Essa semana (11/03) o Brasil entrou em estado de alerta e se faz necessário saber quais os impactos do Coronavírus na gravidez e amamentação. Algumas coautoras da Casa da Doula reuniram esforços para reunir para você a maior, e mais embasada, quantidade de informações disponíveis.
Escrevem esse artigo Bianca Targherta, Gabriella Santoro, Jacqueline Menezes, Samara Barth, Tatiane Okazaki, Nathália Passos
É tempo de cuidados sim, mas principalmente calma e bom senso. Ao longo do texto vamos apresentar todos os aspectos do Coronavírus até agora disponibilizados.
Nesse post você vai encontrar
A Codv19, de acordo com o comunicado da SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA (SBI) em 13/03, é uma nova doença causada pelo novo coronavírus (denominado SARS-CoV-2).
O Coronavírus é um vírus semelhante ao da gripe e resfriados comuns, mas que tem alarmado todo o mundo nas últimas semanas pela sua grande rapidez na propagação.
Segundo estudo realizado na China com mais de 191 pacientes e publicado na revista The Lancet, em dezembro 2019, os principais sintomas são: febre, tosse seca e falta de ar, com tempo médio de duração da doença em 22 dias.
“Resultado da análise de cerca de 200 pacientes na China é primeiro retrato completo da progressão da doença; no mundo, letalidade do vírus é de 2%” El País
Já a Agência Brasil diz que No início de março, a taxa de letalidade era de 3,5%.
Em pessoas com doenças cardiopulmonares, com o sistema imunológico comprometido, problemas de coagulação e em idosos o contágio pelo vírus pode também causar síndromes respiratórias graves e infecções pulmonares (pneumonia).
A incidência de mortes devido ao contágio, ou complicações a partir do contágio, são ainda imprecisas e os dados giram entre 2%. e 3,5%.
Qualquer um pode se contaminar com o coronavírus, basta ter contato direto com o vírus através de uma pessoa infectada, via gotículas de saliva, e aerossóis de tosses e espirros. Ou de forma indireta, tocando em superfícies contaminadas e levando a mão ao rosto, principalmente olhos e boca. Cada pessoa doente transmite a doença para outras 2,74 pessoas que permanecem com o vírus em incubação por alguns dias antes de se manifestar.
Chamamos de período de incubação o tempo entre ser contaminado pelo vírus até começarem os sintomas. Já o contágio, o período onde uma pessoa contaminada pode passar o vírus para outra, não necessariamente ocorre somente quando começam os sintomas, mas sim antes mesmo deles aparecerem e continuar até mesmo muito tempo depois deles sumirem.
Como comparação, no caso da gripe suína H1N1, o período de incubação dura entre 1 a 4 dias, sendo em média 2 dias, com casos raros de até 7 dias. O contágio começa 1 dia antes dos sintomas aparecerem e dura de 5 a 7 dias depois dos sintomas aparecerem. Um tempo relativamente curto, que propicia maiores facilidades nos cuidados para prevenção.
Por ser uma doença recente, pouco se sabe sobre o período de incubação e contágio do Covid-19, mas segundo as estimativas das maiores agências, o período de incubação ocorre entre 1 a 14 dias, sendo em média 5 dias para aparecerem os sintomas, com 3 estudos de caso fora desse intervalo, sendo eles 19, 24 e 27 dias entre infecção e sintomas aparecerem.
“OMS declara pandemia de coronavírus”
via G1 11/03/2020 13h28
De acordo com o informe da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) sobre o novo coronavírus (atualizado em 12/03/2020) temos 3 fases epidemiológicas da COVID-19
Pra falar de prevenção precisamos antes entender como ocorre e como é a linha do tempo da infecção. Se tiver dúvidas sobre, leia o tópico acima.
Se falarmos de contágio, o meio principal de contaminação ocorre por meio de gotículas de cuspe/ranho cheias de vírus que uma pessoa infectada e já com sintomas joga no ar ao tossir ou espirrar. A pessoa saudável respira essas gotículas virais e bum, vírus corona entrou no grupo.
Outra forma é a pessoa contaminada tocar sua boca, nariz ou olhos e tocar uma superfície, carregando os vírus até ela. A pessoa saudável toca essa superfície, toca então sua boca, nariz ou olhos.
Uma pausa pra dizer que essas gotinhas não flutuam no ar, elas caem rapidamente, então não precisa fechar a janela do carro quando estiver dirigindo com medo do carro da frente espirrar e os vírus chegarem até você.
Sobre o tempo que o vírus vive na superfície depois de alguém com o vírus tocá-la, ainda existe um certo desacordo na comunidade científica. Alguns estudos sugerem que eles podem sobreviver poucas horas ou até vários dias dependendo do tipo, temperatura e umidade, e outros estudos afirmam que não sobrevive bem fora do corpo, especialmente em cartolinas e material de empacotamento como uma encomenda vinda da China ou da Itália (torcemos).
Outra informação mega importante para nos precaver é saber quanto rápido a doença se espalha, a chamada taxa de transmissão, que representa o número médio de pessoas que serão infectadas por uma única pessoa.
Aqui você acha infográficos bem legais pra entender como ela funciona!
O número do Covid-19 está entre 1.5 a 3.5, sendo que quando abaixo de 1, o surto diminui gradualmente.
Por que eu preciso saber disso tudo para me precaver?
Porque entendendo a linha do tempo da infecção, a taxa e o modo de infecção permite às autoridades pensarem em processos mais efetivos de quarentena para casos suspeitos, controlando e prevenindo a dispersão do vírus.
Além disso, temos alguns estudos que já mostram que mesmo sem nenhum sintoma, o paciente já pode transmitir o Covid-19, e não somente isso, mesmo dias após a sua recuperação e os sintomas terem desaparecidos, eles ainda podem transmitir a doença, a chamada infecção assintomática. Ou seja, você pode estar transmitindo a doença durante umas 4 a 5 semanas em média após ser infectado!
A melhor maneira de se proteger é algo que nós brasileiros nos gabamos com orgulho:
HIGIENE!
E se eu já estiver infectado ou tiver entrado em contato com alguém que descobriu que estava infectado depois? O que fazer?
Importantes regras para usar máscaras: lavar as mãos antes, inspecionar furos e rasgos, apertar a parte com a tira de metal no seu nariz para moldar, cobrir boca e queixo. Quando for tirar, segurar pelos elásticos das orelhas, para não tocar em partes potencialmente contaminadas, jogue fora em lixo fechado e lave as mãos!
Cuide de seus idosos e pessoas nos grupos de risco, utilize itens com parcimônia, pense no coletivo!
Houve muito alarde quando, no dia 11 de março, a Organização Mundial de Saúde declarou que o COVID-19 havia se tornado uma pandemia. A última vez que isso aconteceu foi há 10 anos atrás com o H1N1 (a famosa gripe suína). Nem o SARS (que também é um coronavírus) ganhou essa denominação mesmo gerando pânico mundial àquela época e tendo uma taxa de mortalidade mais alta que o Covid-19.
Segundo a OMS e o CDC, esse termo é mais aplicado às chamadas influenzas (como o H1N1). Não existe ainda uma definição específica sobre o Covid-19 devido a sua novidade, mas pelo modo de ataque e disseminação similares, as mesmas definições estão sendo aplicadas.
Uma pandemia ocorre quando uma nova cepa (tipo) de um vírus já existente surge e a doença resultante se espalha mundialmente. Esse novo vírus infecta pessoas facilmente e se espalha entre elas de uma maneira eficiente e contínua em diversas regiões. A maioria das pessoas não terá imunidade a esse novo vírus e não existe vacina (já que a vacina age especificamente em cada cepa), causando um aumento rápido de pessoas infectadas e sequencialmente, doentes.
As pandemias normalmente ocorrem mais nos períodos de gripe, como inverno (caso dos EUA e Europa), mas padrões não esperados podem existir, gerando surtos também durante o verão (caso do hemisfério Sul), então não podemos relaxar e achar que estamos a salvo por conta da temperatura.
Pandemias são raras, somente aconteceram durante o século 20, mas não devem ser ignoradas. Esta é a quinta pandemia reconhecida, estamos há 2 meses e meio desde o primeiro caso reportado em 31 de dezembro de 2019 com mais de 6500 mortes até o momento e quase 170 mil pessoas infectadas. A última pandemia, de H1N1, teve em um ano um pouco mais de 60 milhões de pessoas infectadas com quase 12 mil e 500 mortes. Em ⅙ de tempo, já alcançamos a metade das mortes, mesmo uma década a frente em pesquisas e avanços médicos.
Sendo assim, o título de pandemia se aplica mais a capacidade da doença de se espalhar, e não necessariamente à gravidade da mesma. A epidemia do vírus Ebola por exemplo, durou 2 anos e meio, infectando mais de 28 mil pessoas e vitimando pouco mais de 11 mil. Muito mais mortal, mas considerada “somente” uma epidemia.
Em sua rede social, a Dra Melania Amorim compartilhou dados importantes que replicamos aqui, na íntegra, a seguir:
“Guidelines para o manejo de gestantes com suspeita de coronavírus – publicação de acesso livre no Lancet (clique aqui para ler na íntegra)
No algoritmo, nós sugerimos que qualquer gestante que tenha viajado para um país afetado por SARS-CoV-2 dentro dos últimos 14 dias ou que tenha tido contato próximo com paciente com infecção confirmada por SARS-CoV-2 devem ser testadas com um teste de amplificação do ácido nucleico mesmo se assintomática. Gestantes com infecção laboratorial confirmada que estão assintomáticas devem ser automonitorizadas em casa para a presença dos achados clínicos do COVID-19 por 14 dias. Essas pacientes e aquelas que estão se recuperando de doença leve devem ser monitorizadas duas vezes ao mês com USG para biometria seriada e Doppler devido ao risco potencial de restrição do crescimento intrauterino.
Gestantes com Pneumonia pelo COVID-19 devem ser tratadas por equipe multidisciplinar em um centro de cuidados terciários. Se elas preenchem os critérios do Quick-SOFA, devem ser encaminhadas para unidade de cuidados intensivos (UTI). Para gestantes com infecção confirmada, a escolha da época do parto deve ser individualizada de acordo com a idade gestacional e as condições materna, fetal e do parto. Se possível, parto vaginal via indução do parto, com eventual parto instrumental para evitar exaustão materna, deve ser favorecido para evitar complicações cirúrgicas desnecessárias em uma paciente já realmente doente. Choque séptico, falência aguda de órgãos ou sofrimento fetal requerem cesariana imediata – ou interrupção legal da gravidez se ocorrem antes da viabilidade fetal.”
Não foi divulgado até o momento nenhuma evidência da presença do vírus no leite materno de mulheres diagnosticadas com o COVID-19 ou na transmissão direta mãe-bebê. Logo, não há razão para interrupção da amamentação.
A Sociedade Brasileira de Pediatria, para mães infectadas, recomenda:
É preciso dizer que os riscos de contaminação do bebê não superam os benefícios do leite materno, veja o que diz Arthur I. Eidelman, médico e editor chefe da Breastfeeding Medicine:
“Dada à realidade de que as mães infectadas pelo coronavírus provavelmente já colonizaram seus bebês, a amamentação continuada tem o potencial de transmitir anticorpos maternos protetores ao bebê através do leite materno. Portanto, a amamentação deve continuar com a mãe praticando cuidadosamente a lavagem das mãos e o uso de uma máscara durante a amamentação, para minimizar a exposição viral adicional ao bebê”
Mães com tuberculose são orientadas a manter o aleitamento, através do uso de máscara, com o coronavírus é a mesma coisa. Se o estado clínico da mãe permite que ela amamente e esse é o seu desejo, não há contraindicação.
Se não for possível levar o bebê ao seio, a opção da ordenha e oferta do leite materno em copo ou colher deve ser priorizada em detrimento da mamadeira, visando não causar confusão de bicos e desmame precoce.
Se ainda assim a mamadeira for o objeto de escolha para oferta do leite materno, atenção redobrada com a limpeza e manuseios de todos os apetrechos (bomba, frascos, bicos, etc) a fim de minimizar o risco de contaminação dos mesmos e, consequentemente, do bebê.
A percepção de Qualidade de Vida, segundo a OMS, pode variar de acordo com as condições de ambiente (higiene, alimentação, habitação, saneamento, etc.), perspectivas, objetivos e preocupações. Envolve também o bem-estar físico, mental, espiritual, emocional e psicológico. Em tempos de pandemia, como a que estamos vivendo, como manter nossa qualidade de vida com tantas informações e orientações que recebemos diariamente pelos mais diversos meios?
Em tempos de instabilidade como estamos vivendo com a pandemia do COVID-19, surgem inúmeras notícias falsas. A chegada de um novo vírus, relativamente novo para a população, faz com que as pessoas acreditem e repliquem informações falsas, sem atentar-se à fonte, e ainda, sem primeiro buscar saber se aquela informação é verdadeira, causando ainda mais pânico.
Até hoje (16/03/2020), segundo o Ministério da Saúde:
São Paulo (Estado). Secretaria de Estado da Saúde. Centro de Vigilância Epidemiológica. Sobre coronavírus. Acessado em 15 de março de 2020. Disponível aqui
Estudo sobre coronavírus aponta idade e problemas de coagulação como principais fatores de risco para morte. Acessado em 15 de março de 2020. El País. Disponível aqui
Brasil. Sociedade Brasileira de Infectologia. Informe da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) sobre o novo coronavírus. Atualizado em 12 de março de 2020. Acessado em 15 de março de 2020. Disponível aqui:
Brasil. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Infecção pelo Coronavírus SARS-CoV-2 em obstetrícia. Enfrentando o desconhecido!. Acessado em 15 de março de 2020.Disponível aqui:
Pandemia: Nutriz com coronavírus pode amamentar? Aleitamento.com. 1º portal de aleitamento no mundo em português. Acessado em 15 de março de 2020.Disponível aqui:
Maternal COVID-19. e-lactancia. Acessado em 15 de março de 2020. Disponível aqui:
Brasil. Agência Brasil. Saiba tudo sobre o novo coronavírus e a doença que ele provoca. Acessado em 15 de março de 2020.Disponível aqui:
Organização Mundial de Saúde: https://www.paho.org/bra/
Ministério da Saúde do Brasil: https://saude.gov.br/
Biblioteca Virtual em Saúde: http://brasil.bvs.br/
Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA: https://www.cdc.gov/
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Muito Bom este artigo.Me ajudou a entender mais detalhes.Tirou algumas dúvidas. Muito bom poder contar com o apoio de profissionais sérias e dedicadas como vcs.