A analgesia de parto, como a peridural por exemplo, é uma intervenção muito poderosa que nós temos para usar em dados momentos do parto. Não a considero indispensável, mas também não é uma vilã, e certamente deve estar inclusa no seu plano de parto. O segredo é saber quando usar e é muito importante que ela seja dada somente quando solicitada pela parturiente. Vamos entender por que…
(Já antecipo que será um texto longo, pois é preciso esclarecer alguns detalhes muito importantes. Então se não estiver com muito tempo agora, salva o link para ler com calma mais tarde!)
Recomenda-se esperar o máximo que der para entrar com qualquer intervenção no parto, já que uma vez que uma intervenção é feita a gestante fica muito mais suscetível a outras intervenções e suas chances de ter uma cesariana indesejada é muito maior. Essa cascada de intervenções pode ser vista facilmente no site do NCBI.
Nesse post você vai encontrar
Analgesia ou Anestesia?
Explicando de maneira bem breve, a analgesia tem como objetivo apenas aliviar a dor, enquanto a anestesia tem como objetivo cessar a dor completamente¹, permitindo assim um parto instrumental (com fórceps ou vácuo extrator) caso seja necessário. Na analgesia é usada uma dose menor de medicamento do que na anestesia.
Efeitos da analgesia de parto
Por melhor que esta analgesia seja feita, ela pode trazer efeitos negativos para a mãe, para o processo do trabalho de parto e, consequentemente, para o bebê. Esses efeitos podem ocorrer durante ou após o parto. Segundo o site do NHS (sistema público de saúde britânico), alguns dos efeitos negativos que ela pode trazer são:
- Queda de pressão
- Prolongamento do período expulsivo (você precisará fazer puxo dirigido, que é quando o médico ou obstetriz precisa te instruir quando deve fazer força)
- Aumento da necessidade de uso de fórceps ou vácuo extrator (não tão comumente usado no Brasil ainda, por conta do custo)
- Dificuldade de urinar
- Dor de cabeça
- Dor nas costas no pós-parto
Outro sintoma comum que não foi citado pelo NHS é a tremedeira. E tem mais uma coisa, as vezes a analgesia não pega. Sim, simples assim. As vezes pega só de um lado. Tenha isso em mente pra não tomar um baita susto se isso acontecer contigo.
Por outro lado a analgesia é popular entre as gestantes e, segundo ao Cochrane, pode inclusive aumentar a satisfação da gestante quanto ao seu parto.
Métodos não farmacológicos de alívio de dor
É muito importante tentar todos os métodos naturais de alívio de dor antes de partir para uma analgesia. Os métodos disponíveis mais usados são:
- Massagem
- Se movimentar durante o parto
- Água quente (chuveiro ou banheira)
- Bolsa térmica
- Óleos Essenciais
- Métodos de relaxamento como meditação, mindfulness, acupuntura (difícil de ser feito no hospital), entre outros
É surpreendente o quão poderosos e eficazes alguns desses métodos são e vale muito a pena fazer algumas tentativas. Uma ideia interessante é já ir se familiarizando com eles durante a gestação, use e abuse desses métodos quando sentir desconfortos como dor nas costas, pernas e virilha, assim você já tem uma ideia de qual deles você se adapta melhor e sabe como usá-los no início do trabalho de parto, enquanto ainda está em casa.
É preciso relaxar a mente, mais do que qualquer coisa. Entender o ciclo Medo-Tensão-Dor simplifica a coisa. Quando você sente medo seu corpo tensiona, com o corpo tenso sua dor vai se intensificar, se a dor intensificar você vai sentir mais medo e se sentir mais medo sua tensão aumenta ainda mais… e por aí vai. Isso pode virar uma bola de neve se não for controlado.
A analgesia de parto só pode ser feita no hospital, já que uma vez feita é preciso que os batimentos cardíacos do bebê sejam monitorados constantemente. Alguns hospitais só fazem a analgesia dentro do centro cirúrgico, ou seja, pode ser que o parto de uma “parada” devido à mudança de ambiente (por que isso acontece já é tema para um outro texto).
Primeiro eles dão uma anestesia local para depois aplicar a ráqui ou peridural. Na aplicação da ráqui e/ou peridural você não deve sentir dor, só uma pressão. O que vai incomodar mais é ter que ficar naquela posição correta (enquanto ainda sente as contrações) até o anestesista conseguir terminar de aplicar a anestesia. Você não poderá se mexer, ou o anestesista pode perder todo o trabalho. Nessa hora nada melhor do que o colo do seu acompanhante de parto, da doula ou até mesmo da sua médica. Ele/ela vai ficar na sua frente enquanto você estará sentada na maca, e você vai poder se apoiar nesta pessoa enquanto a anestesia é dada.
Vamos às diferenças entre as anestesias
A peridural é aplicada em maior quantidade e tem uma duração bem mais longa, porém leva mais tempo pra fazer efeito e pode ser que não pegue, como já mencionei antes. É deixado um cateter (imagem) aplicado e pode-se dar mais doses quando necessário, sem furar a paciente novamente. Esta é uma anestesia muito delicada e requer colaboração da gestante, ela precisa ficar parada na mesma posição durante toda a aplicação.
A raquidiana (ou ráqui), é aplicada em uma quantidade bem menor, tem efeito instantâneo, mas dura menos tempo e geralmente deixa a parturiente inapta para andar e se movimentar. Alguns poucos anestesistas conseguem fazer a ráqui e ainda permitir o movimento, mas é raro.
A aplicação da peridural dura em torno 15 minutos e a ráqui pode ser aplicada em uma questão de 30 segundos de acordo com a Ginecologista obstetra Sandra Valéria Nogueira². Lembrando que isso pode se estender em alguns casos.
Duplo bloqueio é o nome dado para quando as duas anestesias são dadas de maneira combinada. Sandra Valéria considera que este recurso deva ser usado em situações extremas nas quais a gestante está em trabalho de parto ativo e não suportando mais a dor, pois esta paciente provavelmente não conseguiria ficar parada para aplicação da peridural. Neste caso aplica-se primeiro a ráqui para obter um resultado rápido e efetivo e em seguida, com calma, aplica-se a peridural.
Resumindo…
A analgesia pode servir como uma ótima aliada no trabalho de parto. Existem situações em que a gestante trava, não passa de uma certa dilatação, mesmo com as contrações vindo fortes e regularmente. Nesse momento pode ser que uma analgesia venha a calhar. Com ela a mulher consegue até dormir um pouco se estiver muito exausta, fica 100% sem dor e isso a faz relaxar. Em uma questão de minutos ela pode apresentar dilatação total.
Nessas horas uma equipe humanizada faz toda a diferença, elas sim podem sugerir uma analgesia, pois elas têm experiência e não oferecem analgesia a rodo. Elas têm a sensibilidade e a preocupação necessárias pra oferecer a analgesia quando ela de fato virá como um benefício pra mulher.
Infelizmente equipes de plantão nem sempre fazem essa sugestão na melhor hora (salvando algumas raras exceções).
O acompanhante de parto geralmente é uma pessoa muito próxima à gestante e para ele/ela pode ser muito angustiante ver a gestante ali sentindo dor, por isso é tentador para esta pessoa sugerir a analgesia. Se você que está lendo é um acompanhante de parto, se segure, não faça isso! Deixe que o pedido venha dela ou que a sugestão venha de uma equipe que ela realmente confia.
Entenda, é como oferecer doce pra criança, banana pro macaco ou o controle remoto da TV pro marido, sem chances de eles negarem! Sendo que se você não sugerir, pode ser que eles não pensem em pedir naquela hora. O mesmo se aplica pra mulher, e quanto mais tempo ela ficar sem a anestesia, melhor.
Se você, gestante, finalmente optar por uma anestesia, é importante pedir para que ela seja feita de maneira que você possa continuar se movimentando, pois isso facilita o progresso do parto normal grandemente. Falaremos em mais detalhes sobre isso em um próximo texto.
Espero ter esclarecido as suas dúvidas. Deixe um comentário se tiver algo a acrescentar ou se tiver alguma pergunta!
Doula Carla Rodrigues
Fontes:
https://www.nhs.uk/conditions/pregnancy-and-baby/pain-relief-labour/
https://blog.casadadoula.com.br/2018/06/21/estado-emocional-no-parto/
https://www.cochrane.org/CD000331/PREG_epidurals-pain-relief-labour
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3647734/
1 – https://www.pfizer.com.br/noticias/Qual-diferen%C3%A7a-entre-analgesia-e-anestesia
2 – Médica Sandra Valéria Nogueira, formada pela UFMS em 1989
Residência médica em Ginecologia e Obstetrícia (GO)
Mestrado pela UnB
Preceptora da residência médica em GO pela UFMS, como também atua na formação de enfermeiras obstetras
Atua na humanização do parto, pois acredita no protagonismo feminino