhas impressões e falei que era doula e que o modo dela falar não era legal. Ela se justificou, como as responsáveis pela UBS, que estava brava era com o pessoal do hospital e que o trabalho da vida dela era por causa das gestantes e bebês. Falei pra ela que, obviamente, entendia, mas a fala tinha que ser mais cuidadosa. Ela entendeu e voltou pro consultório dela. Ali ainda me disseram que ela já estava voltando pro país dela pra cuidar da saúde, que andava bem debilitada.

Os médicos também ficam doentes e, como disse em posts anteriores, essa médica não é daqui do Brasil e dizia há anos que sentia muita falta da família. É óbvio que a parte humana estava aflorada em várias questões, que certamente também originou o problema de saúde. Imagem: Brittany Collete – Unsplash

Claro que entendo que ali juntou tudo. Ela tem uma maneira de trabalhar, eu tenho outra. Ali, ela não sabia que estava “cuidando” de uma gestante que é doula (óbvio que isso não justifica tratar mal quem não é doula, entende? Me permitiu ver na prática o que as mães passam em diversos atendimentos pelo país) e que, sob o ponto de vista de uma ativista do parto humanizado, veria o atendimento dela como violência obstétrica. Nem mesmo o pessoal da UBS vê dessa forma…

O que percebi é que ainda tem muuuuuuuuuuuuito pra gente percorrer, orientar e mudar o olhar sobre esse tipo de situação. Enquanto for normatizado, sempre existirá e não será levado em conta como violência e até pior, sempre será visto como frescura, mimimi…

Em termos de saúde, estamos todos bem. Ligaram da Santa Casa, agendando a Ultrassom para a próxima semana!! Vamos que vamos!

Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Viol%C3%AAncia_obst%C3%A9trica

http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2014/04/denunciar-violencia-obstetrica-e-o-1-passo-para-reduzir-casos-diz-medica.html

 

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