Minha história como doula é recente, são 2 anos e meio. A primeira vez que me questionaram “por que eu não fazia um curso para me tornar doula” eu nem sabia do que se tratava. Na época, já fisioterapeuta, trabalhando com massagens terapêuticas e orientais, casada, mas nem cogitando filhos, a pergunta não me despertou interesse. Segui meu trabalho e fui somente pesquisar o que era, já que me senti um tanto fora do mundo com a pergunta – e incomodada com o meu silêncio em não saber responder.
Para você que está se fazendo a mesma pergunta, hoje tenho capacidade de lhe responder: a palavra “doula“, traduzida do grego, significa “mulher que serve”. É a profissional que durante a gestação, parto e pós-parto estará dando suporte físico e emocional à mulher (e na maioria das vezes ao seu companheiro também). Trará informações para que a mulher conheça a realidade obstétrica da sua cidade ou região, conduzindo o casal a uma assistência o mais próxima possível de suas expectativas. Estudos ainda relacionam a presença da doula durante o trabalho de parto com menores índices de cesarianas, melhor satisfação da mulher em relação ao parto, menos pedidos de analgesia e meios mais invasivos de assistência, como ocitocina ou uso de fórceps.
O Despertar
Eis então que o mundo da maternidade me dá boas vindas! Descubro-me grávida e feliz, depois de uma perda gestacional prévia às 7 semanas. Nesse primeiro momento, depois de superar a tristeza eu só queria curtir a gestação, deixando para me preocupar com o que viesse somente quando necessário fosse. E claro que esse momento chega: 25 semanas, barriga crescendo e esse bebê tendo que achar um jeitinho de sair… De paraquedas me cai uma ex-colega da faculdade, DOULA, que me fez conhecer, entender e me apaixonar por esse mundo na prática. Me falou sobre a dura realidade da nossa cidade, da falta de incentivo ao parto normal por parte do médicos… mas também me falou das fases do trabalho de parto, das experiências que ela tinha passado e o quanto isso mudou a sua vida perante as situações mais adversas, das expectativas que cada mulher leva para o parto, da superação da dor e das formas de amenizá-la durante o processo. Com ela eu me sentia segura, livre para me abrir. E isso é decisivo nesse momento tão íntimo e importante da vida: eu só levaria para ele alguém que eu confiasse muito – e alguém que me conhecesse muito também.
A busca pelo parto foi uma luta, como para muitas mulheres é até hoje: obstetra cesarista, como todos da cidade. Mas eu me sentia muito segura com minha equipe – tínhamos doula e enfermeira obstétrica também, então a busca foi compartilhada com elas. Não foi fácil, mas…
Conseguimos!
Nosso Felipe veio em 08/11/2013, às 40 semanas e 4 dias, após uma gestação sem intercorrências e uma longa busca por um nascimento com respeito, onde pudemos nos reconhecer como mãe e filho sem interferências externas. Nasceu de um parto normal hospitalar, após 12 horas de trabalho de parto ativo.
A evolução do trabalho de parto em casa foi ótima, mas ao adentrar no hospital, já no período expulsivo – a fase final do parto, passei por uma parada de progressão e o parto que era para acabar em minutos se prolongou por mais quatro horas. No fundo eu não confiava no obstetra e hoje tenho plena certeza que sua presença foi decisiva nessa parada. Esse inclusive é um acontecimento muito comum: em casa, a mulher está no seu cantinho, tem total liberdade para fazer o que quiser (e uma equipe realmente humanizada vai respeitar isso). Ao entrar o hospital, em meio a pessoas estranhas que seguem condutas no automático, a mulher pode se sentir observada, exposta, invadida…
Sorte minha que a equipe estava preparada para essa condição e pôde me orientar a respirar, visualizar meu filho descendo e girando pela minha pelve, me sugeriu sentar na bola, rebolar, chuveiro… E assim retomei as contrações e ele veio, quente, com aquele cheirinho delicioso pro meu colo!
Nosso parto foi a concretização de um sonho! Tamanha foi a minha felicidade e sensação de força que não consegui mais me afastar do universo do parto. Equem atravessa esse portal sabe como é forte a vontade de que mais pessoas o conheçam. Então…
Quero isso para outras mulheres!
Em 2016 surge a oportunidade de fazer o curso de doula! Revelador, apaixonante, um verdadeiro caminho sem volta! Era uma realidade que eu não conseguia mais deixar de lado, quando via era sobre isso que estava buscando informação na internet e lendo. No último dia do curso, já emocionalmente envolvida com todo esse universo, duas gestantes amigas me mandam mensagem e me dão o presente de acompanha-las. Naquele momento, muito emocionada, eu me sentia plena, completa, trilhando o melhor caminho. E até hoje, a cada parto, a cada história de vida em que me permitem, a cada lágrima e suspiro que acolho, é exatamente assim que me sinto!
E hoje...
Se me perguntam a minha profissão: DOULA. Sim, não desmereço o que aprendi antes, até porque são recursos que utilizo muito na minha prática. Mas é pra essa missão que eu vivo! É essa energia que quero sentir e presenciar a mulher sentir também! É um verdadeiro privilégio poder assistir o nascimento do bebê (e o renascimento da mãe), é presenciar o verdadeiro milagre: a vida acontecendo como ela deve ser – com força, amor e entrega.
Acredito no dia em que todas as mulheres poderão ter ao seu lado uma doula! Todas merecem!
Links de apoio:
- Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas
no trabalho de parto e no parto – http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/26.pdf - Preparo da Gestante para o parto – http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71671973000200108
- Atuação fisioterapêutica para diminuição do
tempo do trabalho de parto: revisão de literatura – http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n8/a1587.pdf
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