Existe tanta conversa sobre o parto normal, mas sempre fica a dúvida sobre o que é verdade e o que é mentira. Hoje vou te dizer 15 Verdades e Mentiras sobre o Parto Normal de uma forma bem simples. Confere a lista abaixo!
Só usando informações de qualidade é que se pode escolher com clareza a forma de cuidar de si enquanto traz um filho ao mundo.
1. “Parto Normal dói muito”. Essa é uma questão de percepção. O modo que a pessoa enxerga e sente o parto é diferente de acordo com seu contexto. Há pessoas que passam pelo nascimento tranquilamente, sentindo desconfortos, dores, mas de forma positiva. Não é um sofrimento. Há quem passe por um pedacinho do trabalho de parto e já ache a maior tortura do mundo. Se informar sobre a fisiologia do trabalho de parto, técnicas para lidar com ele e ter apoio positivo e boa assistência formam o quarteto perfeito para uma experiência positiva no nascimento. Além da percepção individual, quem está ao redor faz a diferença – para melhor ou pior. Escolha com cuidado.
2. “Parto Normal ‘afrouxa’ a vagina”. Quando se fala em “afrouxar vagina”/”deixar larga” estamos falando da musculatura do assoalho pélvico (MAP), um conjunto de músculos que sustenta os órgãos do abdômen, como bexiga, útero e intestino. Ao dizer “vagina frouxa” significa que o MAP está enfraquecido (é um músculo: exercita, fica forte de novo). Não é como a gola de uma camisa que perde a elasticidade e não volta. É um músculo que precisa de exercícios para se fortalecer. O que dizem os estudos? I – A gestação em si influencia a musculatura do assoalho pélvico, independente de parto normal ou cesárea, por isso tanta gente falando atualmente em ginástica íntima, fisioterapia íntima. II – Os estudos não chegaram a um consenso sobre a influência da via de nascimento sobre o assoalho pélvico. Alguns dizem que não há diferença entre cesárea e parto normal e outros que afirmam que as mulheres que passaram pelo normal tiveram uma perda maior. III – Estudos mostram que a episiotomia está associada a disfunções da MAP, inclusive perda da força. A reflexão que eu trago é: os estudos que consideram a perda de força após o parto normal consideram as experiências particulares, como uso de intervenções a exemplo da episiotomia, manobra de Kristeller, posição de litotomia e puxo dirigido? Pois são condutas não favoráveis e que sobrecarregam o corpo que está a parir.
3 “O bebê rasga tudo no Parto Normal”. Não mesmo. O “rasgar” quando o bebê passa pelo canal vaginal se chama laceração. Existem 4 graus de laceração, sendo o grau I o mais superficial e o grau IV o mais sério. Já se sabe que quando o bebê nasce em um parto normal bem assistido, a chance de laceração é pequena e, quando acontece, normalmente é o grau I ou II. Porém, quando se tem uma má assistência, com profissionais que ficam acelerando o parto, a chance de sofrer laceração é maior – inclusive as de graus mais elevados.
4. “Precisa cortar a vagina no parto normal”. Não precisa! O uso da episiotomia não traz melhoras no bem estar da mulher e do bebê, sendo prejudicial a saúde da mulher em especial. Existem profissionais que dizem que fazem a episiotomia pra “rasgar menos” ou alegam que “é mais fácil costurar”. Não é bem assim. A episiotomia já é uma laceração de grau II, e ela não impede lacerações. Se o profissional do teu pré-natal defende episiotomia e usa “só quando precisa” (vai precisar sempre), é provável que ele use mais outras intervenções pra “ajudar o bebê a sair logo”.
5. “Parto normal é mais seguro que a cesárea”. Verdade! É isso: parto normal é, em via de regra, mais seguro para mulher e bebê. Existem casos em que ele não é viável? Sim, em menos de 15% dos nascimentos a cesárea é bem indicada, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Na esmagadora maioria das vezes, o parto normal é, de cara, a melhor opção. E ainda em situações em que ele não é viável, esperar o trabalho de parto iniciar é mais indicado do que agendar uma cesárea, por exemplo.
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6. “Quem tem gravidez de alto risco não pode ter parto normal”. Mito! A gravidez de alto risco indica que a pessoa grávida precisa de mais atenção na gestação, parto e pós-parto. Ponto. Isso não impede o parto normal, inclusive é o mais indicado na maioria das vezes. Situações de saúde em que o parto normal ainda é a melhor opção, mas são popularmente conhecidos como “indicação de cesárea”: pressão alta, diabetes gestacional, gravidez gemelar, “bebê grande” (se referindo a bebê com mais de 3,5kg).
7. “Cordão enrolado no pescoço é indicação de cesárea”. Não. O cordão não estrangula o bebê, o bebê respira pelo cordão (e não pelo nariz) até a saída total da vulva. Por exemplo, se o bebê nascer na piscina, ele continua respirando pelo cordão umbilical até ser tirado da água. Mas o que acontece quando o bebê tem o cordão enrolado no pescoço? O profissional que assistir ao parto pode desenrolar enquanto o bebê está saindo ou após a saída do bebê.
8. “Mulher com HPV pode ter parto normal”. O HPV não impede o parto normal, a menos que a condição esteja obstruindo o canal vaginal. O contágio em si não é uma questão decisiva na via de parto, porque a cesárea não impede a transmissão do HPV pro bebê. E se você pensou “eita, pensei que era HIV” saiba que sim, em algumas situações é possível ter parto normal mesmo com HIV.
9. “Parto normal demora muito”. Demora mais do que as 2 h de uma cesárea, realmente. Segundo as Diretrizes de Assistência ao Parto Normal, a duração do parto normal em fase ativa (a partir de 4 cm, com contrações efetivas e regulares) normalmente não é menor do que 8h e nem maior do que 18h. Lembrando que o parto não é dor e sofrimento da primeira contração até a última. Conhecer a fisiologia do parto ajuda demais nesse processo.
10. “Bebê sentado pode nascer de parto normal”. Poder, pode, mas você precisa de assistência profissional especializada nisso. Entre um parto normal pélvico com equipe que não sabe assistir e uma cesárea, a recomendação é uma cesárea. Entre um parto normal pélvico com equipe capacitada e uma cesárea, a recomendação é um parto pélvico. (Leia mais aqui)
11. “Parto normal humanizado é um parto normal em casa”. Não. Um parto normal humanizado é um parto com assistência bem dada, baseada em evidências científicas, respeitando a autonomia da pessoa grávida. Inclusive, dentro da humanização tem espaço pra tudo: normal, natural, cesárea com indicação médica, hospitalar, domiciliar e em casa de parto.
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12. “Quem tem cesárea não pode ter parto normal”. Entre uma nova cesárea e um parto normal, o parto normal continua a melhor opção. Existem profissionais que ficam mais receosos quando se tem duas cesáreas ou mais, mas ainda assim a conduta profissional é individual. Quanto mais cesáreas, maiores as chances de complicações na gestação vivida, no nascimento vivido e nas gestações seguintes.
13. “Não teve passagem na primeira gravidez, não vai ter na segunda”. O que acontece em uma gestação não é obrigatório acontecer na seguinte. Cada gestação é única! No Brasil, mais de 50% dos bebês nascem por cesárea, uma das maiores desculpas é que a gestante “não tem passagem” – algumas vezes, dito já durante a gravidez! A “falta de passagem” só é descoberta no final do trabalho de parto, quando a mulher está com dilatação total há mais de 3h, com todas as técnicas para posicionamento e descida testados e a avaliação de uma desproporção céfalo-pélvica, ou seja, a cabeça do bebê não passará pelo osso da pelve da mãe.
14. “É possível provocar o trabalho de parto”. É verdade! Quando, por algum motivo, é preciso que o bebê nasça, é possível estimular o trabalho de parto normal. Podem ser usadas técnicas desde não medicamentosas, como a acupuntura, até as que usam fármacos, como a ocitocina (último caso). Com a assistência de profissional da saúde, você tem acesso a descolamento de membrana, uso de comprimido via vaginal para indução, sonda foley e ocitocina. As induções levam dias para fazer efeito e estimular o início do trabalho de parto. Desde que bem monitoradas, está tudo bem.
15. “A mulher sabe parir, o bebê sabe nascer”. Verdade. Mas somos seres sociais e culturais, então o que vemos e ouvimos sobre nascimento influencia a nossa forma de viver o parto. Se eu vejo e ouço partos normais com mulheres deitadas o tempo inteiro, empurradas, amarradas, cortadas, com
fome, como eu vou descobrir que no meu trabalho de parto eu posso ficar em casa até as contrações pegarem ritmo, posso comer, andar, dançar, dormir, posso parir em pé, de quadro, de cócoras? Se informando e tomando poder de decisão para si. Lógico que quando a equipe observa uma necessidade de intervenção, é preciso ouvir, porém saber que alguns discursos não são justificáveis salva muitas mulheres e crianças de condutas desnecessárias: como colírio de nitrato de prata em filhos de mulheres saudáveis, ou aspiração de vias superiores em bebês que nasceram bem, ou ainda a manobra de Kristeller para empurrar bebês para fora do útero – e até mesmo uma cesárea porque “o bebê está passando da hora”.
Para pessoas que desejam se informar e se sentir mais seguras sobre gestação, nascimento e cuidados após o nascimento, busquem rodas de conversa na sua região. Se informar faz toda a diferença na gravidez, parto e pós-parto.
Se você é de Recife ou região, e está em busca de uma doula clica aqui para falar comigo.
Se você quer ter seu parto normal pelo plano de saúde, acessa aqui o site da Agência Nacional de Saúde e confira as taxas de parto normal realizados pelo seu plano! Olha o spoiler: é assustador.
Referências:
Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado. Fundação Perseu Abramo. (Clique aqui)
Episiotomia seletiva: avanços baseados em evidências. Cynthia Carvalho, Alex Souza, Olímpio Filho. (Clique aqui)
Força muscular do assoalho pélvico em primíparas segundo o tipo de parto: estudo transversal. Edilaine Mendes, Sonia Oliveira, Adriana Caroci, Adriana Amorim Francisco, Sheyla Guimarães, Renata Luana da Silva. (Clique aqui)
Existe alteração na função dos músculos do assoalho pélvico e abdominais de primigestas no segundo e terceiro trimestre gestacional? Ana Silvia Moccellin,Mariana Tirolli Rett, Patricia Driusso. (Clique aqui)
Declaração da OMS sobre taxas de cesáreas. Organização Mundial de Saúde. (Clique aqui)
Diretrizes de Assistência ao Parto Normal. Ministério da Saúde. (Clique aqui)
Indicações de cesariana baseadas em evidências científicas: parte I. Melânia Amorim, Alex Souza, Ana Maria Porto. (Clique aqui)
Indicações de cesariana baseadas em evidências científicas: parte II. Melânia Amorim, Alex Souza, Ana Maria Porto. (Clique aqui)
Condições frequentemente associadas com cesariana, sem respaldo científico. Melânia Amorim, Alex Souza, Ana Maria Porto. (Clique aqui)
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