Liberdade de movimentos durante o parto.

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pernas amarradas no parto
Imagem da internet pernas amarradas durante o parto

Num passado não muito distante, era muito comum ouvirmos relatos de partos normais onde mulheres tinham suas pernas amarradas à cama e ficavam imobilizadas em posição litotômica, ou seja de barriga para cima, durante todo o trabalho de parto e parto.

Atualmente, graças ao movimento de humanização, profissionais humanizados e atualizados e novas recomendações dos órgãos de saúde; temos estudos comprovados sobre a eficácia  e dos benefícios da livre movimentação da mulher e escolha de posições durante o parto normal.

Infelizmente, mesmo com o avanço dos estudos e da informação, muitos procedimentos desnecessários como este e intervenções de rotina, ainda são realizados em larga escala em  partos intra hospitalares. Portanto, cabe à você se informar cada vez mais sobre seus direitos e buscar meios de garantir que eles sejam respeitados. Saiba mais como, acompanhando esse post até o final.

Livre, Leve e Solta

Tanto no parto normal quanto na cesárea não é necessário amarrar as pernas, braços ou qualquer parte do corpo da mulher durante o parto; e assim como qualquer procedimento que obrigue à mulher algo contra a sua vontade e sem seu consentimento, isto configura violência obstétrica.

A liberdade de movimentos da mulher durante o parto deve ser respeitada e incentivada. Se por algum motivo a mulher precisa ser imobilizada, ela deve ser consultada antes de qualquer intervenção, ser claramente informada da necessidade e indicação de todo e qualquer procedimento e então dar ou não seu consentimento.

Fazer com que a parturiente assuma esta ou aquela posição, ou ainda restringir seus movimentos por comodidade do profissional de saúde ou da equipe médica, é negar e violar os direitos da gestante sobre seu próprio corpo, tirar o protagonismo de seu próprio parto e nascimento de seu filho.

 

me solta que quero parir
Meme ET me solta que quero parir

Amarrar ou imobilizar a mulher durante o Parto? Não obrigada!

Movimentar-se, caminhar, dançar, manter-se ativa durante o trabalho de parto, é muito benéfico e te ajudará a lidar com a dor durante as contrações.

Adotar diferentes posições, como as verticalizadas por ex.: cócoras, em pé, sentada na banqueta de parto ou na bola de pilates; facilitará a descida do bebê na pelve durante a fase ativa e na fase do expulsivo, no momento do nascimento. É seu direito escolher a posição que lhe for mais confortável.

posição de parto na banqueta
posição de parto na banqueta
posição quatro apoios
posição de quatro apoios

As mulheres devem ser encorajadas a se movimentarem e adotarem as posições que lhes sejam mais confortáveis no trabalho de parto. Esta é uma das Diretrizes nacionais de assistência ao parto do Ministério da Saúde; portanto não faz sentido algum manter a mulher imobilizada e/ou amarrada em momento algum do parto.

Posição de parto normal na banqueta
por Aline Baldassim Parto normal na banqueta

A posição litotômica como vemos na imagem abaixo, que é deitada de costas, com os pés posicionados nos estribos; dificulta o trabalho de parto, fazendo com que a mulher faça força contra a gravidade, tornando as contrações mais doloridas e não favorecendo a descida do bebê pela bacia. Esta posição inclusive é desencorajada pela Organização Mundial da Saúde e considerada ineficaz.

Outra ressalva é quanto a abertura das pernas nessa posição: quanto mais abertas com os joelhos afastados, menos espaço na pelve para o bebê descer e nascer; pois as pernas em forma de M, justamente fecha o estreito inferior, pressionando e imobilizando o sacro, dificultando a passagem do bebê.

 

posição de parto ginecológica em forma de M
posição de parto ginecológica em forma de M
posição de litotomia x posição vertical
posição de litotomia x posição vertical

É necessário amarrar mãos e braços na Cesárea? – Mais amor por favor!

Em casos que a cesárea é necessária, por se tratar de uma cirurgia de grande porte; há protocolos clínicos que devem ser seguidos. Antigamente, as mulheres tinham mãos amarradas durante a cesariana, no intuito de evitar que ela, de maneira involuntária, contaminasse o campo operatório.

Porém, hoje em dia, a qualidade do bloqueio anestésico para uma cesariana evoluiu demais. As mulheres não são mais sedadas e ficam lúcidas durante todo o procedimento; então os riscos de contaminação involuntária são praticamente zero.

Portanto, nos dias de hoje, uma mulher ser amarrada de forma agressiva sem sua permissão ou seu consentimento pode ser entendido como uma atitude de desrespeito e violência. Os braços da mulher devem ficar abertos, perpendiculares ao corpo e são amarrados para que seja colocado o aparelho medidor de pressão arterial, o oxímetro que mede o nível de oxigênio que chega até os dedos das mãos e ainda um acesso venoso para receber soro e medicações.

Porém, há procedimentos que podem e devem ser realizados para tornar esse parto respeitoso e humanizado, e trazer o máximo de acolhimento a mulher, que por muitas vezes está extremamente frustrada e abalada no caso de uma cesárea indesejada, ou de emergência.

Não amarrar mãos e braços é um deles. Basta instruir a mulher que mantenha os braços e mãos apoiados e imóveis durante a cirurgia e permitir que seu acompanhante e/ou doula, lhe deem as mãos como forma de carinho, amparo e segurança.

Não ter mãos e braços amarrados, possibilitará que a mãe receba seu bebê em seu colo logo após o nascimento, o acaricie e o amamente, prezando pelo contato pele a pele e a amamentação na primeira hora de vida, conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde.

Parto cesárea mãos amarradas
Foto de Parto Meire Silva Nascimento da Maju

Pensando no plano de parto

Você mesma pode elaborar seu plano de parto, incluindo os procedimentos que deseja e não deseja, durante o pré parto, parto e pós parto; no nascimento do seu bebê, inclusive nos procedimentos com ele após o nascimento.

Você pode se inspirar em modelos prontos na internet, solicitar um modelo a sua doula ou ainda baixar o modelo de plano de parto da Artemis (Organização comprometida com a promoção da autonomia feminina e prevenção e erradicação de todas as formas de violência contra as mulheres) em parceria com a Defensoria Pública do Estado de SP. É este modelo que usamos como exemplo abaixo:

Plano de parto Artemis
Imagem de alguns dos itens do plano de parto da Artemis

Você pode estar se perguntando, mas ainda é necessário incluir para não me amarrarem no plano de parto? Bem, eu digo que sim; pois mesmo com todos os benefícios aqui apontados sobre a livre movimentação da parturiente durante o parto e toda informação atual, ainda é importante deixar claro em seu plano de parto que você deseja ter liberdade para se movimentar e, portanto, amarração NÃO!

Referências Bibliográficas

  • Modelo de Plano de Parto

https://www.artemis.org.br/

https://pt.slideshare.net/Marcusrenato/plano-de-parto-modelo-da-artemis-e-defensoria-pblica-de-so-paulo

  • Benefícios das posições Materna no Parto

http://www.scielo.br/pdf/ean/v11n2/v11n2a23

  • Boas práticas e recomendações para o parto normal OMS

http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2018-02/oms-divulga-recomendacoes-de-boas-praticas-para-o-parto-normal

  • Mãos amarradas na cesárea indesejada

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0104-12822013000200011&script=sci_arttext&tlng=pt

  • A Violência obstétrica como rotina do parto

https://diplomatique.org.br/violencia-obstetrica-como-rotina-do-parto/

 

 

 

 

 

 

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