Unidos do trabalho de parto: a harmonia perfeita do samba dos hormônios

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Carnavel chegando e a gente aproveita pra fazer o que mais gosta. Falar de parto! Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Eu te conto!

Podemos enxergar o mecanismo hormonal do trabalho de parto como um desfile de escola de samba, onde o mestre de bateria – o cérebro, predominantemente o cérebro primitivo ou sistema límbico – dita o ritmo e a cadência dos componentes e alas, a secreção dos hormônios, seu intervalo e a sua intensidade. O objetivo do mestre de bateria é criar uma harmonia perfeita entre os hormônios.

Hormônios do trabalho de parto
gramho.com

Quando deixamos esse processo fluir naturalmente, sem interfência externa, podemos vivenciar um desfile campeão! Imagine se alguém de fora resolve mudar o compasso do surdo, tamborim ou do repique? Não ia dar muito certo, né?

No parto é a mesma coisa, se deixamos o processo transcorrer naturalmente e a fisiologia natural operar, sem intervenções desnecessárias e ativando o menos possível o neocórtex (parte do cérebro responsável pelo raciocínio logico), o samba dos hormônios consegue seguir seu curso normal para um parto nota 10.

Progesterona: o hormônio da gestação

São os trabalhadores que preparam o desfile, sua produção aumenta no início da gravidez até atingir um patamar que vai se manter ao longo de toda a gestação.

Hormônios do trabalho de parto
pixabay.com

Assim como todo o trabalho de preparação durante o ano torna o desfile possível, a progesterona é responsável por manter a gestação, desde a implantação do embrião no útero, preparando o endométrio para recebê-lo e o seu desenvolvimento até o nascimento.

A progesterona também trabalha inibindo as contrações uterinas e relaxando a musculatura do útero durante a gravidez, evitando assim a expulsão precoce do feto, além de promover o desenvolvimento das glândulas mamárias onde será produzido o leite materno.

A produção de progesterona só cessa quando o bebê está pronto para nascer.

Surfactante e prostaglandinas: os hormônios “fake” que fazem tudo começar

  • Surfactante:

    Sabe quando o puxador do samba chama a galera avisando que o desfile está prestes a começar? Assim funciona essa substância que parece hormônio mas não é.

    O surfactante é um líquido que começa a ser produzido pelos pulmões do feto no terceiro trimestre da gestação. Este líquido preenche as células pulmonares do bebê – os pneumócitos -, que são como bolinhas de sabão, com uma membrana bem fininha.

    Quando essas milhares de células estão maduras, começam a eclodir e soltam o surfactante que estava ali dentro. Quando liberado pelas vias aéreas do bebê, o surfactante entra em contato com o líquido amniótico, a placenta e claro, a corrente sanguínea da mãe.

    Só aí o cérebro materno entende que pode começar o trabalho de parto, o que significa diminuir a produção de progesterona para começar a produzir prostaglandina!*

    *Ainda não temos estudos afirmativos sobre exatamente o que inicia o trabalho de parto, mas as teorias mais aceitas pelos profissionais atualizados no tema apontam a relação da maturidade fetal, principalmente pulmonar.

  • As prostaglandinas:

    O desfile está prestes a começar, está tudo pronto e o puxador do samba já deu o sinal! Aí rola aquele esquenta gostoso, o mestre de bateria começa a puxar umas batidas, os componentes da bateria vão se soltando, a gente já escuta timidamente o tamborim e a cuíca!

    Assim agem as prostaglandinas, substâncias lipídicas que agem de maneira similar a hormônios e que vão preparar o colo do útero, amolecer, afinar e possibilitar a dilatação. Sua liberação é acentuada numa fase que chamamos de pródromos.

    Hormônios do trabalho de parto
    Wikimedia.org

    Podemos considerar os pródromos como um falso trabalho de parto, algumas mulheres nem chegam a sentir, mas outras tantas sentem contrações doloridas e podem até pensar que já estão em trabalho de parto. Pródromos muito prolongados podem ser extremamente cansativos para a mulher, então é importante descansar bastante nessa fase, tomar um banho quente bem longo, o que pode ajudar a amenizar a dor e inclusive cessar as contrações.

    Uma curiosidade: as prostaglandinas estão presentes no sêmen, por isso não estranhe se alguém te disser que relações sexuais podem ajudar a induzir o parto. Mas só vale se for sexo com ejaculação e é importante que você não esteja com a bolsa rompida pelo risco de infecções.

    Ocitocina: o hormônio das contrações

    Se o cérebro é o mestre de bateria, podemos considerar a ocitocina a rainha! Ela vai a frente da bateria apresentando seus componentes e honrando o desfile.

    É o hormônio mais importante do trabalho de parto, visto que ela é a responsável pelas contrações uterinas, por terminar a dilatação e expulsar o feto e a placenta ao final do parto. Além disso é também responsável pelo reflexo de ejeção do leite na amamentação.

    Conforme o desfile avança, o mestre de bateria, que é o nosso cérebro, vai determinando a cadência da liberação de ocitocina, que é cada vez maior em intensidade e ritmo – para produzir contrações mais fortes e menos espaçadas – até atingir o seu ápice que é a fase expulsiva, onde as contrações são muito intensas e quase não há intervalo entre elas.

    Mas assim como uma rainha de bateria não faz um desfile de sucesso sozinha, podemos destacar outros hormônios que se associam a ocitocina durante um trabalho de parto que opera naturalmente; são todos aqueles componentes que a gente não vê no desfile, mas que tem total importância no resultado final, a galera que empurra os carros, o diretor de harmonia, o coreógrafo.

  • Melatonina:

    Se associa a ocitocina ajudando nas contrações. É conhecido como o hormônio do escuro, já que sua produção se intensifica a noite e cai consideravelmente durante o dia ou em ambientes muito iluminados. Isso explica porque a maioria dos trabalhos de parto se inicia a noite ou de madrugada, quando os níveis de melatonina são mais altos, e também nos faz entender porque manter um ambiente com pouca luminosidade é desejável durante o parto.

  • Beta-endorfinas

    Funcionam como um analgésico natural e ajudam a aliviar as dores das contrações, conforme se intensifica a produção de ocitocina, também aumenta a produção das beta-endorfinas. As altas concentrações deste hormônio no momento mais intenso do parto geram um estado de consciência alterado na parturiente, é aquele momento conhecido como “partolândia” e algumas mulheres podem até parecer dopadas e muitas não conseguem se lembrar desta parte do parto ou tem lembranças confusas.

  • Adrenalina

    É o hormônio liberado em resposta ao stress, que nos deixa no estado de “luta ou fuga”, quando todos os nossos sentidos se intensificam. Não é um hormônio desejado ao longo do trabalho de parto porque bloqueia a produção de ocitocina e por isso é ideal mantermos um ambiente tranquilo e sem perturbações para a parturiente, mas ao final do período de transição e inicio do período expulsivo é liberado dando aquela força final que a mulher precisa para parir e estar alerta para cuidar do bebê.

  • Relaxina

Hormônios do parto
Wikimedia Commons

Hormônio que produz relaxamento das articulações da bacia, promovendo a flexibilidade necessária para o parto por afrouxar a junção entre os ossos da bacia, alargando o canal por onde o bebê vai passar. Podemos dizer que a relaxina é o componente que permite a abertura dos portões para que toda a escola possa passar para chegar a apoteose, que é o tão esperado nascimento do bebê.

  • Prolactina:

Hormônios do parto
Wikipedia

É o hormônio responsável pela produção do leite materno nas glândulas mamárias e passa a ser produzido em grande quantidade após a saída da placenta e o final do parto. Junto com a ocitocina, que é responsável pelo ejeção do leite, são os dois principais hormônios que possibilitam a amamentação.

 

Deu pra entender a complexidade desse perfeito samba dos hormônios? É isso tudo que acontece com o corpo de um mulher em trabalho de parto quando sua fisiologia natural é respeitada.

É claro que a equipe médica estará lá para avaliar se está tudo correndo bem com a mãe e o bebê durante todo o processo e intervir em caso de necessidade.

Mas na grande maioria dos casos, se deixarmos as coisas seguirem seu curso natural e oferecermos um ambiente seguro (xô adrenalina!), pouco iluminado (alô melatonina!) e sem interferências e comunicação desnecessária com a parturiente, é possível atingir um estado de “desligamento” do neocórtex cerebral e deixar o cérebro primitivo agir, proporcionando a harmonia perfeita para um desfile, ops parto, nota 10!

Por isso que se preparar para o parto e saber tudo que vai acontecer com o seu corpo e o que esperar de cada momento é tão importante e se você quer se preparar melhor e saber sobre rodas de preparação para o parto na Zona Norte de São Paulo, CLIQUE AQUI

Referências bibliográficas

Adaptações fisiológicas do período gestacional 

Parto Ativo – Guia prático para o parto normal, Janet Balaskas. Editora Ground, 2017.

A cientificação do amor, Michel Odent. Editora Terceira Margem, 2005.

 

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