Como a doula pode te ajudar com a dor do parto

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Se você já ouviu falar sobre a função da doula, aposto que na descrição constava a sua atuação quanto a dor do parto, afinal de contas, a coisa mais comentada, característica e em geral mais difícil do trabalho de parto é a dor, e alguém pra te ajudar a passar por isso da melhor forma soa como um sonho, não é mesmo? Mas será a doula simplesmente um sinônimo do uso de métodos não farmacológicos de alívio da dor como muitas vezes costuma parecer?

A dor do parto

Acervo Pessoal

Primeiramente, acho importante falar um pouco sobre o que entendi sobre a dor na minha trajetória trabalhando com partos, então vamos lá:

– Algo incrível sobre a dor do parto é que ela é uma aliada. Se existe dor, existe um trabalho de parto em andamento, e não é esse mesmo o objetivo? A dor do parto é a dor do encontro e cada dor trás o bebê pra mais perto.

– Por ser uma aliada, a dor do parto não precisa ser associada com sofrimento. O choro pode remeter a tristeza, mas também pode estar presente em momentos de intensa alegria. A dor, muito característica de momentos muito sofridos, é também característica de processos de grandes transformações e, no caso do parto, está relacionada ao momento aguardado do grande encontro.

– Quando falamos de parto (mas também não só disso), aprendi que a dor pode ser muito além do que se sente fisicamente. Algumas vezes ela não vem necessariamente das contrações e sim da sensação de abandono, do medo, da humilhação, da vergonha, da falta de descanso, da fome… questões que doem na alma e agravam as dores do corpo. (Inclusive tem texto no blog falando especificamente sobre isso: O medo da dor do parto e a violência obstétrica )

– Existe um ciclo que chamamos de medo->tensão->dor que demonstra que quanto mais medo a mulher tem e mais tensa ela fica, mais o trabalho de parto dói, o que nos demonstra que a dor pode ter origem emocional antes mesmo de física.

A doula

Como disse no início, existe essa coisa toda sobre a dor do parto, e talvez por isso se frise tanto o papel da doula com o uso dos métodos não farmacológicos da dor e cuidamos sim da dor com muita propriedade, mas pensando na minha trajetória e de algumas colegas, sei que podemos fazer bem mais que isso.

A doula pode cuidar de você com o uso do rebozo, com o uso de compressas, com posições mais confortáveis, aromaterapia e outras alternativas (extremamente importantes) que não sejam “te dar remédio”, entende?

Fonte: Roberta Martins – Fotografia e Vídeo

Mas sabe o que mais podemos fazer muito bem? Deixa eu te contar algumas coisas:

Na gestação:

  • Te ajudar a planejar sua trajetória encontrando uma equipe/profissional ou serviços que você queira/precise;
  • Te esclarecer sobre como funciona o trabalho de parto pra ter trazer confiança e auto conhecimento sobre o processo;
  • Te ajudar a planejar detalhes para a além do enxoval que as vezes você nunca nem pensou sobre;
  • Esclarecer dúvidas que apareçam ou te ajudar a encontrar o caminho para esclarecê-las;
  • Tentar entender como você gosta de ser tratada, como sente sobre ser tocada fisicamente e etc;
  • Te ajudar a estruturar um plano de parto e assim entender e expressar o que você espera como experiência de parto.

No parto:

  • Cuidar do ambiente pra que estímulos visuais e sonoros não te atrapalhem, acendendo uma meia luz, usando músicas que você gosta;
  • Auxiliar a/o sua/seu acompanhante sobre como te ajudar da melhor forma e como estar e ser presente nesse momento;
  • Te lembrar de comer e se hidratar e, se for preciso, até dar na sua boca;
  • Escutar quando diz que está com medo e fazer o que for possível pra te passar confiança seja encorajando, explicando o que as vezes parece bastante confuso no momento ou simplesmente te dando a mão pra saber que está alí;
  • Te lembrar do seu plano e da experiência que você sonha ter quando no meio do caminho as dores e incômodos parecem te tirar do foco (que também foi construído em conjunto com a gente ainda na gestação);
  • Te tratar com respeito e honestidade e fazer o que está dentro dos nossos limites para que seja tratada assim por todos;
  • Te acolher quando o barco muda de direção, é preciso sair um pouco do que estava no plano e a frustração insiste em tomar conta.

No pós-parto:

  • Te orientar e apoiar quanto aos primeiros dias com o bebê;
  • Relembrar com você o seu parto, te esclarecer dúvidas que possa ter, te contar detalhes importantes;
  • Te ajudar a ajustar sua relação com a rede de apoio;
  • Te acolher, escutar e apoiar quando o puerpério aperta;
  • Te ajudar a encontrar profissionais/serviços que possa vir a precisar.

Esses são apenas alguns exemplos e pensando de forma mais específica apenas no parto em si. Na prática, nessa trajetória eu já respirei “junto” com uma mulher que só me pedia “respira comigo no expulsivo pois sinto que não vou conseguir”, apresentei a placenta de uma mulher que antes tinha muito medo da expulsão da placenta dela e que terminou encantada e quis carimbo,  já fiz visita pós parto só pra ouvir e acolher, dei água/comida na boca… cuidei de vários detalhes e de várias especificidades, sempre respeitando o meu limite profissional de não atuar na parte que é técnica e reservada aos parceiros médico/as, enfermeiro/as, fisios e técnico/as e oferecendo suporte emocional, que é diferente de suporte psicológico!

A doula e a dor do parto

Preciso ser sincera em dizer que não acredito que todas as mulheres precisem ter uma doula, mas não tenho a menor dúvida que a doula é uma excelente parte para compor a sua equipe de assistência caso você queira alguém só pra cuidar de você! Cuidamos da dor sim, mas principalmente cuidamos de você, como um todo! Estamos sempre de olho no seus medos, no seu conforto, no seu descanso e em como trazer você pra mais perto daquilo que sonha como experiência.

Nosso objetivo é que após o nascimento do seu bebê você tenha a sensação de que teve apoio pra passar pelas contrações, mas não só pra isso. Queremos que lembre que tinha compressa, tinha rebozo, mas também tinha água, comida, carinho, colo, conversa, risada, acolhimento, uma mão pra segurar, palavras de incentivo… queremos que nas suas lembranças a dor no corpo tenha sido amenizada mas que, principalmente, no que depender de nós, não tenha sentido dor do coração. Afinal, quando uma mulher traz um filho ao mundo, ela trás esperança e renovo ao nosso povo e, por isso, esse deve ser um momento regado de respeito, honra e boas lembranças. ❤

Referências

Avaliação da efetividade de métodos não farmacológicos no alívio da dor do parto ( https://www.redalyc.org/html/3240/324030684022/ )

Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto e no parto ( https://scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232012001000026&lang=pt )

Métodos não farmacológicos para alívio da dor no trabalho de parto: uma revisão sistemática ( https://www.redalyc.org/html/714/71416100022/ )

Preparo da gestante para o parto ( http://www.scielo.br/pdf/reben/v26n3/0034-7167-reben-26-03-0108.pdf )

Apoio contínuo para mulheres durante o parto (https://www.cochrane.org/pt/CD003766/apoio-continuo-para-mulheres-durante-o-parto )

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