Carnavel chegando e a gente aproveita pra fazer o que mais gosta. Falar de parto! Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Eu te conto!
Podemos enxergar o mecanismo hormonal do trabalho de parto como um desfile de escola de samba, onde o mestre de bateria – o cérebro, predominantemente o cérebro primitivo ou sistema límbico – dita o ritmo e a cadência dos componentes e alas, a secreção dos hormônios, seu intervalo e a sua intensidade. O objetivo do mestre de bateria é criar uma harmonia perfeita entre os hormônios.
Quando deixamos esse processo fluir naturalmente, sem interfência externa, podemos vivenciar um desfile campeão! Imagine se alguém de fora resolve mudar o compasso do surdo, tamborim ou do repique? Não ia dar muito certo, né?
No parto é a mesma coisa, se deixamos o processo transcorrer naturalmente e a fisiologia natural operar, sem intervenções desnecessárias e ativando o menos possível o neocórtex (parte do cérebro responsável pelo raciocínio logico), o samba dos hormônios consegue seguir seu curso normal para um parto nota 10.
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São os trabalhadores que preparam o desfile, sua produção aumenta no início da gravidez até atingir um patamar que vai se manter ao longo de toda a gestação.
Assim como todo o trabalho de preparação durante o ano torna o desfile possível, a progesterona é responsável por manter a gestação, desde a implantação do embrião no útero, preparando o endométrio para recebê-lo e o seu desenvolvimento até o nascimento.
A progesterona também trabalha inibindo as contrações uterinas e relaxando a musculatura do útero durante a gravidez, evitando assim a expulsão precoce do feto, além de promover o desenvolvimento das glândulas mamárias onde será produzido o leite materno.
A produção de progesterona só cessa quando o bebê está pronto para nascer.
Sabe quando o puxador do samba chama a galera avisando que o desfile está prestes a começar? Assim funciona essa substância que parece hormônio mas não é.
O surfactante é um líquido que começa a ser produzido pelos pulmões do feto no terceiro trimestre da gestação. Este líquido preenche as células pulmonares do bebê – os pneumócitos -, que são como bolinhas de sabão, com uma membrana bem fininha.
Quando essas milhares de células estão maduras, começam a eclodir e soltam o surfactante que estava ali dentro. Quando liberado pelas vias aéreas do bebê, o surfactante entra em contato com o líquido amniótico, a placenta e claro, a corrente sanguínea da mãe.
Só aí o cérebro materno entende que pode começar o trabalho de parto, o que significa diminuir a produção de progesterona para começar a produzir prostaglandina!*
*Ainda não temos estudos afirmativos sobre exatamente o que inicia o trabalho de parto, mas as teorias mais aceitas pelos profissionais atualizados no tema apontam a relação da maturidade fetal, principalmente pulmonar.
O desfile está prestes a começar, está tudo pronto e o puxador do samba já deu o sinal! Aí rola aquele esquenta gostoso, o mestre de bateria começa a puxar umas batidas, os componentes da bateria vão se soltando, a gente já escuta timidamente o tamborim e a cuíca!
Assim agem as prostaglandinas, substâncias lipídicas que agem de maneira similar a hormônios e que vão preparar o colo do útero, amolecer, afinar e possibilitar a dilatação. Sua liberação é acentuada numa fase que chamamos de pródromos.
Podemos considerar os pródromos como um falso trabalho de parto, algumas mulheres nem chegam a sentir, mas outras tantas sentem contrações doloridas e podem até pensar que já estão em trabalho de parto. Pródromos muito prolongados podem ser extremamente cansativos para a mulher, então é importante descansar bastante nessa fase, tomar um banho quente bem longo, o que pode ajudar a amenizar a dor e inclusive cessar as contrações.
Uma curiosidade: as prostaglandinas estão presentes no sêmen, por isso não estranhe se alguém te disser que relações sexuais podem ajudar a induzir o parto. Mas só vale se for sexo com ejaculação e é importante que você não esteja com a bolsa rompida pelo risco de infecções.
Se o cérebro é o mestre de bateria, podemos considerar a ocitocina a rainha! Ela vai a frente da bateria apresentando seus componentes e honrando o desfile.
É o hormônio mais importante do trabalho de parto, visto que ela é a responsável pelas contrações uterinas, por terminar a dilatação e expulsar o feto e a placenta ao final do parto. Além disso é também responsável pelo reflexo de ejeção do leite na amamentação.
Conforme o desfile avança, o mestre de bateria, que é o nosso cérebro, vai determinando a cadência da liberação de ocitocina, que é cada vez maior em intensidade e ritmo – para produzir contrações mais fortes e menos espaçadas – até atingir o seu ápice que é a fase expulsiva, onde as contrações são muito intensas e quase não há intervalo entre elas.
Mas assim como uma rainha de bateria não faz um desfile de sucesso sozinha, podemos destacar outros hormônios que se associam a ocitocina durante um trabalho de parto que opera naturalmente; são todos aqueles componentes que a gente não vê no desfile, mas que tem total importância no resultado final, a galera que empurra os carros, o diretor de harmonia, o coreógrafo.
Se associa a ocitocina ajudando nas contrações. É conhecido como o hormônio do escuro, já que sua produção se intensifica a noite e cai consideravelmente durante o dia ou em ambientes muito iluminados. Isso explica porque a maioria dos trabalhos de parto se inicia a noite ou de madrugada, quando os níveis de melatonina são mais altos, e também nos faz entender porque manter um ambiente com pouca luminosidade é desejável durante o parto.
Funcionam como um analgésico natural e ajudam a aliviar as dores das contrações, conforme se intensifica a produção de ocitocina, também aumenta a produção das beta-endorfinas. As altas concentrações deste hormônio no momento mais intenso do parto geram um estado de consciência alterado na parturiente, é aquele momento conhecido como “partolândia” e algumas mulheres podem até parecer dopadas e muitas não conseguem se lembrar desta parte do parto ou tem lembranças confusas.
É o hormônio liberado em resposta ao stress, que nos deixa no estado de “luta ou fuga”, quando todos os nossos sentidos se intensificam. Não é um hormônio desejado ao longo do trabalho de parto porque bloqueia a produção de ocitocina e por isso é ideal mantermos um ambiente tranquilo e sem perturbações para a parturiente, mas ao final do período de transição e inicio do período expulsivo é liberado dando aquela força final que a mulher precisa para parir e estar alerta para cuidar do bebê.
Hormônio que produz relaxamento das articulações da bacia, promovendo a flexibilidade necessária para o parto por afrouxar a junção entre os ossos da bacia, alargando o canal por onde o bebê vai passar. Podemos dizer que a relaxina é o componente que permite a abertura dos portões para que toda a escola possa passar para chegar a apoteose, que é o tão esperado nascimento do bebê.
É o hormônio responsável pela produção do leite materno nas glândulas mamárias e passa a ser produzido em grande quantidade após a saída da placenta e o final do parto. Junto com a ocitocina, que é responsável pelo ejeção do leite, são os dois principais hormônios que possibilitam a amamentação.
Deu pra entender a complexidade desse perfeito samba dos hormônios? É isso tudo que acontece com o corpo de um mulher em trabalho de parto quando sua fisiologia natural é respeitada.
É claro que a equipe médica estará lá para avaliar se está tudo correndo bem com a mãe e o bebê durante todo o processo e intervir em caso de necessidade.
Mas na grande maioria dos casos, se deixarmos as coisas seguirem seu curso natural e oferecermos um ambiente seguro (xô adrenalina!), pouco iluminado (alô melatonina!) e sem interferências e comunicação desnecessária com a parturiente, é possível atingir um estado de “desligamento” do neocórtex cerebral e deixar o cérebro primitivo agir, proporcionando a harmonia perfeita para um desfile, ops parto, nota 10!
Por isso que se preparar para o parto e saber tudo que vai acontecer com o seu corpo e o que esperar de cada momento é tão importante e se você quer se preparar melhor e saber sobre rodas de preparação para o parto na Zona Norte de São Paulo, CLIQUE AQUI
Adaptações fisiológicas do período gestacional
Parto Ativo – Guia prático para o parto normal, Janet Balaskas. Editora Ground, 2017.
A cientificação do amor, Michel Odent. Editora Terceira Margem, 2005.
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