Dentro do contexto da humanização da assistência ao parto, o contato pele a pele durante a primeira hora de vida é algo fundamental. É uma forma de transmitir afeto, segurança e cuidado que, além de ser importante para o estabelecimento do vínculo entre mãe e bebê, é primordial para o início e manutenção do aleitamento materno.
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O contato pele a pele é recomendado pela Organização Mundial de Saúde
A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), lançada em 1991 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e UNICEF, é um conjunto de estratégias para implementação de ações que promovam, protejam e apoiem o aleitamento materno. Esta Iniciativa envolve o treinamento e a capacitação de profissionais de saúde para que atuem em prol do cumprimento de dez passos dentro do ambiente hospitalar. O quarto passo dessa lista envolve “ajudar a mãe a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto.” Neste importante passo, os profissionais devem estimular o contato pele a pele, colocando o bebê em contato direto com a mãe imediatamente após o parto, por pelo menos uma hora. É importante para que mães reconheçam quando seus bebês estão prontos para mamar e, ainda no âmbito hospitalar, recebam auxílio quando necessário. A amamentação na primeira hora de vida aumenta a taxa de sucesso e a duração do período de aleitamento, além de trazer inúmeros benefícios imunológicos, nutricionais e psicológicos para o bebê. De encontro às recomendações da IHAC, a Rede Cegonha, que preconiza a adoção de boas práticas de atenção ao parto e nascimento, também estimula o contato precoce do bebê com a pele da mãe. É um procedimento seguro, que não gera custos à instituição e que traz inúmero benefícios fisiológicos e psicossociais comprovados para mãe e bebê, tanto a curto quanto a longo prazo. É um momento único no nascimento e que deve ser respeitado, especialmente por ser um ponto crucial para a transição gradual do bebê para a vida extrauterina.
Benefícios do contato pele a pele
O contato do bebê com a pele de sua mãe imediatamente após o parto:
– fortalece o vínculo inicial entre mãe e bebê, através do reconhecimento do corpo, do cheiro e do toque da pele
– acalma o bebê, reduzindo o estresse e o choro
– auxilia na estabilização dos batimentos cardíacos e da respiração do bebê
– evita hipotermia, regulando a temperatura do recém-nascido
– contribui para colonização do intestino do recém-nascido por microorganismos presentes na superfície da pele da mãe, favorecendo sua imunidade
– estimula a sucção eficiente e eficaz do recém-nascido, aumentando as taxas de sucesso e duração da amamentação
– colabora para a estabilização dos níveis de glicose no sangue do recém-nascido, por meio da amamentação
– auxilia na estabilização cardiorrespiratória de recém-nascidos prematuros tardios
– reduz as taxas de mortalidade neonatal
– colabora para a regulação hormonal no corpo da mãe, favorecendo a transição para o puerpério
– facilita a dequitação da placenta, através da liberação de ocitocina e da movimentação dos pés do recém-nascido no ventre da mãe, diminuindo assim riscos de hemorragia pós-parto
– aumenta significativamente a satisfação da mulher com o parto
O contato pele a pele no contexto do sistema obstétrico brasileiro
Apesar de comprovação científica de seus inúmeros benefícios, o contato pele a pele ainda é desconhecido ou negligenciado por algumas instituições. Se o bebê nascer bem e a mãe estiver saudável, este contato inicial deve ser promovido. Porém em nosso modelo de assistência obstétrica temos o predomínio de intervenções que dificultam o contato pele a pele na primeira hora de vida, somado à falta de estímulo às mulheres em exercer seu protagonismo durante o parto e nascimento. Dentre os procedimentos de rotina com o recém-nascido, a maioria das instituições os executa logo após o nascimento e longe da mãe, dentre eles secagem, aspiração de vias aéreas, avaliação do recém-nascido, banho de imersão, administração de medicamentos ou vacinas, pesagem e medição. Se o bebê nasce bem e saudável, alguns destes procedimentos nem precisam ser realizados e alguns podem ser feitos no colo da mãe. Além do mais, o alto índice de cesarianas e o uso excessivo de analgesia podem afetar o estado de alerta do bebê logo após o nascimento, contribuindo para a redução do contato pele a pele precoce e com consequente impacto sobre a amamentação.
O contato pele a pele é um ótimo sinal de qualidade da humanização da assistência ao parto, mantendo mãe e bebê sadios e reduzindo o impacto de intervenções, garantindo a segurança de ambos. Infelizmente a execução deste importante passo ainda não está bem consolidada nas instituições, especialmente em decorrência de uma assistência ao parto fragmentada, onde mulheres não tem conhecimento adequado sobre o assunto e profissionais não estão preparados para prestar esta assistência. Assim, a implementação efetiva do contato pele a pele na primeira hora de vida depende de uma ação contínua e integrada dos profissionais de saúde e também de apoio informativo às mulheres durante o pré-natal. Os profissionais de saúde têm papel fundamental em estimular e promover este contato após o nascimento, podendo retardar a realização de procedimentos de rotina. É preciso também dispor de tempo e de um ambiente tranquilo que favoreça o vínculo e o contato, especialmente para que a mãe fique confortável e confiante em estar com o recém nascido nos braços.
Como incluir o contato pele a pele no plano de parto
Considerando que na maioria das instituições de saúde ocorre falha na implementação deste método, cada vez mais aconselha-se que este item seja descrito no plano de parto. O plano de parto é uma ferramenta muito importante, uma espécie de carta onde se descreve quais são os desejos da mulher ou do casal para o trabalho de parto, parto e primeiros cuidados com o recém-nascido, e também para uma eventual cesárea. Sua construção é um momento extremamente valioso, pois é uma excelente maneira de se pensar em todas as possíveis intervenções e intercorrências, e se informar a respeito de todas elas, a fim de assegurar escolhas conscientes e seguras, caso sejam necessárias.
O contato pele a pele pode ser solicitado no plano de parto. Pode-se pedir que o bebê venha direto para o colo da mãe após o nascimento e que seja examinado no colo da mãe e ali permanecer se tudo estiver bem com ambos, para que seja respeitada sua primeira hora de vida. Pode-se também pedir que procedimentos de rotina, que não sejam urgentes, sejam realizados apenas após a primeira hora de vida, como por exemplo pesar, medir e vacinar o recém-nascido. É possível pedir também que a amamentação seja estimulada nessa primeira hora de vida, e que possíveis dificuldades sejam auxiliadas por um profissional adequado.
E em caso de cesárea?
Em caso de cesárea, o contato pele a pele pode ser mantido, especialmente se isto for planejado antes. A mulher pode solicitar que seus braços não sejam amarrados, pode deixar as mangas da camisola pra fora dos braços e pode pedir que o bebê passe por baixo do campo logo após o nascimento e fique em seus braços em contato com sua pele. Nesse momento, a mulher pode receber auxílio de alguém da enfermagem ou do acompanhante, para segurar o bebê e até posicioná-lo para mamar. O alojamento conjunto também deve ser praticado em caso de cesárea, e o bebê pode e deve permanecer com a mãe durante a recuperação, caso esteja tudo bem e este seja o desejo da mulher.
Referências Bibliográficas
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