Se você chegou até aqui e perdeu a primeira parte da arte de parir, é só clicar aqui.
E para você que tava ansiosa pela continuação, o show continua, mas já aviso: saí da orquestra, passei para o ballet e agora, inspirada pelos meninos da seleção, chegamos ao campo de futebol, na copa mais importante da tua vida.
Fase ativa e transição
É uma fase decisiva no jogo mais importante e mais desafiante da tua vida. Imagina só o jogo da final da copa do mundo: para um jogador é um divisor de águas na vida e na carreira. Assim também é para a mulher que joga no trabalho de parto pra virar mãe. Quando o bebê nasce, tudo muda e há uma promoção à maternidade. Voltemos, porém, à decisão da copa.
Nessa fase, mãe, corpo e bebê precisam trabalhar juntos. As contrações se intensificam, empurrando o bebê na direção do colo do útero e aumentando a dilatação, até que o bebê finalmente encaixe no canal vaginal. Vêm as dores, como ondas, como o susto de um contra-ataque mal sucedido, porque a mãe que tá no domínio do jogo. E ao retomar o controle, há a recuperação e o relaxamento necessários para suportar o desgaste de outra investida ao seu ataque.
Cabe aqui um aviso às fãs do Neymar: não façam como ele, mas permaneçam na vertical. As posições verticais favorecem a descida do bebê, colaborando com a força da gravidade. Se você conseguir ficar de cócoras então, é só sucesso: é a posição fisiológica para trabalho de parto e parto, especialmente porque aumenta o ângulo da pelve.
Nessa fase, as contrações vão aumentando e a concentração também, mas não por medo. Você já conhece seu adversário e sabe que pode vencê-lo, por isso dá o seu máximo. Não quer mais saber muito de se alimentar ou de água, muito menos de falar. É quase um êxtase. No ápice dessa fase, você acha que vai ficar pra sempre no zero-a-zero, que não pode mais, que não vai conseguir e quer entregar os pontos. Medo. Covardia. Transição. Estamos nos aproximando do fim do jogo.
Expulsivo
Eis que nesse último momento você olha pra arquibancada e vê seus convidados. O marido, a equipe, os filhos, aqueles que confiam em você e sabem do seu potencial. A presença e o encorajamento deles dão o gás para prosseguir. Você só quer fazer o gol pra respirar aliviada, então o time todo te puxa pro gol. Expulsivo. É agora ou nunca, ou vai ou racha. Você se vê de cara pro gol, na grande área, dá um chute, o goleiro espalmou, escanteio, cabeça coroada, é a sua chance. Vem bola alta na área, você nem esperava e nem é boa de cabecear, cabeceia no susto e é GOL! Nasceu! Você conseguiu e é capaz, ainda que tenha sofrido um 7×1 – ou uma cesárea – em temporadas passadas.
Dequitação da placenta
O jogo acaba, mas ainda falta receber a taça. Desce a placenta. A árvore da vida. O órgão que nutriu o bebê nos últimos nove meses.
Quando a placenta nasce, quando o troféu é entregue, novas possibilidades surgem: uma nova história começa a ser escrita. Foi-se a dor, o sofrimento, sangue, suor e lágrimas, ficou a alegria, a emoção, a taça e a satisfação de ter conseguido. E isso nenhum dinheiro do mundo paga.
Referências Bibliográficas
BALASKAS, Janet. Parto ativo: guia prático para o parto natural. 2 ed. São Paulo: Ground, 2012. 317 p.
BIO, Eliane; BITTAR, Roberto Eduardo; ZUGAIB, Marcelo. Influência da mobilidade materna na duração da fase ativa do trabalho de parto. Rev Bras Ginecol Obstet., São Paulo, jun./nov. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v28n11/a07v2811.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2018.
VELLAY, Pierre. Parto sem dor: princípios, prática e testemunhos. 1976 ed. São Paulo: IBRASA, 1976. 276 p.