Parir é uma arte. É como música. Existe um compasso, uma melodia, uma harmonia. Existe um regente, um artista e uma plateia. O regente é o bebê, ele determina o início e o fim, com a ajuda de uma cadeia de hormônios. A artista é a mulher, que acompanha o ritmo, o compasso determinado pelo bebê e vai dando as notas à essa música: muda uma posição daqui, toma um banho dali, recebe uma massagem acolá. A plateia é o acompanhante e a equipe, que assistem, incentivam e acolhem regente e artista ao final do espetáculo.
Como começa o trabalho de parto?
Todo espetáculo exige um ensaio e não é diferente com o parto. Nas semanas que se antecedem, o corpo vai se preparando, o útero vai contraindo, ficando duro – as chamadas contrações de Braxton-Hicks. Pode ser que o bebê se encaixe na abertura da pelve, causando fisgadas, mas pode ser que só encaixe na hora do parto. Para saber se uma contração é de verdade, existe um truque: tomar um banho morno por, no mínimo, 40 minutos. Se as contrações passarem, não é trabalho de parto.
Sabe aquele sinal sonoro que os teatros emitem antes das apresentações? Aqui também temos e chamamos de tampão mucoso, que é uma secreção – um catarrinho – que serve de uma rolha para fechar o colo do útero.
Às vezes não tem o sinal sonoro, mas sempre tem as cortinas que se levantam, aquele momento que gera grande expectativa, o rompimento da bolsa das águas. Pode ser que o show se dê com as cortinas abaixadas – na maioria das vezes a bolsa se rompe pouco antes da dilatação total -, mas pode ser que rompa no início de tudo e o trabalho de parto aconteça depois de algumas horas.
O sinal mais concreto do início do trabalho de parto são contrações, mas diferentes daquelas do fim da gestação, que acontecem há semanas, mas são contrações mais bem definidas e ritmadas, que vêm e vão como uma onda, nos primeiros gestos do regente.
Fase latente
A fase latente começa junto com as contrações ritmadas, que vão tracionando o colo pra cima, para preparar para a dilatação. É a fase do que chamamos de apagamento do colo. A penumbra, o toque, o banho morno, auxiliam nesse momento a aliviar as dores da contração. Pode ser que nessa fase ocorra o aumento da libido ou a “síndrome do ninho arrumado”, que é aquela vontade louca de limpar a casa inteira e arrumar as coisas do bebê. É um bom momento para se unir ao marido: o esperma possui prostaglandinas, que ajudam no apagamento do colo. Além disso, o orgasmo ocasiona a produção de ocitocina ~o hormônio do amor~, que atua no fundo do útero e promove as contrações uterinas, que desencadeiam na dilatação do colo do útero e na descida do bebê.
De repente – depois de horas ou dias – as contrações ficam ritmadas e mais efetivas e começa a fase da introspecção. E então passamos para o próximo ato.
Próximo ato
A fase ativa é a fase da partolândia, da introspecção, da concentração. É o clímax. A vontade de parir será testada pela dor e pelo cansaço, passando pela covardia e pelo medo. O desenrolar dessa trama, que de orquestra já virou ballet, você pode conferir nos próximos posts bem aqui, na Casa da Doula.
Referências Bibliográficas
BALASKAS, Janet. Parto ativo: guia prático para o parto natural. 2 ed. São Paulo: Ground, 2012. 317 p.
VELLAY, Pierre. Parto sem dor: princípios, prática e testemunhos. 1976 ed. São Paulo: IBRASA, 1976. 276 p.
Uma resposta para “A arte de parir: o que acontece no corpo em trabalho de parto – parte 1”