Com a Campanha de Vacinação contra a Gripe acontecendo no Brasil, sendo o público de prioridade no.1 as gestantes e crianças, resolvi escrever sobre vacina.
Em termos de saúde pública, os programas de vacinação têm benefícios que superam os riscos. No entanto, algumas mães decidem não se vacinar durante a gestação e não vacinar seus filhos. Essa é uma discussão importante e requer informação qualificada, para que a tomada de decisão e as ações sejam conscientes.
Nesse post você vai encontrar
- 1 O que é a vacina?
- 2 História da Vacina
- 3 O Calendário Nacional de Vacinação
- 4 Vacinas durante a Gravidez
- 5 Vacinação de menores
- 6 A resistência à vacina
- 7 A escolha de vacinar parcialmente ou não vacinar os filhos
- 8 Informação e empatia para fugir da caça às bruxas
- 9 Devo ou não me vacinar? Devo ou não vacinar meu filho?
- 10 Referências
O que é a vacina?
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, uma das organizações mais respeitadas no Brasil para esse tema, “vacinas são preparações que, ao serem introduzidas no organismo, desencadeiam uma reação do sistema imunológico, estimulando a formação de anticorpos e tornando o organismo imune a esse agente e às doenças por ele provocadas”.
O uso de vacinas tem melhor relação custo-benefício no controle de doenças e infecções que o de medicamentos para sua cura. A vacina é uma das medidas mais importantes da medicina preventiva para proteger a população de doenças e infecções.
História da Vacina
A primeira vacina foi criada em 1796, pelo inglês Edward Jenner, que injetou em um garoto de oito anos um soro de varíola bovina, conseguindo imunizá-lo. Em 1885, Louis Pasteur criou oficialmente a vacina contra essa doença.
A vacinação no Brasil surgiu no início do século XX. Naquela época, não existia saneamento básico nas capitais, o que comprometia a saúde das pessoas com epidemias de febre amarela, varíola e outras doenças. O médico sanitarista Oswaldo Cruz foi nomeado para chefiar o Departamento Nacional de Saúde Pública, a fim de promover uma revolução sanitária em razão das necessidades do país.
A medida não foi bem aceita pela população da época, que desconhecia os benefícios da vacina, levando à chamada Revolta da Vacina, com diversas manifestações populares.
Em 1973, foi formulado o Programa Nacional de Imunizações (PNI), por determinação do Ministério da Saúde, com o objetivo de coordenar as ações de imunização que se caracterizavam, até então, pela descontinuidade e pela reduzida área de cobertura.
Após a fundação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e organizações relacionadas, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), os programas de vacinação tornaram-se globais. Em 1974, por exemplo, a OMS lançou o Programa Ampliado de Imunização (EPI), com o objetivo de aumentar dramaticamente as taxas de vacinação entre crianças em países em desenvolvimento.
O Calendário Nacional de Vacinação
O Calendário Nacional de Vacinação contempla não só as crianças, mas também adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas. Ao todo, são disponibilizadas 19 vacinas para mais de 20 doenças, cuja proteção inicia ainda nos recém-nascidos, podendo se estender por toda a vida.
Os principais objetivos da vacinação durante a gestação são a proteção da mulher grávida, livrando-a de doenças e complicações da gestação, e a proteção do feto, recém-nascido e/ou lactente, favorecendo-o com anticorpos para que possa resistir a infecções devido à baixa resistência do sistema imunológico.
Toda criança recebe um cartão de vacinação quando nasce, específico para se controlar as vacinas que já tomou. Esse cartão contém dados de peso e tamanho, que deve ser preenchido somente por médicos, durante as visitas de rotina. Por volta dos dez anos de idade, a criança termina de receber todas as doses de vacinação, mas deve continuar a tomar as indicadas pelas campanhas de saúde, como a de febre amarela, tétano, dentre outras, garantindo sua saúde por toda a vida.
Vacinas durante a Gravidez
Veja as vacinas indicadas para gestantes, segundo o Mistério da Saúde:
– Hepatite B: 3 doses, de acordo com a situação vacinal.
– Dupla Adulto (DT) (previne difteria e tétano): 3 doses, de acordo com a situação vacinal.
– dTpa (Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto): previne difteria, tétano e coqueluche – Uma dose a cada gestação a partir da 20ª semana de gestação ou no puerpério (até 45 dias após o parto).
Todas as vacinas acima são ofertadas gratuitamente pelo Mistério da Saúde. Há também a vacina contra gripe (influenza), que é ofertada durante campanhas anuais, como a que está em vigor agora nos postos de saúde de todo o Brasil.
Conheça aqui os Mitos e Verdades sobre vacina durante a gestação, segundo o Ministério da Saúde.
Vacinação de menores
A obrigatoriedade de vacinação de menores é parte do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O parágrafo único do Art. 14 estabelece que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.
Além dessas normas legais, existem manuais, protocolos e diretrizes que orientam a prática profissional dos médicos e profissionais de saúde que atribuem ao ato de “não vacinar” as crianças, salvo nos casos que se encaixam nas contraindicações, negligência parental ou “omissão do cuidar”.
A resistência à vacina
Nas últimas décadas, o aumento da resistência à vacinação foi influenciada pelo ex-médico britânico Andrew Wakefield e suas obras. Ele esteve na origem da controvérsia sobre o papel das vacinas no autismo, em 1998. Andrew Wakefield publicou um artigo considerado por muitas fontes como fraudulento e com sérios conflitos de interesse, no qual estabelecia uma suposta relação entre a vacina tríplice e o autismo. Como resultado da resistência à vacinação, foram verificados vários surtos de sarampo nos países ocidentais, onde o vírus era considerado eliminado.
Por se tratarem de vírus mortos, células inteiras, bactérias vivas ou atenuadas, a qualidade e a segurança das vacinas podem ser comprometidas em vários pontos ao longo do percurso de produção até o frasco nos laboratórios. Mesmo com padrões rígidos, no entanto, a possibilidade de contaminação permanece (embora seja muito menos provável hoje do que há várias décadas). Além disso, a produção de vacinas deve ser supervisionada de perto para assegurar que induzam imunidade e não produzam infecção grave.
No Brasil temos observado denúncias de fraude, como o caso do Rio Grande do Sul, em que uma clínica foi acusada de aplicar falsas doses de vacina contra febre amarela em bebês. Todas essas questões aumentam a insegurança da população e dão margem a notícias falsas que rapidamente se espalham pela internet.
Somam-se a isso as questões religiosas, culturais e do âmbito privado familiar que impactam a decisão de vacinar ou não e que precisam ser levadas em consideração pelas autoridades de saúde quando da realização das campanhas.
A escolha de vacinar parcialmente ou não vacinar os filhos
Estudos apontam que, apesar da legislação brasileira que obriga a vacinação das crianças, alguns pais de segmentos da sociedade com maior renda e maior escolaridade optam por não vacinar ou vacinar parcialmente seus filhos.
Mesmo com o aumento do número de pessoas vacinadas no Brasil desde a implantação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), há uma queda na taxa de crianças vacinadas a partir dos anos 2000, com destaque para aquelas pertencentes a famílias de maior renda e escolaridade (estrato A) em comparação com aquelas de menor renda e escolaridade (estrato E), na cidade de São Paulo. O mesmo foi verificado em dez capitais do país (incluindo São Paulo), em estudo nacional realizado em 2007-2008. Para complicar um pouco mais, foram observados novos surtos de sarampo no país, intensificados desde 2011.
Informação e empatia para fugir da caça às bruxas
Buscando com essas lentes, encontrei um estudo muito interessante realizado entre 2013 e 2016, na Austrália, que explora 29 entrevistas em profundidade, conduzidas de uma maneira aberta e sem julgamento, chamada no estudo de neutralidade empática. As entrevistas eram focadas nos fatores que influenciaram a decisão dos pais de vacinar, não vacinar ou vacinar parcialmente seus filhos.
Alguns pais relataram que se engajavam na busca contínua por informações para cuidar dos seus filhos. Sinalizaram também que, justamente por isso, questionavam o conhecimento científico tradicional (rejeição da epistemologia médica ocidental). Outro aspecto importante que surgiu foi a parentalidade salutogênica. As práticas parentais salutogênicas compunham um estilo de vida que incluía amamentar, comer alimentos orgânicos e /ou caseiros, cozinhar a partir do zero para reduzir o consumo de conservantes e reduzir a exposição a toxinas.
Independentemente de compartilharmos ou não a escolha desses pais, salienta o estudo, existe uma lógica de cuidado estabelecida e que é vista por esses pais que não vacinam ou vacinam parcialmente como consistente. Não podemos simplesmente menosprezar essas escolhas e desqualificá-las. Isso só afasta e dificulta o diálogo. Assim, é fundamental a compreensão de suas atitudes em relação à saúde e ao bem-estar dos seus filhos para qualquer esforço de engajamento a ser planejado.
Devo ou não me vacinar? Devo ou não vacinar meu filho?
Se você tem dúvidas sobre vacinar-se durante a gestação ou vacinar, vacinar parcialmente ou não vacinar seu filho, procure informação qualificada, de fontes seguras. Dialogue e tenha em vistas os benefícios e impactos dessa escolha. Avalie os riscos da vacina x riscos da doença para sua família e para a sociedade da qual faz parte. Lembre-se que, se você viaja para outras localidades, principalmente outros países, você e sua família estarão expostos a outras doenças diferentes daquelas de sua região de origem.
Procure um médico imunologista, além do ginecologista obstetra ou o pediatra do seu filho e pergunte! Vá a uma unidade básica de saúde e procure saber sobre benefícios e riscos das vacinas oferecidas em sua região pelo estado. Acesse a página do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz. Além disso, procure conversar com outras mães que possuem vivências semelhantes e, principalmente, diferentes das suas para refletir sobre e tomar sua decisão.
Se você quiser saber mais sobre o trabalho que realizo como Doula e sobre os estudos que faço, cadastre-se AQUI!
Referências
A (não) vacinação infantil entre a cultura e a lei: os significados atribuídos por casais de camadas médias de São Paulo, Brasil: https://scielosp.org/article/csp/2017.v33n2/e00173315/
A importância da vacinação: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/noticias/603-a-importancia-da-vacinacao
Vacinação: quais são as vacinas, para que servem, por que vacinar, mitos: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/vacinacao/vacine-se
The History Of Vaccines And Immunization: Familiar Patterns, New Challenges: https://www.healthaffairs.org/doi/full/10.1377/hlthaff.24.3.611
The Anti-vaccination Movement: A Regression in Modern Medicine: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6122668/#REF2
Understanding the perceived logic of care by vaccine-hesitant and vaccine-refusing parents: A qualitative study in Australia: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0185955
Estatuto da Criança e do Adolescente: http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/camara/estatuto_crianca_adolescente_9ed.pdf
Verdades e mentiras sobre a vacinação em gestantes: http://www.blog.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=53841&catid=578&Itemid=50221
Calendário Nacional de Vacinação: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/vacinacao/calendario-vacinacao