“Parto normal?! Corajosa você hein…”

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“Parto Normal? Corajosa você hein…” Quem decidiu por correr atrás dessa via de parto, certamente já escutou essa frase uma ou mais vezes. Ouviu da família, amigos, conhecidos e até de pessoas aleatórias. Eu mesma já escutei demais, principalmente na minha primeira gestação. Mas por que somos tão corajosas em optar por uma via natural? O que tem no imaginário das pessoas que atribuem coragem à mulher que opta pelo parto normal? Será que é pelo fato de querermos expelir um mini ser humano pela nossa vagina? Ou porque enfrentaremos possíveis horas de dor? É possível também que seja inconcebível para maioria dos brasileiros não saber a data e hora exatas que nosso filho nascerá.

Coragem: substantivo feminino; 1. moral forte perante o perigo, os riscos; bravura, intrepidez. 2. firmeza de espírito para enfrentar situação emocional ou moralmente difícil. “Coragem é a capacidade de agir apesar do medo, do temor e da intimidação. Coragem não significa a ausência do medo, e sim a ação apesar deste”. Lendo essas definições do termo, não me resta dúvida que só em mulheres permitirem-se aventurar em uma gestação, entrar nessa vida louca de serem mães, já são corajosas! Não é uma via de parto que deveria definir a covardia ou a coragem dessas mulheres.

É um ato de coragem doar seu corpo como casulo de alguém, vê-lo se transformar, inchar, mudar de cor, de formato, enjoar, não dormir bem (seja pelo tamanho da barriga ou dos xixis constantes). Acredito que a falta de informação de ambos os tipos de parto (vaginal ou cirúrgico) é grande fator de preconceitos e comentários tão invasivos e constrangedores que ouvimos por aí.

Vamos nos informar?

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Para optarmos com consciência e segurança, para termos certeza do modo que queremos trazer nossos filhos ao mundo, é preciso estudo. É preciso pesquisa. É necessário ler, entender qual a maneira mais saudável de parir para nós e nossos bebês. O que dizem as pesquisas científicas sobre cada via de nascimento? É preciso protagonizar o processo que está acontecendo dentro de nós, com o nosso corpo! Ninguém deve fazer isso por nós. Nem sociedade, nem maridos, nem doulas, nem médicos. A decisão é tua, mulher! Conheça os riscos, os benefícios de cada via. Permita-se. Seja autônoma e banque as decisões que você tomou, mas tome-as conscientemente! Não acho justo sermos levadas por mitos, tabus, ideias sem embasamentos e medos.

É fato que a maioria dos partos no nosso país acontece por cesariana, mesmo sendo a via mais arriscada. O estudo “Morte materna no século 21″, publicado em 2008 no periódico American Journal of Obstetrics and Ginecology, analisou 1,46 milhão de partos e encontrou um risco de óbito dez vezes maior para a gestante em cesarianas. Enquanto a taxa de morte em partos normais foi de 0,2 para 100 mil, no caso das cesáreas chegou a 2,2 por 100 mil. Há também o aumento de chances de infecções hospitalares, maior risco de trombose para mulher, maior incidência de problemas respiratórios nos bebês (em casos de cesáreas marcadas, já que o pulmão do bebê é o ultimo órgão a ficar pronto), dentre muitos outros riscos que ninguém nos fala! Então por que só as que optam pelo parto normal são as corajosas?! Só por decidimos por sentir dor?

Perguntas para refletir e responder (ou vice-versa)

Fiz uma pequena pesquisa no meu perfil do Instagram e 99% das respostas sobre o por que somos consideradas corajosas ao enfrentar um parto vaginal foram sobre aguentar a dor ou querer sentir dor. Há uma tendência enorme da sociedade em fugir a qualquer custo de qualquer tipo de dor durante nossa vida, não é? Vivemos querendo nos anestesiar. Mas a partir de quando isso deixa de ser saudável para nós? Por que fugimos tanto da dor do parto? Será que ela é tão insuportável assim? Você conhece alguém que já morreu de dor de parto? As novelas, o tabu e os mitos (junto com a falta de humanização dentro dos hospitais) que se cria ao redor disso nos ajuda bastante a manter esse imaginável terror que ronda a cena do parto. Minhas dicas são: informação transforma, da base para tomadas de decisões importantes como essa. O empoderamento te engrandece.

Dica 2: Ter por perto profissionais atualizados e humanizados fará GRANDE diferença na sua decisão. Por isso, arregace as mangas e corra atrás! Tome as rédeas, tome SUAS decisões e lide com as consequências que vierem, sejam elas boas ou ruins. E a dica de ouro é: ter uma doula nesse processo todo vai te ajudar e muito!!

Sobre ter uma doula pra segurar tua mão e te dar apoio – Foto: Camilla Albano

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Referências

Maternal death in the 21st century: causes, prevention, and relationship to cesarean delivery – https://www.ajog.org/article/S0002-9378(08)00268-8/fulltext 

O Parto é da Mulher. Cristina Balzano. 2019.

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