Hoje vou contar sobre o meu processo de fertilização, que teve início nos idos de 2010, quando estávamos tentando engravidar já fazia um ano e nada do tal positivo. Em pensar que eu parei de tomar a pílula e achei que ia engravidar no mês seguinte! Mas, como diria Augustus Waters, de A culpa é das estrelas, o mundo não é uma fábrica de realização de desejos.
Fizemos diversos exames para descobrir qualquer disfunção, tanto eu, como meu marido também. E o resultado foi que eu tenho endometriose e síndrome do ovário policístico, além de uma condição embrionária que fez com que meu colo do útero fosse um pouco virado para a direita, atrapalhando um pouco o acesso ao útero. Há também um pequeno septo, mas me foi informado que este só seria problema se o feto fizesse a nidação justamente naquele lugar, mas isso nunca aconteceu. O maridão está ótimo, obrigada.
Nesse post você vai encontrar
O que não falar para as tentantes
– Há, mas a filha da prima da minha vizinha tem endometriose e engravidou!
– Eu tenho ovário policístico e tive 3 filhos!
– Você precisa relaxar, que vai dar certo!
– Vá estudar, viajar, (fazer qualquer coisa) que aí você engravida!
Gente, é sério, pode até ser que a intenção seja boa, mas hoje eu milito para que as pessoas simplesmente PAREM de dizer isso!! Não ajuda em nada, pelo contrário, fica parecendo que a culpa é minha, que não soube fazer as coisas direito, ou relaxar o suficiente, etc. Falar que é no tempo de deus, ou que ele sabe das coisas, também não ajuda. Você não sabe das minhas crenças, ou na falta delas. Ou seja, se não for para falar algo positivo, é melhor não falar. Tenho tentado praticar isso para tudo na vida, e vale a pena, viu?!
Ah! E antes que eu me esqueça: Não, não quero adotar, e nem acho que sou obrigada a adotar porque não consegui engravidar.
O começo do tratamento
Depois de todos os exames, a primeira tentativa de fertilização foi através do rastreamento de ovulação e coito programado, com o uso do clomifeno, um estimulante para a ovulação. Esse tratamento consiste em tomar esse comprimido, e fazer uma ultrassonografia endovaginal dia sim, dia não, para saber o momento exato em que o folículo embrionário está pronto para ser fecundado, e voilá! Bora para casa namorar. Parece legal, mas para o meu caso de endometriose, um dos momentos que eu mais sinto cólica é esse da ovulação, e em algumas das tentativas, eu ia ter a relação chorando de dor, e nervoso também, pois já estava muito fragilizada. Percebi que a cada tentativa, as dores eram piores…
No início da busca, uma coisa que me incomodava bastante era que tudo demorava muito, ou seja, fiz um procedimento nesse ciclo menstrual, aí tenho que esperar o próximo para fazer outra coisa. Isso me aborrecia, mas hoje já me conformei. Tanto que tem 3 anos que não estou em tratamento algum. Precisei desse tempo.
Entre cada tentativa, eu acabava dando um tempo e, na maioria das vezes, troquei de médico, pois acabava perdendo a intimidade e confiança nele. Fui sempre em indicações de amigas, para ver se criava vínculo com o médico, mas isso nunca aconteceu. Eles são sempre muito amigáveis no começo, mas depois, o processo fica muito comercial e automatizado, perde a humanização, a individualidade.
Primeiro procedimento cirúrgico
Fiz também um procedimento chamado histeroscopia, onde o médico consegue ver os órgãos reprodutivos e tomar providências, como no meu caso, tirar a endometriose que estava lá. Foi o que aconteceu, e depois disso, tentamos mais algumas vezes o coito programado.
Mas não pensem que fiquei livre da endometriose, pois acreditem, ela volta! Não é que os mesmos pólipos endometriais vão voltar a aparecer, mas podem surgir novos. E adivinha o que aconteceu? Aproximadamente um ano depois desse procedimento, as cólicas voltaram, e dessa vez, mais fortes do que antes!
A busca pela fertilização in vitro
Decidimos investir na fertilização. Tentei fazer através do SUS, pelo Hospital das Clínicas de BH, uma vez que me disseram que lá era referência nesse tipo de tratamento, e o melhor, gratuito. Fiquei presa na burocracia, o posto de saúde me mandando para um hospital, o hospital me mandando voltar no posto… Depois de várias idas e vindas, deixei de lado.
Mas, no final de 2014, ganhamos um dinheiro que eu não estava esperando, e resolvemos investir na fertilização. Fomos à uma clínica renomada aqui de BH, e de acordo com o médico, a partir do nosso histórico, deveríamos pular a tentativa de inseminação artificial e já tentar a fertilização in vitro.
E lá vamos nós fazer mais um monte de exames, sangue, urina, ultrassom, espermograma…
A primeira parte desse tratamento consiste em tomar uma quantidade grande de hormônios, que vão fazer você ovular mais. Eram injeções na barriga todos os dias, por aproximadamente, 15 dias. Algumas eu mesma aplicava (parece a de insulina) e outras eu tinha que ir na clinica para receber.
E o resultado disso é que, enquanto num ciclo normal a gente ovula uma vez,eu tive 25 óvulos para serem fecundados. Saí de lá toda contente, nem liguei para a cólica, que também foi 25 vezes maior, rsrs. A retirada desses óvulos é chamada punção e é um procedimento cirúrgico, com anestesia geral e tudo. Mas tudo ocorreu bem, e eu fui para casa no mesmo dia.
Enquanto eu descansava do processo, a embriologista trabalhava, fecundado os óvulos com o espermatozoide do meu marido. E uma coisa que foi bem bacana, como ela era amiga do meu marido, me mandou um vídeo de um dos procedimentos. Chorei até!
Dos 25 óvulos, conseguimos 13 embriões, classificados como ótimos. Ficamos bem contentes, afinal, 13 é número da sorte, não?
Uma coisa que foi importante nesse período foi conversar com pessoas que também estavam passando pela mesma situação que eu. Tinha dois casais no meu trabalho – um conseguiu engravidar de gêmeos, logo na primeira fiv. O outro até hoje também não conseguiu. Grupos de apoio no facebook e whatsapp ajudam muito na hora de tirar dúvidas e conforto também.
A implantação dos embriões
Como eu tive uma resposta muito alta aos remédios, o médico resolveu congelar todos os embriões, e fazer o descongelamento no mês seguinte, dos que seriam implantados. Tudo isso conversado e explicado para nós.
No mês seguinte, depois de mais hormônios, dessa vez via oral e também uma pomada inserida na vagina, voltamos lá. Eles descongelaram três embriões, pois como o número era ímpar e eles são congelados em pares, não compensava fazer diferente. Nos foi explicada a possibilidade da fecundação dos três embriões, mas topamos correr o risco. Na verdade, nem ia achar ruim que viessem os três não, viu?
Essa parte é teoricamente mais simples, é como um exame ginecológico, sem necessidade de anestesia ou internação. Eu tive que beber muita água, deixar a bexiga cheia e rumo ao consultório, fazer a implantação.
O médico insere uma sonda pelo orifício do colo do útero (aquele que em mim é escondido, e por isso foi um pouco difícil para ele, e dolorido para mim) e por essa sonda, insere os embriões, e eles entram no útero com a missão de se fixar em alguma das paredes dele (nidação).
Fomos para casa bastante confiantes de que ia dar certo, mas depois de 15 dias, fiz o betaHCG e deu negativo. Alguns dias depois, a menstruação veio, e todo esse processo de hormônios, ultrassons e transferência de embriões aconteceu de novo, dessa vez com mais dois dos meus “meninos”.
Mas dessa vez foi diferente. Haviam mais 11 pessoas lá, e eu fui deixada para ser a última, com bexiga cheia a horas, e aquela tensão. O médico, que já devia estar cansado também (tinha passado em muito da hora do almoço), não encontrava o tal do orifício por nada no mundo, mesmo eu tentando lembrar para ele que era mais para a direita. A embriologista ia e voltava com os embriões, pois eles não podiam ficar expostos muito tempo.
Nessas tentativas, o médico acabou me machucando, o que fez sangrar, e dificultar mais ainda o trabalho dele. Nessa hora eu já estava chorando, pois sabia que não ia dar certo de novo. Como não deu.
Me senti muito desrespeitada como essa última parte do tratamento, que além de caro, foi doloroso e desgastante, tanto para mim, quanto para meu marido, que não saiu do meu lado em momento algum.
Tempo para recuar
Decidimos então, dar um tempo nessas tentativas. A programação era voltar a tentar dois anos depois, mas em outra clínica. Não quero nem voltar lá. Tenho ainda que saber como farei com os 8 embriões que sobraram lá, congelados, pois vou ter que levá-los para o outro lugar que escolher.
Como planos são feitos para serem descumpridos, já tem 3 anos e meio que eles estão lá, e ainda não sei quando poderei tentar novamente.
Mas não desisti! Depois que virei doula, me vi mais aberta para tratamentos naturais, autoconsciência, e tenho investido nisso. Quem sabe nem preciso passar por tudo isso de novo?
Referências:
Procedimentos de fertilização in vitro: experiência de mulheres e homens
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722010000400013
Tecnologias de reprodução assistida no Brasil: opções para ampliar o acesso
http://www.scielo.br/pdf/physis/v25n3/0103-7331-physis-25-03-00753.pdf