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Aborto espontâneo: o que dizer depois de uma perda gestacional?

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A dor de perder um filho é dilacerante, assustadora, amarga, solitária, inesquecível. Não importa se o bebê se foi ainda no útero, com poucas ou muitas semanas de gestação, ou se já havia nascido quando voltou pro céu. A dor de quem perde não pode ser medida por quem está de fora.

Se você conhece uma pessoa ou família que passou por um perda, e quer ajudar, mas não sabe o que fazer, esse texto tem 10 dicas do que não dizer e 10 sugestões do que fazer para amenizar o sofrimento desta pessoa tão especial pra você, neste momento de luto. Seja após um aborto espontâneo, parto de um filho morto ou óbito neonatal, a empatia e o amor são sempre o melhor caminho para consolar uma família.

Perda gestacional

Não existem números exatos de perdas no Brasil. Foto ilustrativa: Px Here

Mas antes das dicas, você sabe o que significa cada um desses termos que compõem a perda gestacional? A morte de um bebê dentro do útero recebe nomes e tratamentos diferentes de acordo com a etapa da gravidez que acontece ou é descoberta. Neste texto, falaremos especificamente sobre abortamento precoce e abortamento tardio.

Aborto precoce

O aborto espontâneo é traduzido como a morte ou a ausência de sinais vitais de um embrião ou feto de até 20/22 semanas (ou 500 gramas), sem a interferência da gestante. O aborto espontâneo ou natural é mais frequente antes das 12 semanas ou do fim do primeiro trimestre e pode ser causado por inúmeros fatores, como a malformação ou o mal desenvolvimento fetal, uso de medicações contra indicadas para a gestação, descolamento de placenta ou de saco gestacional, em casos de gravidez ectópica ou até mesmo por causas desconhecidas. O processo pode se desenvolver espontaneamente ou precisar de intervenção médica.

Estima-se que 25% das gestações evoluem para um aborto no primeiro trimestre. Esse número, porém, pode ser muito maior, chegando a 50%. Isto porque muitas mulheres sofrem a perda gestacional antes da confirmação da gravidez.

Leia também:

Aborto espontâneo: o que é e o que causa a perda de um bebê

Aborto tardio

Depois da 21ª ou 23ª semana, o abortamento tardio passa a ser considerado uma morte fetal e o bebê será classificado como natimorto. Apesar do sentimento de dor da mãe serem os mesmo, ou equivalentes, já que não existe como medir a dor, os processos médicos-hospitalares e os direitos das gestantes não são iguais. As mulheres que passam por uma perda gestacional tardia têm direito à licença maternidade completa, incluindo o afastamento do trabalho, estabilidade no emprego por cinco meses e o pagamento do salário-maternidade.

Desde 2013, a certidão do nascimento também pode trazer o nome do bebê. Até então, apenas os nomes dos pais e a data da morte constavam no documento. Essa documentação faz toda a diferença no processo de elaboração do luto.

Luto: o que fazer e o que não fazer para ajudar

 

Foto ilustrativa: Px Here

Se você quer muito ajudar, veja dicas do que não dizer:

  1. Nunca despreze a dor de uma perda. Não importa quando ela aconteceu;
  2. Não compare um aborto espontâneo com a morte de um bebê mais velho. Filho é filho e perdê-los dói muito. Essa comparação não faz sentido;
  3. Não diga à mulher/ao homem que não fique triste;
  4. Não afirme que à mulher que ela pode engravidar outra vez, que ainda vai haver outros filhos. Você não sabe se ela quer engravidar novamente, nem se vai poder gerar;
  5. Não diga que foi só um embrião. NUNCA diga isso. Uma mulher que perde um bebê queria AQUELE bebê;
  6. Nunca diga nada como “pelo menos você está viva” ou algo similar;
  7. Não julgue a mulher nem questione se ela fez algo que pode ter resultado na perda. Apenas acolha a dor daquela família;
  8. Caso converse com a família, evite culpar o obstetra, a equipe médica, o hospital ou a forma de parto escolhida. Isso só agrava o sofrimento;
  9. Não diga para à mãe ou ao pai que eles têm que esquecer, superar, “deixa pra lá”. Não passou nem vai passar do dia pra noite. E nem precisa. Faz parte da história deles;
  10. O mais importante: se você disse ou agiu de alguma dessas formas e está arrependido, peça desculpas, diga que sente muito, que não queria agravar a dor.

Se você quer estar presente, veja dicas de como ajudar sem ser invasivo:

  1. Esteja disponível para o que aquela mulher/homem/família precisar;
  2. Dê espaço. Algumas mulheres/casais preferem ficar sós. Você não é o foco agora. Não force uma participação;
  3. Seja empático. Não julgue, não sinta pena;
  4. Se for íntimo e a família aceitar visitas, leve uma comida reconfortante;
  5. Pergunte à mulher como está o companheiro ou a companheira dela, caso tenha. Os parceiros também sofrem muito durante o aborto e o índice de divórcio é bastante alto após uma perda gestacional;
  6. Se o bebê já tinha nome, se refira a ele pelo nome quando tocar no assunto;
  7. Entenda que não foi culpa dela. Se puder, diga a ela que não foi culpa dela;
  8. A não ser que a mulher deteste flores, mande flores ou um vaso com uma plantinha;
  9. Caso ela queira doar as coisas que o bebê já tinha, pergunte se ela quer ajuda. Sugira a ela que guarde alguma recordação, caso isso não lhe faça mal;
  10. Esteja disponível para conversar, mas mostre que está tudo bem se aquela família não quiser falar. Se ela quiser, escute, deixe-a falar, chorar. Se não souber o que dizer, abrace.

Dica bônus: sugira ajuda especializada

Foto: Px Here

Após uma perda gestacional, é comum que tanto a mulher quanto o companheiro ou companheira e outros membros da família sintam uma sensação de tristeza profunda, de culpa e ansiedade. Pessoas com tendência à depressão podem ter o quadro agravado. Além do auxílio e tratamento da perda com o obstetra, é essencial o acompanhamento com psicólogo, psiquiatra e/ou da doula de luto.

Existem grupos de apoio à perda gestacional e neonatal, como o site Quem pode ajudar, que reúne endereços de profissionais, ONGs e espaços de apoio ao luto parental. O grupo Do luto à luta, criado pelas irmãs Clarissa Oliveira e Larissa Rocha Lupi. A ONG Amada Helena também faz um trabalho de sensibilização para o luto parental. A maioria desses grupos oferece suporte online.

>> Se você conhece outras histórias de superação, quer conhecer meu trabalho ou saber mais sobre gestação, parto e pós-parto, me segue pelo @luizafalcaodoula no Instagram ou clique aqui para ter acesso a informações exclusivas.  

Referências

Causas relacionadas ao aborto espontâneo: uma revisão de literatura http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/3300/1/Silvia%20Barbosa%20Mattos.pdf

Aborto e estigma: uma análise da produção científica sobre a temática https://www.scielosp.org/article/csc/2016.v21n12/3819-3832/

Aborto Espontâneo de Repetição e Atopia http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v25n5/16818.pdf

Estudo associa aborto espontâneo a maior risco de ataque cardíaco https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2010/12/101202_aborto_ataquecardiaco_mv

Abortamento espontâneo e provocado: ansiedade, depressão e culpa http://www.scielo.br/pdf/ramb/v55n3/v55n3a27.pdf

A perda gestacional é uma perda real e uma dor imensa: não a subestime

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Doula Luiza Falcão (Recife-PE)

Sou Doula de gestação, parto e pós-parto, apoiadora em aleitamento materno e aromaterapeuta em formação. Me tornei doula em 2016 e redescobri o universo da doulagem em 2017, depois de uma gravidez de risco que terminou num lindo [e longo] parto humanizado. Dandara veio ao mundo numa descida suave, na banqueta, depois de 18 horas de um parto com muitos  medos, muitos sorrisos e quase sem dor. Depois dela, veio a necessidade de me atualizar sempre, de oferecer algo sempre melhor. Ser doula me dá a oportunidade de cuidar, acolher, e oferecer suporte para nascimentos felizes e pós-partos transformadores. Cidades de atuação: Recife-PE, Olinda-PE. Instagram: @luizafalcaodoula Whatsapp: (81) 9.9209-9641 Facebook: /luizafalcaodoula Email: luizagfalcao@gmail.com

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