DOULAR POR VOCAÇÃO
O nascimento da minha filha em 2017 me trouxe novos propósitos pessoais e profissionais. Eu, que já não trabalhava satisfeita, vivi meu puerpério me questionando se deveria permanecer longe da minha filha após a licença maternidade, terceirizando sua criação e educação a uma creche, babá ou avó, para executar um serviço que eu realizava sem muita motivação. Sendo mãe solo ainda, eu tenho desafios extras, como não ter com quem dividir as contas, as decisões e preocupações. Eu precisava de algo que me motivasse verdadeiramente e que pudesse, pelo menos, ser uma renda extra para minha família, mas que ao mesmo tempo não me exigisse que eu ficasse diariamente longos períodos longe da minha cria. Foi aí que me dei conta de que eu já doulava algumas pessoas, ainda sem formação e sem total consciência. Eu poderia trabalhar alguns dias, acompanhar partos, sem privar minha filha com grandes ausências. Com isso, resolvi me formar e passar a atuar como doula, para ajudar as mulheres a buscar um parto mais digno e respeitoso, tal como desejam.
O CHAMADO
Sou cientista social de formação – área que busquei por acreditar em causas humanistas e igualitárias. Reconhecer outra pessoa como outro ser humano, igual a você, embora possa parecer uma premissa básica, não é o que ocorre com frequência, pois ignoramos a essência humana dos outros em muitos momentos, revelando nossa face individualista e egoísta. A empatia, que é essa capacidade de reconhecer no outro um igual, compreendendo e abraçando seu lugar e sentir, sempre foi uma das minhas premissas – no plano pessoal como em todos os outros planos. E isso caminho lado-a-lado com o respeito, a liberdade e a autonomia de cada indivíduo, sobretudo de cada mulher.
Colocar-se no lugar da outra, acolhê-la e ajudá-la faz parte da minha essência. Quando reconheci isso em mim mesma, identifiquei que doular era minha vocação. Eu finalmente estava atendendo a um chamado, e dando vazão a um lado mais humano e não tanto racional.
DESTINO
Como doula, atuo em São Paulo durante toda a gestação, fornecendo à gestante as informações que ela requer para subsidiar suas escolhas (todas baseadas nas mais atualizadas evidências científicas), além de ensinar alguns exercícios e técnicas de respiração e relaxamento que ajudam o corpo da mulher a se preparar para o parto, acreditando em sua fisiologia. Além de toda a conversa e troca, que cria um vínculo entre doula e doulanda, ainda ofereço massagens, que se estendem ao trabalho de parto para alívio não farmacológico da dor, e ao pós-parto também. Prezo por proporcionar conforto físico, psicológico e emocional durante toda essa fase delicada da nova mãe.
Acredito que ter doula e um parto respeitoso são princípios básicos e universais e não deveria ser um privilégio ou “opção”. Respeito às decisões e ao corpo da mulher e respeito ao bebê que acaba de nascer devem ser o “arroz com feijão”. É um princípio e um fim!