Verdade ou mito: chupeta atrapalha amamentação?

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Fonte: Pixabay

Quando uma mulher engravida é comum que entre os presentes que o bebê ganhe tenha uma ou mais chupetas. É comum também nas listas de enxoval disponíveis em sites na internet constar a chupeta e assim seu uso é naturalizado em nossa sociedade.

Parece haver uma crença popular de que não é possível criar um bebê sem fazer uso da chupeta, embora a maioria das pessoas, quando questionadas, demonstram saber que ela pode ser prejudicial.

É comum também ouvir falar que se não for oferecida chupeta ao bebê, ele vai ficar “chupetando o peito”.

Vamos entender melhor sobre isso?

Afinal, pra que a chupeta é usada?

Em inglês a chupeta é chamada de pacifier ou, em tradução literal, pacificadora, ou seja,  tem o potencial de acalmar o bebê. Mas como ela é capaz de fazer isso?

Em geral, costuma-se dizer que bebês que não usam chupeta choram mais.

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Nesse sentido, podemos dizer que a chupeta pode vir a funcionar, em alguns casos, como um silenciador.

No entanto, bebês choram porque essa é a única linguagem que conhecem. Bebês começam conhecendo e experimentando o mundo com a boca (fase oral) e por isso choram quando sentem qualquer desconforto e também se acalmam com a sucção.

Na chupeta o bebê faz uma sucção não-nutritiva que, pela etapa oral do desenvolvimento, tem, de fato, o poder de acalmar o bebê. Porém, essa necessidade de sucção deveria ser satisfeita no seio materno. Assim, o bebê que não usa chupeta não “chupeta o seio”. A chupeta é que veio substituir o seio materno e não o contrário.

Chupeta como peça de vestuário

Infelizmente em nossa cultura a chupeta já se tornou quase como uma peça de vestuário indispensável para quem vai ter um bebê. Muitas vezes seu uso está tão naturalizado que sequer é cogitada a possibilidade de não ter uma chupeta e mães de bebês que não a usam comumente se deparam com expressões de espanto e o questionamento: “então, como faz?”.

Fonte: Wikipedia

Ela vem na lista do enxoval, normalmente já com diversos acessórios: prendedor de chupeta, fraldinhas e outros. Todos com a promessa de ajudar a futura mãe.

Bebês precisam de chupeta?

Existem registros históricos bastante antigos que referem ao uso de materiais que se assemelham ao que hoje chamamos de chupeta, porém, observando a fisiologia e estudando o desenvolvimento infantil, bem como de outros mamíferos, percebemos que a chupeta realmente vem para substituir o seio materno.

Quanto mais o bebê suga o seio, mais leite a mãe produz. É uma necessidade fisiológico e cognitiva, especialmente para bebês recém-nascidos, estarem mamando no peito, inclusive com a amamentação/sucção não-nutritiva. É assim que o bebê se acalma, sente segurança e melhora seu desenvolvimento cognitivo.

O bebê humano, mais ainda que outros mamíferos, nasce bastante dependente de sua mãe para sobrevivência e associa diretamente o estar ao colo ao mamar.

Fator cultural relacionado ao uso da chupeta

Estudos demonstraram que o uso de chupeta muitas vezes está relacionado a mães que buscam controlar mais fortemente a amamentação em termos de duração e frequência de mamadas. Em geral, elas também apresentam maiores expectativas em relação ao crescimento e desenvolvimento dos seus bebês (ou seja, esperam que eles alcancem os marcos de desenvolvimento o mais rápido possível: aprendam logo a falar, andar, comer, etc).

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Essas mães em geral também são mais ansiosas em relação ao choro do bebê e mais suscetíveis às críticas sociais, sendo assim, muitas vezes fazem uso da chupeta para diminuir e espaçar as mamadas.

Nota-se que as cobranças sociais e pressões exercidas sobre as mães tem influência na definição de uso ou não uso da chupeta. Contraditoriamente, elas muitas vezes entendem que conseguir amamentar seu bebê pode ser um sinal de que são boas mães, porém o choro e a permanência do bebê ao seio muito tempo pode dar a impressão de que não são capazes de acalmar e alimentar seu bebê. Aqui aparecem outros dois pontos: o mito do pouco leite e o mito do leite fraco (falaremos disso em outro texto).

Potenciais problemas do uso da chupeta para a amamentação

Muitas vezes a chupeta vem com a indicação “chupeta ortodôntica”. Vale dizer que já está proibido utilizar essa expressão porque tem grande potencial de induzir ao erro. Isso porque já está comprovado que o uso de chupeta pode causar diversos problemas e que nenhum modelo de chupeta é totalmente “seguro”.

Vários estudos demonstraram que o uso de chupeta reduz o tempo de amamentação. O índice de desmame entre o primeiro e o sexto mês de vida do bebê quase dobra quando há uso de chupeta (isoladamente, sem outros bicos). Além disso, as chances de um bebê que faz uso de chupeta receber complementação de leite em mamadeira também é maior, o que potencializa ainda mais o risco de desmame precoce.

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Dois fatores estão diretamente relacionados ao uso de chupeta:

O primeiro é que a “técnica” usada para chupar a chupeta é diferente da “técnica” usada para sugar/ordenhar o seio materno. Com isso, ao fazer uso da chupeta, o bebê se confunde com a técnica não conseguindo fazer uma adequada extração do leite materno da mama.

O segundo fator é que o bebê que usa chupeta mama menos e, com isso, estimula menos o seio materno para a produção de leite.

Somando esses dois fatores temos: ordenha inadequada, extraindo menos leite que o necessário e menos estímulo de mamada. Com isso, o corpo entende que a demanda do bebê é menor e passa a produzir cada vez menos leite.

Outros Potenciais problemas do uso da chupeta

Além da interferência no aleitamento materno, a chupeta pode causar outros problemas, tais como: transmissão de infecções, contaminação inclusive por coliformes fecais, asfixia, parasitoses intestinais e maior risco de cáries.

Ela também afeta o desenvolvimento da musculatura oro-facial. Ela pode afetar a função motora oral, tem um papel significativo na síndrome do respirador bucal e pode causar problemas ortodônticos. Neste caso, o potencial de problemas aumenta quando além do uso da chupeta existe o hábito de amarrar uma fraldinha na chupeta. O tecido fica pendurado, pesa ainda mais e, consequentemente, força mais a chupeta na dentição e no palato.

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Problemas fonoaudiológicos também podem aparecer, inclusive com dificuldade de fala, pois a chupeta não permite um adequado estímulo dos músculos faciais para uma correta função oral.

Todos esses problemas podem ocorrer em maior ou menor intensidade e frequência de acordo com o tipo e constância de uso da chupeta.

Como retirar a chupeta?

Depois de tudo que apresentamos, fica claro que o melhor e mais fácil é não ofertar a chupeta. O bebê precisa estar ao seio materno.

Uma informação relevante constatada em estudos é que as mães que optam por oferecer a chupeta a seus filhos, mesmo sabendo que ela pode ser prejudicial, muitas vezes relatam que fazem isso para que o bebê fique entretido e calmo para a mãe realizar outros afazeres, principalmente afazeres domésticos. Assim, uma rede de apoio para os cuidados não só com o bebê, mas também com o lar e eventualmente outros filhos parece ter grande potencial para fazer a diferença no uso ou não da chupeta, bem como, consequentemente, na amamentação.

Rede de Apoio. Fonte: Pixabay

Somado a isso, aconselhamento adequado sobre o uso da chupeta e aleitamento materno, com o devido suporte, orientações e auxílio sobre a nutrição e cuidados com o bebê podem fazer a diferença nessa decisão.

E se o bebê já faz uso da chupeta, dependendo da idade e do tempo de uso, algumas dicas podem ajudar a dispensá-la:

  • Reduzir/retirar o uso da chupeta, oferecendo mais o seio materno para o bebê mamar.
  • Intensificar a atenção e o tempo gasto com o bebê.

    Fonte: Pixabay
  • Não permitir que o bebê brinque, converse ou se alimente com a chupeta na boca (por exemplo, colocando-a de volta entre as colheradas de alimento).
  • Restringir os horários de uso da chupeta para aqueles de maior necessidade (geralmente quando o bebê vai dormir).
  • Após o bebê pegar no sono, não permitir que permaneça com a chupeta na boca.
  • Procure distrair a criança com outras atividades alternativas ao uso da chupeta.
  • Se a criança faz uso da chupeta, procure retirá-la antes dos 2 anos de idade ou, no máximo, até os 3 anos para reduzir o potencial de danos.

Quer se aprofundar mais sobre o tema? Comece pelos artigos que serviram de base para esse texto:

 

Uso De Chupeta E Sua Relação Com O Desmame Precoce Em População De Crianças Nascidas Em Hospital Amigo Da Criança. 

http://www.scielo.br/pdf/%0D/jped/v79n4/v79n4a08.pdf

O Efeito de Bicos e Chupetas no Aleitamento Materno. 

http://www.scielo.br/pdf/jped/v79n4/v79n4a04

Representações Sociais de Mulheres que Amamentam Sobre a Amamentação e o Uso de Chupeta.

http://www.redalyc.org/html/2670/267019598012/

Pacifier Habit: History and Multidisciplinary View (Uso de Chupeta: História e Visão Multidisciplinar).

http://www.redalyc.org/html/3997/399738173003/

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